Oleg Gordievsky, ex-coronel da KGB e um dos mais valiosos espiões britânicos durante a Guerra Fria, faleceu aos 86 anos em sua residência em Surrey, na Inglaterra, no dia 4 de março de 2025. As autoridades britânicas informaram que não há indícios de circunstâncias suspeitas relacionadas ao óbito.
Sua morte foi anunciada publicamente nesta sexta-feira (21). A demora na divulgação ocorreu devido à necessidade de notificar familiares e amigos próximos, além de procedimentos legais e administrativos padrão.
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Da KGB ao MI6: a jornada de um agente duplo
Nascido em Moscou, em 1938, Gordievsky cresceu em uma família ligada à KGB, seguindo os passos de seu pai e irmão mais velho ao ingressar na agência de inteligência soviética. No entanto, sua visão sobre o regime começou a mudar com eventos como a construção do Muro de Berlim, em 1961, e a repressão à Primavera de Praga, em 1968, quando era oficial da KGB na Dinamarca.
Em 1972, Gordievsky foi recrutado pelo MI6, a inteligência britânica, tornando-se um agente duplo sob o codinome "Sunbeam". Durante anos, ele forneceu informações estratégicas ao Reino Unido, enquanto ascendia na hierarquia da KGB, até se tornar chefe da estação da agência soviética em Londres, no início da década de 1980.
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Alerta sobre uma possível guerra nuclear
Um dos momentos mais críticos de sua atuação ocorreu em 1983, quando alertou o governo britânico sobre o crescente temor do Kremlin de que a OTAN preparava um ataque nuclear preventivo contra a União Soviética. Essa paranoia levou Moscou a considerar um ataque nuclear preventivo contra o Ocidente.
Gordievsky informou ao MI6 que o exercício militar da OTAN "Able Archer 83" estava sendo interpretado pelos soviéticos como uma possível preparação para um ataque real, o que poderia ter levado a uma guerra nuclear. Com base nessas informações, os EUA e seus aliados recuaram, evitando uma escalada perigosa.
Traição e fuga cinematográfica para o Reino Unido
A carreira de Gordievsky como espião britânico entrou em risco em 1985, quando foi delatado pelo agente duplo da CIA, Aldrich Ames, e convocado de volta a Moscou. Ao chegar, foi interrogado e colocado sob vigilância da KGB, mas ainda sem provas concretas de sua traição.
Sabendo que sua execução era apenas uma questão de tempo, ele conseguiu ativar um plano de fuga elaborado pelo MI6. Durante um jogging matinal, ele despistou seus vigilantes e foi resgatado por agentes britânicos, que o levaram clandestinamente até a fronteira com a Finlândia, de onde foi transportado para o Reino Unido.
No Reino Unido, ele recebeu proteção e uma nova identidade, vivendo discretamente em Godalming, Surrey.
Reconhecimento e vida após a espionagem
Após sua fuga dramática, Gordievsky passou a atuar como consultor de segurança e escritor, publicando livros sobre os bastidores da KGB e da Guerra Fria. Em 2007, foi condecorado pela Rainha Elizabeth II com a Companion of the Most Distinguished Order of St Michael and St George (CMG), em reconhecimento aos seus serviços à segurança britânica.
Sua vida após a deserção, no entanto, foi marcada pela solidão e vigilância constante. Apesar da proteção britânica, ele temia ser envenenado por agentes russos, assim como ocorreu com Alexander Litvinenko, outro ex-agente da inteligência russa que foi assassinado com polônio-210 em Londres, em 2006.
Legado e impacto histórico
Oleg Gordievsky é amplamente reconhecido como um dos mais importantes espiões da Guerra Fria. Seu trabalho foi fundamental para a segurança do Ocidente e ajudou a evitar um conflito nuclear no período mais tenso das relações entre Estados Unidos e União Soviética.
Ele deixa duas filhas, Maria e Anna, fruto de seu casamento com Leila Aliyeva, com quem se casou em 1979.
Gordievsky será lembrado como um dos mais corajosos desertores do regime soviético e um dos principais agentes duplos da história da espionagem moderna.
Com informações do The Guardian