BAIXAS EXPECTATIVAS

Geração sem esperança? Maioria das pessoas não acredita que seus filhos terão uma vida melhor

Crise de confiança e insegurança econômica marcam o cenário global e brasileiro, aponta Edelman Trust Barometer 2025

Geração sem esperança? Maioria das pessoas não acredita que seus filhos terão uma vida melhor.Crise de confiança e insegurança econômica marcam o cenário global e brasileiro, aponta Edelman Trust Barometer 2025.Créditos: Agência Brasil (Fernando Frazão)
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O Edelman Trust Barometer 2025, um dos mais abrangentes estudos sobre confiança nas instituições, aponta para um cenário alarmante de descrença global em governos, empresas, mídia e ONGs, além de um pessimismo crescente quanto ao futuro econômico das novas gerações.

Realizado pelo Edelman Trust Institute, o estudo entrevistou 33 mil pessoas em 28 países e revelou que 56% dos entrevistados acreditam que seus filhos terão uma vida pior do que a deles, marcando o pior índice registrado na história da pesquisa.

A percepção de que o mundo está cada vez mais instável, com desigualdade social crescente, polarização política e incertezas econômicas, tem contribuído para a erosão da confiança das pessoas em suas instituições e na capacidade de seus países de garantir um futuro melhor para as novas gerações.

Cenário brasileiro: confiança baixa e temor pela próxima geração

O Brasil reflete essa tendência global de desconfiança. O país registrou queda na expectativa de melhoria de vida, insegurança econômica e um nível de confiança desigual entre as instituições.

A pesquisa revelou que apenas 55% dos brasileiros acreditam que seus filhos terão uma vida melhor do que a deles, um índice relativamente alto se comparado a países desenvolvidos, mas que reflete uma tendência negativa.

O dado representa uma queda na confiança na mobilidade social, impulsionada por:

  • Baixo crescimento econômico e dificuldades na geração de empregos de qualidade.
     
  • Aumento da desigualdade social, ampliando a distância entre ricos e pobres.
     
  • Crise na educação e qualificação profissional, dificultando o acesso a melhores oportunidades.

O Brasil apresenta um nível de esperança maior do que países desenvolvidos, como Estados Unidos (41%), França (34%) e Japão (30%), mas ainda inferior a economias emergentes como Índia (74%) e China (72%).

Confiança no Brasil: empresas superam governo e mídia

A pesquisa mostrou que, assim como no cenário global, a confiança dos brasileiros nas instituições é baixa e está em queda, com a mídia e o governo sendo os setores menos confiáveis.

Índice de Confiança no Brasil por Instituição:

  • Empresas: 60%
     
  • ONGs: 54%
     
  • Governo: 44%
     
  • Mídia: 42%

A desconfiança no governo atinge 56% da população, que enxerga a administração pública como ineficaz na resolução de problemas econômicos e sociais.

Já a mídia continua em declínio de credibilidade, com 58% dos brasileiros afirmando que os veículos de comunicação priorizam interesses políticos e econômicos em vez de informar com isenção.

Por outro lado, as empresas seguem como a instituição mais confiável, com 60% de aprovação, mas sob pressão para assumir maior responsabilidade social e econômica.

Insegurança no mercado de Trabalho

Outro dado preocupante no Brasil é a incerteza econômica e a insegurança no mercado de trabalho:

  • 67% dos brasileiros temem perder seus empregos nos próximos anos devido à automação e às crises econômicas.
     
  • 59% acreditam que não estão preparados para as novas exigências do mercado, o que reforça a necessidade de maior investimento em educação e qualificação profissional.

Tendências globais: desigualdade crescente e queda na confiança

O Edelman Trust Barometer 2025 também revelou tendências preocupantes no cenário global, com a queda generalizada na confiança e o aumento do ceticismo em relação ao futuro econômico.

Ranking Global de Expectativa de Melhoria de Vida por País

Percentual da população que acredita que seus filhos terão uma vida melhor do que a deles:

  • Indonésia – 76%
     
  • Índia – 74%
     
  • China – 72%
     
  • Arábia Saudita – 65%
     
  • Emirados Árabes Unidos – 63%
     
  • Tailândia – 58%
     
  • México – 57%
     
  • Brasil – 55%
     
  • África do Sul – 54%
     
  • Estados Unidos – 41%
     
  • Canadá – 39%
     
  • Alemanha – 38%
     
  • Reino Unido – 35%
     
  • França – 34%
     
  • Japão – 30%

Os países mais otimistas são Indonésia, Índia e China, enquanto as nações desenvolvidas demonstram os menores índices de confiança na melhoria de vida para as próximas gerações.

Nos Estados Unidos, a percepção de que os filhos terão um futuro melhor caiu para 41%, refletindo a polarização política, a desigualdade crescente e a sensação de estagnação econômica.

Eleições e confiança no governo

As eleições em 13 países nos últimos 12 meses não foram suficientes para restaurar a confiança no governo. Apenas Argentina (+9 pontos) e África do Sul (+4 pontos) registraram uma melhora significativa nesse indicador.

Aprofundamento da desigualdade

O estudo aponta que a desigualdade social está ampliando a crise de confiança. Nos 28 países analisados, os entrevistados de baixa renda demonstram 12 pontos a menos de confiança em comparação com os mais ricos.

A insegurança econômica também se reflete no temor pelo desemprego:

  • 62% dos trabalhadores globais dizem estar preocupados com a perda de seus empregos devido à automação, concorrência internacional e crises econômicas.

O papel das empresas

Apesar da crise de confiança, as empresas continuam sendo a instituição mais confiável globalmente, com 62% de aprovação.

Entretanto, 80% dos entrevistados acreditam que as corporações têm a obrigação de gerar empregos e investir na qualificação de seus trabalhadores para manter a estabilidade econômica.

Juventude mais radical

A aprovação de "ativismo radical" como forma de pressionar mudanças sociais cresceu drasticamente. 

  • 40% dos entrevistados dizem apoiar ações como ataques online, disseminação intencional de desinformação e até violência física e danos a propriedades para impulsionar causas políticas ou sociais.
     
  • Entre os jovens de 18 a 34 anos, esse índice sobe para 53%, refletindo um descontentamento crescente com o sistema atual.
     
  • Além disso, 70% da população acredita que governos e empresas deliberadamente enganam o público.

Desafios e caminhos para a reconstrução da confiança

O Edelman Trust Barometer 2025 confirma que o mundo atravessa uma profunda crise de confiança, impulsionada pela polarização política, desigualdade econômica e disseminação de desinformação.

Para restaurar a credibilidade das instituições, o estudo sugere três caminhos principais:

  • Redução da desigualdade social, garantindo acesso a melhores oportunidades para todos.
     
  • Aumento da transparência e compromisso ético por parte de governos, empresas e mídia.
     
  • Maior cooperação entre setores para reconstruir a confiança da população nas instituições.

O relatório destaca que, sem ações concretas, a percepção de um futuro pior para as novas gerações pode se tornar uma realidade, aprofundando a crise social e econômica global.

No Brasil, os desafios incluem a necessidade de crescimento sustentável, qualificação profissional e redução da desigualdade, garantindo que o país retome uma trajetória de desenvolvimento e confiança no futuro.

Leia aqui o relatório completo (em inglês)

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