Basta aparecer um fato, que os grupos bolsonaristas se mobilizam para criar uma teoria da conspiração para chamar de suas. É o que está havendo em meio à despedida de Francisco, o "papa comunista", que morreu na madrugada desta segunda-feira (21) e virou alvo de desdém de Jair Bolsonaro (PL) e ataques da horda de seguidores radicais.
Enquanto o mundo se comove com a partida de Mario Jorge Bergoglio, as hostes de apoiadores do ex-presidente brasileiro estão divulgando em grupos uma tese racista e contraditória sobre a sucessão papal.
Te podría interesar
A teoria da conspiração bolsonarista é baseada em uma profecia medieval, atribuída a São Malaquias, que lista 113 frases curtas cifradas em latim que supostamente descreveriam, cada uma, um futuro Papa da Igreja Católica, iniciando com o Papa Celestino II.
Em interpretações de grupos católicos, especialmente ligados a alas conservadoras, as profecias do abade irlandês, canonizado em em 1199 pelo Papa Clemente III, terminariam no sucessor de Francisco, que receberia o nome de "Petrus Romanus" (Pedro, o Romano) e levaria ao fim Igreja Católica - ou dos tempos, como outros acreditam.
Te podría interesar
"Alguns estudiosos interpretam que esse último papa será o Papa Negro ou estará de alguma forma ligado aos Jesuítas", diz um texto distribuído no grupo Águia, que reúne mais de 21 mil bolsonaristas radicais no Telegram.
"O Papa Negro representaria um falso papa, alguém infiltrado ou que lideraria a Igreja à apostasia (heresia total). Ele estaria relacionado a uma Nova Ordem Mundial, sendo o elo entre política global, finanças e religião", segue, de forma racista, a teoria da conspiração no grupo de apoiadores do ex-presidente.
Em outra publicação, os bolsonaristas dizem que "Janja surtou com o novo papa e jornalista chorou depois da notícia", elegendo um novo pontífice antes sequer de iniciar o conclave, em publicação que mostra a esposa de Lula e os jornalistas William Bonner e Renata Vasconcellos, apresentadores do Jornal Nacional.
No entanto, a publicação entra em choque com a primeira e causa um bug na cabeça dos bolsonaristas.
Segundo a publicação, o "novo papa" seria o cardeal africano Robert Sarah. Nascido na Guiné, Sarah chegou ao posto de cardeal aos 34 anos, alçado pelo polonês Karol Wojtyla, o papa João Paulo II, um crítico ferrenho do "comunismo".
Indicado como o "anticristo", que levará ao fim a Igreja Católica, o cardeal africano tem um perfil alinhado à ultradireita neofascista, que aposta em sua eleição no conclave.
Prefeito-emérito da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos do Vaticano, que cuida da regulamentação da liturgia e dos sacramentos, Sarah escreveu sete livros, um deles em parceria com Joseph Aloisius Ratzinger, o papa Bento XVI, antecessor de Francisco.
Embora as teorias da conspiração quanto ao futuro papa sejam conflitantes, todos os radicais bolsonaristas concordam em uma questão: Francisco era "comunista".