A cidade de Nova York, mais importante destino para visitantes dos Estados Unidos, deve receber 2 milhões de turistas a menos que o previsto em 2025, de acordo com o escritório local de turismo.
Um dos motivos: o tarifaço de Donald Trump e a política anti-imigração causaram repúdio ou temor em quem pretendia visitar a cidade.
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O verão no Hemisfério norte, que começa em 20 de junho, marca a alta temporada.
As notícias sobre ações arbitrárias da polícia de imigração dos EUA, o Immigration and Customs Enforcement (ICE), repercutiram no mundo.
Em março, um cientista francês foi impedido de entrar no país depois que agentes encontraram mensagens no celular dele que consideraram agressivas em relação ao presidente Donald Trump.
Os policiais de fronteira, que também atuam nos guichês de aeroportos, tem o direito de bisbilhotar bagagem e aparelhos eletrônicos de visitantes.
Xenofobia, fake news e violação de leis
A xenofobia foi um dos pilares da campanha de Trump para voltar à Casa Branca. Ele superestimou os crimes violentos cometidos por imigrantes ilegais com o objetivo de promover "deportação em massa".
O candidato chegou a espalhar fake news de que imigrantes estavam consumindo animais de estimação de estadunidenses. Mentiu sobre a entrada organizada de milhares de pessoas que teriam sido soltas de presídios e hospícios de vários países, chegando a citar a Venezuela e o Congo -- neste último caso aliando um subtexto racista à xenofobia.
Repetindo: tudo fake news!
Trump prometeu dar prioridade à deportação de criminosos, mas na ausência deles o ICE tem agido livremente para deportar qualquer pessoa que não esteja com os documentos em dia.
Até três crianças estadunidenses, uma delas sofrendo de câncer com metástase, foram deportadas para Honduras com as mães sem processo legal.
Por 9 votos a 0, a Suprema Corte dos Estados Unidos decidiu que o governo Trump deve trazer de volta o salvadorenho Kilmar Armando Abrego Garcia, deportado ilegalmente como integrante de gangue para a notória prisão do Centro de Confinamento do Terrorismo (CECOT), em El Salvador.
A prisão é alvo de dezenas de denúncias de violações de direitos humanos.
Até agora, o governo Trump descumpriu decisões judiciais a respeito, alegando que não tem soberania em El Salvador.
Trump, por sua vez, disseminou uma foto claramente adulterada em que a tatuagem MS-13 aparece nos dedos de Abrego Garcia.
MS-13 é o nome de uma das gangues de El Salvador.
A lista de tatuagens
Trump está recorrendo a uma série de leis antigas para violar os direitos dos imigrantes. Mesmo os ilegais presos ao entrar nos Estados Unidos teriam direito a uma audiência na Justiça.
O governo está usando, por exemplo, a mesma legislação que permitiu aos Estados Unidos colocar japoneses e descendentes em campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial.
Argumenta também que foi alvo de uma "invasão" do Bonde de Arágua, uma facção criminosa da Venezuela, um exagero que abre portas para violar as leis.
O ICE chegou a montar um sistema de pontos para justificar as expulsões extraordinárias. Os pontos podem ser atribuídos pela existência de tatuagens ou postagens do suspeito nas redes sociais com roupas atribuídas a integrantes de gangues.
Um exemplo bizarro: o ICE argumenta que integrantes da gangue MS-13 gostam de usar bonés ou camisetas da equipe de basquete do Chicago Bulls. Com base na tabela do ICE, completamente subjetiva, o imigrante que receber 8 pontos pode ser deportado mesmo sem passagem pela polícia.
Sumiram em El Salvador
Foi assim que Andry Hernández foi parar no presídio de segurança máxima de El Salvador. O venezuelano, que as autoridades acusam de ser integrante do Bonde de Arágua, tem tatuagens de coroa nos dois braços, cobrindo os nomes do pai e da mãe.
A coroa é o símbolo do Dia dos Reis na cidade venezuelana de Capacho Nuevo, de onde Hernández é originário.
Outro venezuelano, Jerce Reyes Barrios, também acabou em El Salvador por causa de uma tatuagem. No caso dele, a tatuagem de coroa no braço é relacionada ao Real Madrid. Jerce é ex-jogador de futebol e fã do clube espanhol.
Autoridades estadunidenses estão considerando como símbolos ligados a gangues tatuagens de coroas, estrelas nos ombros, relógios, o símbolo dos illuminati e imagens de rosas. Também estão na lista o símbolo do jumpman da Nike e o número 23 das camisetas que Michael Jordan e LeBron James tornaram famosas no basquete estadunidense.
Porém, a jornalista Ronna Rísquez, autora de um livro sobre o Bonde de Arágua, diz que diferentemente de outras facções do planeta as venezuelanas não usam tatuagens para identificar seu integrantes.
Ou seja, pode ser tudo fruto da imaginação de autoridades que pretendem cumprir as metas de Trump para deportar em massa.