Donald Trump passou semanas chamando o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, de "governador" do estado de número 51 dos Estados Unidos.
Quando Trudeau renunciou, depois de quase dez anos no poder, deixando também a liderança do Partido Liberal, a extrema-direita celebrou como vitória de Trump.
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No início de 2025, uma pesquisa colocou o Partido Conservador em vantagem de 45% a 16% sobre os liberais, de centro-esquerda.
As ameaças de Trump e o tarifaço imposto ao vizinho pela Casa Branca, no entanto, foram responsáveis por uma virada improvável sobre o Partido Conservador, cujo líder Pierre Poilievre perdeu inclusive sua cadeira no Parlamento.
O colunista Anthony Zurcher, da BBC, registrou seu espanto com o resultado das eleições de 28 de abril, quando o Partido Liberal garantiu um quarto mandato consecutivo, desta vez sob Mark Carney:
Até então, o Partido Conservador de Pierre Poilievre ocupava o que parecia ser uma posição intransponível nas pesquisas de preferência dos eleitores, em meio à insatisfação geral com a situação da economia canadense e os 10 anos de governo liberal sob Justin Trudeau. O último ano foi devastador para os governos em exercício em todo o mundo, com partidos de todo o espectro político perdendo terreno ou controle absoluto – EUA, Reino Unido, Japão, Alemanha, França e Índia estão entre os exemplos proeminentes.
Carney fez uma campanha com tons nacionalistas, prometendo peitar Trump. Dentre as ofensas proferidas por Trump aos canadenses estão as declarações de que os EUA não precisam de nada que é produzido no Canadá e ainda assim torram bilhões para garantir a segurança nacional do vizinho.
Agora que assumiu o poder, é possível que ele modere seu discurso, mas na campanha Carney foi enfático:
O presidente Trump acabou com a economia global. A liderança estadunidense sobre a economia global acabou. Ainda está em jogo, mas é uma tragédia, e nossa nova realidade, nesta guerra comercial, assim como no hóquei, nós venceremos.
Foi uma referência à vitória espetacular da seleção do Canadá por 3 a 2, na prorrogação, sobre o time dos Estados Unidos, na final de um torneio de hóquei disputado em Boston -- Trump chegou a ligar para incentivar a equipe estadunidense antes do jogo.
Reprise na Austrália
Na Austrália, o efeito Trump se repetiu, com o partido Liberal de direita tomando uma surra nas urnas diante do Partido Trabalhista de Anthony Albanese, que se reelegeu.
O "Trump da Austrália", Peter Dutton, um ex-policial que fez uma campanha baseada em segurança pública e no combate à imigração ilegal, teve o mesmo destino de seu colega canadense Pierre Poilievre e perdeu sua cadeira no Parlamento.
Foi outra virada espetacular.
Em 4 de fevereiro, a média das pesquisas publicada pelo diário britânico Guardian dava vantagem de 53,8% a 49,4% para a coalizão de oposição sobre o Partido Trabalhista.
Trump assumiu o poder em 20 de janeiro e no início de maio uma pesquisa do eleitorado australiano mostrou que 31% dos entrevistados já consideravam o ocupante da Casa Branca uma ameaça à paz mundial maior que Vladimir Putin e Xi Jinping (27% cada).
Albanese não usou Trump em sua campanha, mas acabou beneficiado pela tentativa de Peter Dutton de se apresentar como o papel carbono do estadunidense, inclusive prometendo copiar a ideia de "esmagar" a burocracia federal, ou seja, demitir servidores públicos em massa.
Ao fim e ao cabo, o Partido Trabalhista triturou a oposição, obtendo 87 cadeiras contra 37 da coalizão oposicionista e 11 de outros.
Depois da vitória, Albanese mandou um recado indireto a Dutton, que ganhou o apelido de Temu Trump por ser uma versão barata do ocupante da Casa Branca:
Nosso governo escolherá o estilo australiano porque temos orgulho de quem somos. Não buscamos inspiração no Exterior. Nós a encontramos aqui, em nossos valores e em nosso povo.