Os recentes ataques de Israel ao Irã estão sendo classificados por autoridades e analistas iranianos como uma grave violação da soberania nacional e do direito internacional. O jornalista iraniano Jafar Yousefi relatou à Fórum que vê a ofensiva, que incluiu bombardeios a alvos civis e instalações nucleares, como um golpe calculado contra os esforços de diálogo e uma escalada perigosa no Oriente Médio.
De acordo com os relatos dele, entre as vítimas dos ataques estão cientistas nucleares, professores universitários e comandantes militares que estavam em suas residências, fora de qualquer zona de conflito. Mulheres e crianças também morreram, o que levanta suspeitas de crimes de guerra contra civis, e fotos da imprensa local, divulgadas pelo jornalista à Fórum na semana passada, mostram parte do estrago em bairros residenciais, como carros e prédios destruídos.
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Ataque durante tentativa de reaproximação com os EUA
Assim como denunciado pela Embaixada do Irã no Brasil, o jornalista explicou que o ataque israelense ocorreu justamente quando o Irã se preparava para uma nova rodada de negociações nucleares com os Estados Unidos. Segundo Yousefi, havia expectativa de avanço nas conversas, com o Irã planejando apresentar uma nova proposta de compromisso para o programa nuclear.
“O objetivo parece ter sido claro: sabotar os esforços diplomáticos e aprofundar a crise”, afirma o jornalista Jafar Yousefi. “Esses ataques de Israel, que lembram crimes de guerra contra civis, aconteceram justamente no momento em que o Irã se preparava para uma nova rodada de negociações nucleares com os Estados Unidos. Fica evidente que o objetivo principal dessas ações foi sabotar os esforços diplomáticos e aprofundar a crise no Oriente Médio”, analisa.
Alvos civis e nucleares: uma escalada inédita
Além de áreas residenciais, Israel também bombardeou infraestruturas econômicas importantes, como a refinaria de Teerã e instalações industriais em Asaluyeh, na costa do Golfo Pérsico. No entanto, o episódio mais preocupante foi o ataque a instalações nucleares civis, o que ultrapassa uma das principais “linhas vermelhas” do direito internacional, de acordo com o jornalista iraniano.
“O bombardeio viola o estatuto da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e os termos do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP). Isso mostra que o regime israelense não teme apenas o programa nuclear pacífico do Irã, mas também é contra qualquer solução baseada no diálogo. O Irã se preparava para apresentar uma nova proposta viável que poderia abrir caminho para um acordo”, afirma Yousefi. “Nos últimos dias, a República Islâmica do Irã foi alvo de um ataque sem precedentes por parte do regime de Israel. Essa agressão violou diretamente a soberania iraniana e também abalou os pilares do direito internacional e da diplomacia pela paz. Entre as vítimas estão cientistas nucleares, professores universitários e comandantes militares que estavam em suas casas — não em zonas de combate. Muitas mulheres e crianças também morreram”, relatou à Fórum.
Até o momento, o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) permanece em silêncio sobre o caso.
Além disso, os relatos do jornalista Jafar Yousefi vão de acordo com a análise feita por especialistas entrevistados pela Fórum, que afirmaram na última semana que o conflito no Oriente Médio pode gerar efeitos imediatos e duradouros sobre a economia mundial, como aumento dos preços do petróleo, inflação e encarecimento de fretes e bloqueios em rotas estratégicas como o Canal de Suez e o Golfo Pérsico. Yousefi relembra a questão da paz mundial e um possível envolvimento global, quando cita a região do Golfo Pérsico:
“A extensão dos ataques israelenses para a região do Golfo Pérsico — uma das mais sensíveis geopoliticamente no mundo — é extremamente perigosa. Um confronto nessa área pode colocar em risco a paz regional e até mundial. Até agora, a resposta do Irã foi moderada, limitada a alvos militares e econômicos em território israelense, mostrando claramente que o país busca dissuadir, não escalar o conflito”, explica o jornalista Jafar Yousefi.
Irã aponta apoio velado dos EUA
O governo iraniano afirma ter evidências de que bases militares dos Estados Unidos na região forneceram apoio logístico e de inteligência para as operações israelenses. Apesar de negações oficiais em público, declarações recentes da Casa Branca, reforçando o envio de armas a Israel, alimentam as acusações de cumplicidade.
“O que vemos é um duplo discurso: enquanto em conversas privadas os EUA negam envolvimento, em público continuam oferecendo suporte militar a Israel”, aponta o jornalista. “O Irã possui provas concretas da participação de bases militares e forças dos EUA na região, auxiliando logisticamente e com informações de inteligência para esses ataques”, revela.
A resposta iraniana e cobrança da comunidade internacional
O Irã respondeu aos ataques com ações militares limitadas, atingindo alvos econômicos e militares dentro de Israel. Teerã afirma que suas ações estão amparadas no Artigo 51 da Carta da ONU, que garante o direito à autodefesa diante de agressões externas.
“Não é uma ofensiva por vingança. É uma medida de dissuasão, para proteger nossa população e nossa infraestrutura”, disse Yousefi.
Para o Irã, o silêncio da comunidade internacional diante de ataques a instalações nucleares civis abre um precedente perigoso. O jornalista faz um apelo para que instituições como a ONU, a União Europeia e a própria AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) condenem os ataques, iniciem investigações independentes e pressionem os Estados Unidos a reverem seu apoio militar a Israel.
“Enquanto diversos países da região condenaram o ataque, algumas nações europeias — que se dizem defensoras da civilização e do direito — não apenas ficaram em silêncio, como ainda culparam o próprio Irã por ser alvo dessa agressão. Se Washington realmente deseja a paz, precisa condenar publicamente os ataques a instalações nucleares pacíficas no Irã, e não apenas fazer alertas em bastidores”, explica Yousefi. “O povo iraniano, assim como qualquer outro povo, tem o direito de viver em paz, de desenvolver ciência e tecnologia, e de decidir seu futuro por meio do diálogo. Com suas ações, Israel não está apenas atacando o Irã — está atacando a ordem global e os direitos de todas as nações”, conclui.
Ele ainda destaca que, para que a diplomacia seja retomada e o conflito resolvido, a ONU, a União Europeia e a AIEA devem:
- Condenar abertamente os ataques contra instalações nucleares no Irã;
- Iniciar uma investigação imparcial e independente;
- Pressionar os EUA para que tomem uma posição clara e parem de apoiar Israel; e
- Apoiar a retomada das negociações nucleares sem ameaças ou pressões militares.