Arquivos obtidos pelo jornal espanhol Diario Red sede revelaram que a decisão que culminou na retirada da personalidade jurídica do Partido Ação Nacional Boliviano (PAN-Bol) — legenda que pretendia lançar Evo Morales à presidência — teve origem dentro do Ministério da Justiça da Bolívia. O documento, batizado como Resolução Suspensão Pan-Bol, foi criado em 5 de maio de 2025, no computador do gabinete do então ministro César Siles, segundo aponta a perícia independente que analisou o telefone do chefe da pasta. A inciativa teria sido encabeçada pelo atual presidente boliviano, Luis Arce, que já foi aliado próximo de Evo.
Dois dias depois, em 7 de maio, o Tribunal Supremo Eleitoral chancelou e assinou um texto praticamente igual. A tramitação relâmpago abriu caminho, um mês depois, para o Tribunal Constitucional Plurinacional efetivar o cancelamento definitivo do registro do PAN-Bol.
Troca de mensagens, depósitos e viagens fora da agenda oficial
O material analisado, que soma 12 gigabytes, mostra que Siles e o membro do Tribunal Supremo Eleitoral, Tahuichi Quispe, mantinham comunicação constante via WhatsApp. As mensagens incluem envio de resoluções, passagens aéreas para deslocamentos não institucionais e comprovantes de depósitos bancários.
Entre as transferências, destacam-se duas movimentações feitas pela esposa do presidente Luis Arce, Brígida Lourdes Durán Romero: uma de 30 mil dólares e outra de 170 mil dólares, ambas realizadas por meio de uma conta no Tower Bank, no Panamá, em favor de Tahuichi. Esses repasses reforçam as suspeitas de compra de influência para garantir decisões favoráveis.
Queda do ministro e prisão
No dia 14 de junho, em meio a protestos de base popular que defendia a candidatura de Evo, César Siles anunciou sua renúncia do Ministério da Justiça após oito meses no cargo. Em nota divulgada em sua conta oficial, ele alegou sofrer “rumores e acusações infundadas” e solicitou uma transição “ordenada”. Mesmo assim, o presidente Arce nomeou Jessica Arancibia já no dia 16.
Quatro dias depois, Siles foi detido em La Paz ao comparecer espontaneamente à Promotoria. Pesam contra ele acusações de tráfico de influência e manipulação de processos judiciais, inclusive para afastar a magistrada Fanny Coaquira, eleita pelo voto popular. Conversas vazadas indicam que Siles prometeu proteção a um juiz para obter sentenças fora dos trâmites legais. Além dele, outras oito pessoas estão sob investigação, entre juízes e membros do Tribunal.
Provas ligam operação a plano maior contra Morales
O conjunto de evidências aponta que o caso de Coaquira é apenas parte de uma manobra mais ampla: minar qualquer oposição dentro do sistema judicial e eleitoral. Nos pacotes de dados, peritos identificaram não só as ordens de suspensão do PAN-Bol como também relatórios internos e documentos que detalham o monitoramento de siglas adversárias.
As provas verificadas incluem:
– Transferências bancárias diretas da esposa de Arce para Tahuichi;
– Redação da resolução de suspensão do partido dentro do Ministério;
– Validação imediata do texto pelo Tribunal Supremo Eleitoral;–
– Confirmação do envio do documento por mensagem de celular;
– Vistoria internacional independente, que atesta a integridade dos arquivos e metadados.
Contexto de tensão política
A articulação para excluir Morales, que governou o país por 14 anos, ocorre num cenário de mobilizações populares e bloqueios de estradas. A militância ligada ao ex-presidente acusa o governo de Arce de fraudar a separação entre os poderes e usar a máquina estatal para garantir hegemonia eleitoral. A nova leva de mensagens reforça as denúncias e amplia a crise dentro da base do Movimento ao Socialismo (MAS).
Para acessar a reportagem original, do Diario Red, da Espanha, com todos os documentos obtidos pelo veículo, clique neste link.