GUERRA COMERCIAL

VÍDEO: Lula lembra participação dos EUA no golpe de 64 ao anunciar medidas contra tarifaço de Trump

"O que está sendo jogado fora é uma relação de 201 anos. Veja que nós relevamos até o golpe de 64", disse o presidente brasileiro, lembrando a interferência dos EUA, de Trump, na instauração da Ditadura Militar no Brasil.

Lula com a Medida Provisória para minimizar os impactos do tarifaço de Trump no Brasil.Créditos: Reprodução / Youtube
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Após assinar a Medida Provisória que lista uma série de medidas para minimizar os efeitos da guerra tarifária desencadeada por Donald Trump contra o Brasil, o presidente Lula afirmou que a taxação por questões ideológicas acaba com uma relação de mais de 200 anos e lembrou que até mesmo a participação dos EUA no golpe de 64 foi "relevada" pelo Brasil.

"O que está sendo jogado fora é uma relação de 201 anos. Veja que nós relevamos até o golpe de 64. Nós nem lembramos do que foi o papel da embaixada americana aqui no Brasil. Não lembramos qual foi o papel de navio de guerra dos EUA em nosso mar. Tudo isso a gente não esqueceu, mas não levamos mais em conta. Porque nós somos da paz", afirmou Lula.

O presidente ainda ressaltou que não existem razões para o tarifaço de Trump - a não ser ideológica - e rebateu as críticas recentes do relatório do governo dos EUA que acusa o Brasil de violações dos Direitos Humanos.

"Ninguém está desrespeitando regras de Direitos Humanos como estão dizendo ao mundo. Nossos amigos americanos tentam criar uma imagem de demônio quando querem brigar. E o Brasil não tinha nenhua razão para ser taxado. Então não aceitaremos acusações sobre Direitos Humanos e que o julgamento [de Jair Bolsonaro] está feito de forma arbitrária".

"A soberania nossa é intocável. Ninguém dê palpite. Falar de Direitos Humanos no Brasil já foi importante em outras épocas. Agora é preciso falar do país que acusa o Brasil", emendou.

O presidente brasileiro afirmou que a questão não é somente contra o Brasil, mas sim pela ação de Trump para acabar com o multilateralismo no mundo.

"A gente não merecia isso. E o que é grave é que não foi só conosco, foi com muitos [países]. Muita gente dizia: a Índia é muito pró-americana. E eles taxaram a Índia em 50%. Olha, o que leva a isso eu posso dizer que não é comercial. Eu acho que existe por trás disso uma necessidade muito grande de destruir uma coisa chamada multilateralismo, que é o que permitiu que o mundo tivesse um comércio mais equilibrado".

Mais adiante, Lula citou a questão inegociável proposta por Donald Trump para levantar o tarifaço contra o Brasil: a suspensão do julgamento contra a organização criminosa golpista comandada por Jair Bolsonaro (PL) pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

"Nós estamos em um debate que não é econômico. É um debate político. Com teor ideológico. A razão pela qual o governo americano anunciar punir o Brasil por causa do ex-presidente... Se ele [Trump] conhecesse a verdadeira história, ele estaria dando parabéns à Suprema Corte brasileira por estar julgando alguém que tratou de bagunçar a democracia brasileira", afirmou.

Medidas

Mais cedo, em entrevista a Reinaldo Azevedo, Lula anunciou uma linha de crédito no valor de R$ 30 bilhões com foco em empresas que tiveram prejuízo com as recentes medidas anunciadas pelos Estados Unidos, de taxar em 50% as exportações brasileiras.

O presidente ainda alou sobre outras medidas do Governo Federal para combater os efeitos da taxação. Além da linha de crédito, o plano de contingência inclui, ainda, as compras governamentais. Nessa modalidade, o Governo adquire produtos que seriam exportados, em especial gêneros alimentícios, para aproveitá-los em programas sociais. Outra vertente antecipada pelo presidente é a ênfase na abertura de novos mercados pelo mundo para os produtos nacionais.

Veja outros pontos divulgados pelo governo federal:

  • CUIDADO - Segundo o presidente, o valor para a linha de crédito pode ser apenas um começo. Dependendo da necessidade, recursos adicionais podem ser investidos. “A medida é extremamente importante para mostrar que ninguém vai ficar desamparado neste país por causa das medidas tomadas pelo presidente Trump. Vamos cuidar dos trabalhadores dessas empresas e, também, procurar outros mercados para elas”, ressaltou.
  • PEQUENAS EMPRESAS - De acordo com o presidente, o objetivo das medidas é ajudar, sobretudo, as pequenas empresas que exportam, por exemplo, tilápia, mel, frutas e outros produtos, como máquinas. O Governo Federal já afirmara, anteriormente, que as empresas brasileiras que têm maior dependência do mercado norte-americano para as vendas terão atenção especial.
  • INCENTIVO - O Governo Federal também está enviando listas com produtos que os empresários brasileiros vendem para os Estados Unidos a outros países. “Ninguém larga a mão de ninguém. Eu quero ajudar, quero tentar ver as relações que temos com todos os países, o que a gente compra, o que a gente vende. Precisamos ajudar os empresários a abrir novos mercados e, também, incentivar os empresários a brigar pelos mercados. Não dá para deixar barato a taxação imposta. Há leis nos Estados Unidos e os nossos empresários podem abrir processo, podem brigar por seus direitos, lá, também”, ressaltou.
  • OMC - Outra frente do Governo Federal relatada por Lula na entrevista é o padrão já utilizado de recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) contra a taxação dos Estados Unidos. “Estamos pensando na aplicação da Lei da Reciprocidade, o que podemos fazer a respeito. Não queremos ficar dizendo que vamos fazer bravata. Nós vamos medir as consequências para o povo brasileiro e para a relação com os Estados Unidos a cada momento que a gente tiver de tomar uma decisão. Afinal, temos uma relação histórica e muito profunda de 201 anos. E queremos manter uma relação como temos com todo mundo: civilizada, ordeira, em que a gente possa sentar e discutir divergências.”
  • NEGOCIAÇÃO - “As grandes empresas têm mais poder de resistência, mas vamos garantir a sobrevivência das empresas brasileiras. Houve um tempo em que nosso comércio exterior dependia 25% dos Estados Unidos. Hoje, são 12%. Eu continuo preparado para negociar. Não sei qual a experiência de negociação do presidente Trump, mas desde 1968 eu negocio com patrão, nas fábricas. Às vezes eu ganhava, às vezes perdia, às vezes empatava, mas o importante é sentar numa mesa e negociar”, definiu.
     
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