ATAQUE À SOBERANIA

Além de criadores do Mais Médicos, Padilha também estaria entre os alvos de sanções dos EUA

Ofensiva dos EUA contra o Brasil se intensifica e, após tarifaço e sanções a ministros do STF, retaliações atingem autoridades ligadas ao programa Mais Médicos e o próprio ministro da Saúde

O ministro da Saúde Alexandre Padilha.Créditos: Carolina Antunes/MS
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A escalada de hostilidades do governo de Donald Trump contra o Brasil ganhou um novo capítulo nesta quarta-feira (13). Depois de impor o tarifaço a produtos brasileiros e punir ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) com cancelamento de vistos, Washington agora mira autoridades ligadas ao programa Mais Médicos – entre elas, segundo bolsonaristas em contato com o governo dos Estados Unidos, o próprio ministro da Saúde, Alexandre Padilha, idealizador da iniciativa durante o governo Dilma Rousseff.

O anúncio oficial, feito pelo secretário de Estado Marco Rubio, determinou a revogação dos vistos do secretário de Atenção Especializada à Saúde, Mozart Sales, e de Alberto Kleiman, atual diretor da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA). Ambos tiveram papel central na primeira fase do Mais Médicos e trabalharam diretamente com Padilha na sua concepção e implementação.

Em comunicado, Rubio classificou o programa como parte de um suposto “esquema de exportação de trabalho forçado” envolvendo Cuba – narrativa alinhada ao discurso histórico da extrema direita norte-americana contra o governo de Havana. O chanceler de Trump afirmou ainda que as restrições de entrada nos EUA serão estendidas a “outros funcionários do governo brasileiro” e ex-representantes da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).

A ofensiva contra o Mais Médicos se soma a outras medidas recentes que evidenciam a estratégia de retaliação política da Casa Branca. Recentemente, além de Alexandre de Moraes, alvo da Lei Magnitsky, outros sete ministros do STF tiveram seus vistos cassados, sob o argumento de “defesa da liberdade de expressão” – narrativa que visa interferir no processo judicial contra Jair Bolsonaro, réu por tentativa de golpe de Estado, e livrar o ex-presidente da prisão. 

Criado em 2013, o Mais Médicos revolucionou a cobertura de saúde em áreas carentes, levando profissionais a periferias, municípios remotos e comunidades indígenas historicamente desassistidas. O programa chegou a atender cerca de 60 milhões de pessoas e foi encerrado no governo Bolsonaro. No atual mandato de Lula, o programa foi retomado, com prioridade para médicos brasileiros, mas sem abrir mão da meta original: garantir atendimento médico onde ele nunca existiu.

Padilha responde: "Não nos curvaremos"

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, reagiu, nas redes sociais, ao cancelamento dos vistos para os Estados Unidos do secretário de Atenção Especializada à Saúde do Ministério da Saúde do Brasil, Mozart Júlio Tabosa Sales, e do diretor da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), Alberto Kleiman, nesta quarta-feira (13).

Em postagem divulgada no X (ex-Twitter), o secretário de Estado Marco Rubio afirmou que o Departamento de Estado dos EUA, além de revogar os vistos, também vai adotar medidas de impor restrições de entrada a “vários funcionários do governo brasileiro” e a ex-integrantes da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).

A alegação é de que os alvos das sanções teriam sido “cúmplices do esquema de exportação de trabalho forçado do regime cubano”, em referência à participação do país caribenho no programa Mais Médicos.

"O Mais Médicos, assim como o PIX, sobreviverá aos ataques injustificáveis de quem quer que seja. O programa salva vidas e é aprovado por quem mais importa: a população brasileira", disse Padilha, também em publicação divulgada no X.

"Não nos curvaremos a quem persegue as vacinas, os pesquisadores, a ciência e, agora, duas das pessoas fundamentais para o Mais Médicos na minha primeira gestão como Ministro da Saúde, Mozart Sales e Alberto Kleiman", publicou ainda o ministro, fazendo referência a medidas tomadas pelo governo dos EUA em seu país.

Padilha listou ainda realizações do programa. "Nesse Governo atual, em 2 anos, dobramos a quantidade de médicos no Mais Médicos. Temos muito orgulho de todo esse legado que leva atendimento médico para milhões de brasileiros que antes não tinham acesso à saúde. Seguiremos firmes em nossas posições: saúde e soberania não se negociam. Sempre estaremos do lado do povo brasileiro", concluiu.

'Nos EUA, saúde é negócio'

Outro ex-ministro da Saúde, o atual senador Humberto Costa (PT-PE), também falou sobre a sanção aplicada pelo governo estadunidense. 

"O incômodo deles é óbvio: nos EUA, saúde não é direito, é negócio! Enquanto o Mais Médicos leva atendimento gratuito a milhões no Brasil, Trump persegue quem fez isso acontecer. Bolsonaro desmontou o programa, e agora seu aliado ataca quem ousa cuidar do nosso povo", publicou em seu perfil no X.

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