Autodeclarado "conselheiro informal" do governo Donald Trump, Eduardo Bolsonaro (PL-SP) antecipou que seriam retirados vistos de autoridades brasileiras horas antes do anúncio do anúncio oficial, feito pelo secretário de Estado Marco Rubio, que determinou a revogação dos vistos do secretário de Atenção Especializada à Saúde, Mozart Sales, e de Alberto Kleiman, atual diretor da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA).
Atuando como uma espécie de araponga dos interesses dos EUA contra o Brasil, Eduardo falou à BBC Brasil antes de iniciar reuniões com assessores da Casa Branca e citou a "retirada de vistos" como uma das novas sanções que seriam anunciadas em breve pelo governo Trump.
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Indagado se "estão sendo preparadas mais sanções contra o Brasil ou contra autoridades brasileiras", Eduardo atrelou essas novas sanções ao dossiê que seria, juntamente com Paulo Figueiredo, com a narrativa distópica sobre a "ditadura" de Alexandre de Moraes, nos encontros na Casa Branca.
"Certamente, durante essas agendas, a gente vai ter a possibilidade de levar as atualizações daquilo que está acontecendo no Brasil, os últimos acontecimentos como as repercussões da prisão domiciliar do meu pai, o ex-presidente Bolsonaro, e certamente Trump segue tendo uma possibilidade muito grande sobre a sua mesa sobre a aplicação de sanções", afirmou.
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"Há a extensão da Lei Magnitsty para outras pessoas. Há, na mesa do secretário Marco Rubio, a retirada de vistos, entre outros mecanismos de pressão para tentar fazer com que o Brasil saia dessa crise institucional que nós vivemos", emendou o filho de Bolsonaro, sobre a tentativa de criar o caos no Brasil.
Após o anúncio da revogação dos vistos das autoridades, na tarde desta quarta-feira (14), Eduardo foi às redes agradecer o governo Trump, marcando o presidente dos EUA e o secretário Marco Rubio.
"Meus amigos, o secretário Marco Rubio acabou de anunciar mais restrições e também a perda de visto de pessoas envolvidas no programa Mais Médicos. A gente tá falando de fatos ocorridos há mais de 10 anos. Então, repare que não fica, né, esquecido esse tipo de violação. O secretário Rubio, ele é descendente de cubanos e pode ter certeza, gente graúda do atual governo Lula também está nessa lista", disse, sinalizando novos alvos.
Eduardo teria pedido ao governo Trump para colocar na lista de sancionados o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e a ex-presidenta Dilma Rousseff, atual presidenta do Novo Bando de Desenvolvimento, o Banco dos Brics, que propõe alternativas à desdolarização do comércio entre países.
Eduardo ainda fez novas ameaças, dizendo que "cedo ou tarde, cada um de vocês do regime vai cair".
"E além disso, não ache você que saindo do seu cargo, você vai estar a salvo dessas sanções e dessas restrições. Muito pelo contrário, se você é uma autoridade brasileira e está envolvida em qualquer tipo de violação de direitos humanos, meu conselho para você é: desfaça a que você fez. Essa é a única maneira de te garantir a entrada no maior país, na maior democracia do Ocidente no farol da liberdade", emendou, mostrando a subserviência aos EUA.
Mentiras
A declaração desmonta as teses de Eduardo, de que não estaria influenciando a política predatório do governo Trump contra o Brasil por meio de uma conspiração golpista, que visa livrar o pai da cadeia, destituir o ministro Alexandre de Moraes do Supremo Tribunal Federal (STF) e retomar à força o poder.
No início da semana, Eduardo negou que tenha agido para que o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, cancelasse sem quaisquer motivos a reunião que faria com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, dizendo não ter "nenhum controle sobre a agenda do secretário Bassett".
Em 22 de julho, ele também negou que tenha pedido o tarifaço contra produtos brasileiros pelos EUA, que pode afetar 700 mil empregos no Brasil.
"Não era o meu desejo, tá? Sempre trabalhei para sanções individuais no Alexandre de Moraes, mas, né, o presidente Trump, dentre as alternativas dele, escolheu essa [tarifaço]".
Contra o Mais Médicos
Nas redes, Eduardo soltou "nota à imprensa" em que revela mais uma vez o universo distópico da ultradireita neofacista dizendo que o Mais Médicos financiaria a "ditadura cubana".
"O anúncio feito hoje pelo secretário de Estado Marco Rubio, de origem cubana, de sanções contra financiadores da ditadura comunista cubana travestidos de programas governamentais reforça o compromisso da administração Trump em conter e punir regimes autoritários, como os de Cuba e os que Moraes e Lula tentam transformar o Brasil, para que não espalhem seu alcance pelo continente impunemente", afirmou, dizendo que seguirá com "agendas em Washington DC ao longo da quinta-feira (14)".
Em outra publicação, o conspiracionista resgatou uma publicação do pai de novembro 2018 quando Bolsonaro ameaçou acabar com o programa Mais Médicos.
"Atualmente, Cuba fica com a maior parte do salário dos médicos cubanos e restringe a liberdade desses profissionais e de seus familiares. Eles estão se retirando do Mais Médicos por não aceitarem rever esta situação absurda que viola direitos humanos", escreveu Bolsonaro.
"Antes da posse de Jair Bolsonaro em JAN/01/2019, Fidel Castro ordenou o retorno de todos para Cuba. Bolsonaro ofereceu refúgios a todos que decidissem ficar no Brasil", delirou o filho de Bolsonaro.
À época, Cuba era presidida por Raul Castro. Fidel, citado por Eduardo, morreu dois anos antes, em 25 de novembro de 2016, oito anos depois de deixar a Presidência de Cuba.