Na semana passada, o artigo 4 da OTAN foi convocado pela Polônia após a invasão de cerca de 19 drones russos ao seu espaço aéreo. Apesar da Rússia negar que a ofensiva tenha sido intencional, a operação acabou demonstrando uma falha de defesa da organização militar ocidental, que utilizou caças F-35 (um equipamento muito custoso) para derrubar os sistemas kamikaze.
E a dificuldade da defesa da OTAN tem nome: são os drones Shahed, que têm aparecido com frequência em manchetes internacionais, especialmente em reportagens sobre a guerra na Ucrânia e conflitos no Oriente Médio. Desenvolvidos no Irã, esses equipamentos tornaram-se um dos principais símbolos da guerra assimétrica do século XXI, combinando baixo custo, facilidade de produção e alta letalidade.
Drones Shahed
Os modelos mais conhecidos, como Shahed-131 e Shahed-136, são veículos aéreos não tripulados classificados como "drones kamikaze".
Diferente de drones convencionais, que retornam à base após uma missão de reconhecimento, os Shahed são projetados para se destruir junto ao alvo, carregando explosivos em sua estrutura.
Esses drones têm projeto relativamente simples: asas em formato delta, motor a combustão e sistema de navegação por GPS. A velocidade costuma variar entre 150 e 200 km/h, e o alcance pode chegar a centenas ou milhares de quilômetros dependendo da versão e do carregamento.
O baixo custo de produção — frequentemente estimado numa faixa muito inferior ao de mísseis antiaéreos — permite o emprego em larga escala.
O principal diferencial tático dos Shahed é a estratégia de saturação. Em vez de lançar um único aparelho, forças militares e grupos aliados enviam dezenas ou até centenas deles simultaneamente, obrigando o defensor a empregar recursos caros para interceptação.
Esse desequilíbrio econômico coloca pressão sobre sistemas de defesa aérea e onera financeiramente quem tenta proteger infraestruturas críticas.
Na prática, os drones Shahed vêm sendo usados para atacar usinas de energia, depósitos de combustível, instalações de telecomunicações e comboios logísticos. Também atuam como apoio a ofensivas terrestres, enfraquecendo posições defensivas antes de um avanço, e têm função psicológica: o som característico do motor e a possibilidade de explosão súbita causam pânico entre civis e militares.
Relatos recentes de conflitos mostram o emprego desses drones por atores estatais e por forças não estatais apoiadas por estados. No Oriente Médio, versões adaptadas foram usadas em ataques contra bases dos EUA. Na Ucrânia, tem sido amplamente utilizadas pela Rússia para sobrecarregar os sistemas Patriot utilizados pela Ucrânia.
Probemas logístico
As vantagens dos Shahed incluem baixo custo, produção em massa e facilidade de implantação em operações de saturação. No entanto, eles também têm limitações claras: voam em baixa altitude e com velocidade moderada, dependem de coordenadas pré-programadas ou de navegação relativamente simples, e podem ser neutralizados por defesas modernas quando detectados a tempo ou quando enviados em número reduzido.
Especialistas destacam que o Shahed representa não apenas uma nova arma, mas um conceito: a guerra de baixo custo em que volumes grandes de plataformas baratas podem compensar a ausência de precisão e sofisticação individual.
O emprego de enxames de drones baratos vem sendo estudado e aprimorado por diversas potências, que buscam alternativas mais econômicas para atingir efeitos estratégicos.
Assim, os drones Shahed são um exemplo de como inovações simples podem alterar dinâmicas militares. Eles forçam revisões nas estratégias de defesa aérea, na proteção de infraestrutura crítica e na lógica de custo-benefício entre ofensiva e defensiva. Para jornalistas, analistas e gestores de segurança, entender esse fenômeno é essencial para avaliar riscos e adaptar medidas de proteção.
Combinando custo reduzido e impacto direto, os Shahed mudaram o debate sobre tecnologia militar: a guerra moderna não é feita apenas por plataformas sofisticadas, mas também por soluções acessíveis que, quando usadas em massa, alteram o equilíbrio no campo de batalha.