O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a causar polêmica neste sábado (5) ao publicar, em sua rede social Truth Social, uma montagem feita por inteligência artificial em que aparece diante do horizonte de Chicago, cercado por helicópteros, chamas e a frase “Chipocalipse Now”.
A imagem, que lembrava uma cena de guerra, foi interpretada como uma ameaça direta doenvio de tropas e deportações em massa na maior cidade do Meio-Oeste estadunidense.
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A publicação fazia referência ao clássico filme "Apocalypse Now" (1979), sobre a Guerra do Vietnã, e ainda citava sua decisão mais recente: renomear o Departamento de Defesa para “Departamento de Guerra”.
Na postagem, Trump escreveu: “Adoro o cheiro de deportações pela manhã. Chicago está prestes a descobrir por que se chama Departamento de GUERRA”, parodiando a frase famosa no longa de Francis Ford Coppola.
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Em "Apocalypse Now", o coronel Bill Kilgore, interpretado por Robert Duvall, solta a frase que se tornou um ícone da cultura pop: “I love the smell of napalm in the morning” (“Adoro o cheiro de napalm pela manhã”). Ela sintetiza o absurdo e a banalização da violência na guerra do Vietnã — a ideia de que a destruição em massa podia ser tratada com frieza ou até com certo prazer.
Trump, ao postar a montagem em sua rede social, fez uma paródia direta dessa fala. O efeito foi usar o mesmo tom de arrogância e brutalidade do personagem de Duvall, mas aplicado a imigrantes e à cidade de Chicago.
Para críticos e autoridades democratas, a referência não foi apenas de mau gosto, mas também um sinal de autoritarismo, já que associa deportações em massa e militarização interna a uma linguagem de guerra.
Reação imediata em Illinois
As declarações de Trump foram interpretadas como uma ameaça sem precedentes contra Chicago, administrada por democratas. O governador de Illinois, JB Pritzker, reagiu de imediato pelas redes sociais.
"O presidente dos Estados Unidos está ameaçando declarar guerra a uma cidade americana. Isso não é brincadeira, isso não é normal. Donald Trump não é um homem forte, é um homem medroso. Illinois não vai se curvar a um aspirante a ditador."
O prefeito de Chicago, Brandon Johnson, acusou Trump de querer “ocupar a cidade e violar a Constituição”.
Operações federais e disputa judicial
A tensão cresce em meio à decisão de Trump de reforçar a presença da Guarda Nacional em cidades administradas por democratas, como Los Angeles e Washington, D.C., sob a justificativa de combater a imigração ilegal. Em Chicago, a expectativa é de intensificação de operações do ICE (agência de imigração e alfândega).
Mas a medida já enfrenta contestação nos tribunais. Um juiz federal considerou que o envio da Guarda Nacional para Los Angeles provavelmente violou a Lei Posse Comitatus, que limita o uso das Forças Armadas em tarefas policiais internas. Em Washington, D.C., a Procuradoria também entrou com ação semelhante.
Histórico de ataques a cidades democratas
Trump já havia direcionado ataques a Chicago ao longo da semana, chamando-a de “a pior e mais perigosa cidade do mundo” e prometendo resolver o problema da violência “rapidamente”. Ele também citou outras cidades governadas por democratas como possíveis alvos, incluindo Baltimore, Nova Orleans, Portland, Nova York e São Francisco.
Baltimore, Nova Orleans e Portland já foram mencionadas em discursos anteriores, enquanto Washington, D.C., e Los Angeles já receberam tropas federais. Prefeitos e governadores, no entanto, afirmam que os índices de criminalidade estão em queda e que a presença da Guarda Nacional e de agentes mascarados do ICE só aumenta a desconfiança da população em relação às autoridades.
O “Departamento de Guerra”
Na sexta-feira (5), Trump assinou um decreto para mudar oficialmente o nome do Departamento de Defesa para Departamento de Guerra — uma decisão que ainda depende de aprovação do Congresso. Segundo ele, o termo resgataria a “tradição histórica” do país, já que os EUA venceram a Primeira e a Segunda Guerra Mundial sob essa denominação.
Criado em 1947, durante o governo de Harry Truman, o atual Departamento de Defesa substituiu justamente o antigo Departamento de Guerra e passou a centralizar as Forças Armadas no Pentágono.