Alemanha: novo governo terá paridade de gênero, é o mais jovem e prega "ousadia" - Por Vinicius Sartorato

Partidos confirmaram a coalização e o social-democrata Olaf Scholz deve finalmente ser nomeado o novo chanceler, dando fim à Era Merkel; conheça o futuro gabinete

Olaf Scholz, provável sucessor de Merkel, apresenta os membros do futuro governo alemão (Foto: SPD)
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Após quase 3 meses de negociações, os líderes do Partido Social-Democrata (SPD), do Partido Verde (Grüne) e do Partido Liberal-Democrata (FDP) apresentaram um programa de governo para a Alemanha com 177 páginas. Intitulado “Ousadia para progredir”, esse texto seria a síntese das propostas da chamada coalizão “Semáforo”.

Tal proposta conquistou a aprovação dos membros dos três partidos e agora deve ser confirmada no parlamento. Se na sessão de quarta-feira (8) a casa legislativa aprovar a indicação do novo chanceler, o social-democrata Olaf Scholz, a Alemanha terá um novo governo para os próximos 4 anos - o primeiro liderado pela esquerda em 16 anos.

Com o fim da “Era Merkel”, as expectativas sobre o governo de Scholz vão da manutenção da política de equilíbrio econômico à ousadia nas áreas ambientais e sociais, aspectos tidos como irreconciliáveis por muitos.

Formação de governo: novos ministros, quem é quem, e o que esperar

A especulação sobre o novo governo e os respectivos nomes era grande, mas foi mantida em segredo até a aprovação dos partidos envolvidos. Sem a participação dos conservadores do CDU/CSU, o novo governo trará novidades.

Além de ser a primeira coalizão semáforo - vermelhos (sociais-democratas), ambientalistas (verdes) e liberais (amarelos) - desde a década de 50, será o primeiro governo a ter um descendente de turcos. Além disso, será a primeira administração paritária com relação à questão de gênero, e a mais jovem no âmbito da média de idade (50,4 anos).

Com uma estrutura de 16 ministérios, 8 ficarão com o SPD, 4 com os Verdes e 4 com os Liberais. Destes 16, 8 serão compostos por mulheres:

Conheça o ministro indicados e os respetivos perfis

8 ministérios para o SPD

Chancelaria: Olaf Scholz (63). Apesar de não ser propriamente um ministério, a chancelaria possui status de ministério. O indicado a ser o novo chefe de governo é o atual vice de Angela Merkel, atual ministro de Finanças e liderou a campanha vitoriosa do SPD.

Trabalho e Assuntos Sociais: Hubertus Heil (49): atual ministro da pasta, será mantido no posto. Nesse caso, a perspectiva é supervisionar a reestruturação do sistema de benefícios a desempregados do país e a valorização do salário-mínimo por hora nos próximos meses.

Defesa: Christine Lambrecht (56). Atual ministra da Justiça, acumulou experiência com o governo Merkel e será a próxima a chefiar a pasta - apesar de não ter experiência na área militar.

Interior: Nancy Faeser (51). Jurista e deputada estadual em Hesse, será primeira mulher a ocupar a posição e já declarou que o extremismo de direita é o maior desafio da democracia alemã e que deve ser combatido a partir de seu ministério, em conjunto com as forças policiais e de inteligência.

Cooperação Econômica e Desenvolvimento: Svenja Schulze (53). É a atual ministra do meio ambiente.

Obras e Habitação: Klara Geywitz (45). Concorreu com Scholz a direção do partido (SPD) no passado, hoje é uma das duas alemãs do leste no governo. Na direção do seu ministério, propõe a construção de 400 mil moradias por ano a preços acessíveis em regiões urbanas.

Saúde: Karl Lauterbach (58). Deputado e epidemiologista, insiste em medidas duras para frear a quarta onda da Covid-19, ao exemplo de vacinação obrigatória, restrições aos não vacinados e fechamento de setores que promovam concentração de pessoas.

Família: Anne Spiegel (41). Foi secretária estadual de Família e de Meio Ambiente no estado Renânia-Palatinado. Deve ter como foco principal o combate à pobreza infantil.

4 ministérios para os Verdes

Relações Exteriores: Annalena Baerbock (41). A copresidente dos Verdes, ex-candidata à Chancelaria nas eleições, será a primeira mulher a ocupar a função e terá que tratar temas delicados para o governo alemão, como Rússia, Belarus, Polônia, Hungria, China e EUA. Ainda na oposição, ela fez duras críticas aos governantes dos países citados e ao pragmatismo de Merkel.

Meio Ambiente: Steffi Lemke (53). Engenheira agrária, é a segunda integrante originária do leste do país, foi líder dos Verdes por 11 anos até 2015. Hoje é uma das deputadas federais com maior experiência no setor.

Alimentação e Agricultura: Cem Özdemir (55). Cotado para Relações Exteriores, é o primeiro descendente de turcos na história de todos governos alemães. Ex-copresidente dos Verdes, o deputado federal foi indicado pela ala centrista do partido para a agricultura.

Economia, Energia e Defesa Climática: Robert Habeck (52). É copresidente do Partido Verde. Além de comandar o ministério, será o vice-chanceler. Considerado um superministro, deve comandar a ambiciosa expansão de energias renováveis e o abandono do carvão até 2030 e do gás até 2040.

4 ministérios para os Liberais

Finanças: Christian Lindner (42). O líder dos Liberais ficará com o poderoso ministério das Finanças e promete manter a política de equilíbrio fiscal, sem aumento de impostos.

Justiça: Marco Buschmann (44). É jurista, deputado e próximo ao líder Lindner. Tem experiência política e jurídica para tratar problemas como o voto aos 16 anos, a legalização da maconha e a facilitação da cidadania para imigrantes.

Educação e Pesquisa: Bettina Stark-Watzinger (53). Com experiência no setor financeiro, promete fazer uma revolução educacional no país.

Transporte e Digitalização: Volker Wissing (55). Também formado em Direito, é secretário geral do FDP e teve experiência como secretário da área no estado da Renânia Palatinado.