No dia 11 de novembro de 2019, menos de 24 horas depois do golpe de Estado que terminou com o mandato de Evo Morales, o FAB001 (Força Aérea Boliviana 001) decolou rumo a Brasília. O país ainda estava sem presidente, já que a ditadora Jeanine Áñez só seria empossada no dia seguinte. A partir de então, a aeronave permaneceria em solo brasileiro por 16 dias, perambulando entre São Paulo, Rio de Janeiro, Manaus e a capital brasileira.
A informação vem de uma reportagem do diário argentino Página/12, publicada neste domingo, e baseada em dados da empresa estadunidense de rastreamento aéreo FlightAware, uma das mais reconhecidas do mundo em seu ramo.
Segundo dados dessa empresa, o FAB001 ficou em Brasília entre os dias 11 e 15 de novembro, quando partiu para São Paulo, para logo retornar a Brasília, dois dias depois. Em 22 de novembro, a aeronave viajou ao Rio de Janeiro, para retornar à capital no dia seguinte. No mesmo dia 23, voou para Manaus, onde permaneceu até 26 de novembro. No dia 27, finalmente retornou a La Paz.
Abaixo, um fragmento da planilha de voo do FAB001, publicado pela reportagem do Página/12:
Durante todo esse tempo, a ditadora Jeanine Áñez, que em tese deveria ser a principal usuária da aeronave, esteve na capital boliviana.
Os dados que o FlightAware entrega são confiáveis. A empresa está sediada em Houston, no Texas, e é uma das mais prestigiadas no mundo em termos de rastreamento de voos, de aeronaves particulares e comerciais.
Os arquivos da FlightAware mostram que o FAB001 continuou viajando com frequência ao Brasil, nos meses posteriores. Não só isso, o Brasil foi o único país para onde o avião viajou entre novembro de 2019 e maio de 2020, e o fez dezenas de vezes, mais até do que para muitos destinos na própria Bolívia – além de La Paz, a única cidade boliviana que foi visitada por ele foi Santa Cruz de la Sierra, reduto político de Luis Fernando Camacho, um dos principais aliados de Jair Bolsonaro no país.
Além disso, é possível afirmar que a ditadora Jeanine Áñez não esteve presente em nenhum desses voos, já que ela, como presidenta interina, só pode realizar viagens internacionais com a autorização do Congresso – o que jamais aconteceu.
Todos esses voos reforçam as suspeitas de vinculação do governo de Jair Bolsonaro tanto com o golpe de Estado na Bolívia quanto com o governo de Áñez.
Outra informação que levanta suspeitas é o fato de que, dias depois daquela série de viagens do FAB001 dentro do Brasil, em novembro, o Ministério de Defesa da Bolívia fez um acordo de compra de armas ligado a uma empresa brasileira, em um caso que terminou em um pequeno escândalo no país por possível superfaturamento – mais que foi facilmente abafado pelo governo ditatorial.