Argentina: estupro coletivo termina impune após promotor alegar que autores só queriam “alívio sexual”

Caso aconteceu em 2012, mas só foi denunciado em 2019. Promotor do caso possui vínculos com o advogado dos acusados – que, por sua vez, são todos netos de um ex-governador

O promotor argentino Fernando Rivarola (foto: Página/12)
Escrito en GLOBAL el

Um caso de estupro coletivo terminará impune na Argentina, depois que o promotor responsável pelo caso, Fernando Rivarola, apresentou a denúncia nesta quarta-feira (3), alegando que os autores só cometeram “abuso simples, buscando alívio sexual”. A notícia causou grande escândalo em todo o país.

O caso aconteceu em 2012, com uma jovem que então tinha 16 anos e foi estuprada por seis homens. Ela passava férias com um grupo de amigas na cidade de Rawson, no sul da Argentina. Ela foi atraída para a casa de um dos autores do crime, onde foi violentada. A jovem, que passou por anos de tratamento psicológico para enfrentar o trauma, só teve coragem de denunciar o caso sete anos depois, em agosto de 2019.

Segundo o diário argentino Página/12, os seis autores do crime seriam todos primos entre si, e netos de um ex-governador da província de Chubut, onde fica a cidade de Rawson. Com a denúncia por “abuso simples”, eles podem pegar no máximo uma pena de três anos de prisão, o que poderia ser facilmente revertido por sua condição de réus primários, além de obrigação de indenizar a vítima.

Também foi revelado pelo jornal que o promotor Rivarola tinha vínculo com o advogado dos acusados, que o defendeu de um processo por fraude em 2018, e conseguiu sua absolvição.

O movimento Ni Una Menos, que luta contra a violência de gênero na Argentina, publicou uma nota de repúdio contra o caso, e exigiu à Justiça Federal da Argentina uma intervenção no caso, para afastar o promotor Rivalora. “Está claro que não é uma pessoa idônea para atuar neste caso, que deveria ser administrado por alguém com perspectiva de gênero”, diz o comunicado.

A advogada da vítima, Alejandra Tolosa, disse que “isso mostra como o patriarcado ainda é forte na Justiça argentina, porque não só um fiscal apresenta uma denúncia absurda assim, que mais parece uma provocação, como o Ministério Público ainda se manifesta em sua defesa, e pode ter certeza que não é só por corporativismo”.