Belarus: O que está por trás da eleição de Lukashenko?

Reeleito nesse domingo (9) para seu 6º mandato consecutivo, Alexander Lukashenko governa o país há 26 anos. Diferentemente das políticas de orientação liberal espalhadas em intensidades e formas variadas nas ex-repúblicas soviéticas – e até na própria Rússia – com o fim da URSS, o governo de Lukashenko conduz a Belarus com uma perspectiva bem soviética

Lukashenko e Putin (Reprodução)
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Com 9,5 milhões de habitantes, Belarus (ou Bielorrússia) é um país do leste europeu que faz fronteira com a Rússia, Ucrânia, Polônia e os bálticos Lituânia e Letônia. Fundador e ex-integrante da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), o país teve sua independência declarada em 1991 e a eleição de seu atual presidente em 1994.
Reeleito nesse domingo (9) para seu 6º mandato consecutivo, Alexander Lukashenko governa o país há 26 anos. Diferentemente das políticas de orientação liberal espalhadas em intensidades e formas variadas nas ex-repúblicas soviéticas – e até na própria Rússia – com o fim da URSS, o governo de Lukashenko conduz o país com uma perspectiva bem soviética.

Segundo matéria do The Moscow Times (7/8/2020), após mais de um quarto de século do colapso da URSS, o governo bielorrusso segue tendo “um serviço de segurança chamado KGB, adere ao comando econômico e olha para Moscou como seu principal aliado, financiador e provedor de energia”. Apesar do estilo e da proximidade, Lukashenko e Putin tem uma “relação dúbia”, como observa o diário português Público (9/8/2020).

Ao mesmo tempo que Lukashenko declara: “Eu considero Putin como meu irmão mais velho”, como replicou a agência de notícias russa Tass (6/8/2020); e instala a primeira Usina Nuclear com a estatal russa Rosatom - próximo à fronteira com a Lituânia (Tass 7/8/2020); o líder bielorrusso teve uma postura considerada errática sobre a anexação da Crimeia e, em fevereiro, recebeu o Secretário de Estado de Trump, Mike Pompeo, o primeiro integrante de primeiro escalão do governo norte-americano em visita oficial no país desde 1994.

Fortalecendo essas contradições, no último dia 29 de julho as forças de inteligência e policiais bielorrussas realizaram uma série de detenções, com destaque para a prisão de 33 russos. Esse caso, por sua vez, teve o objetivo apontado por Lukashenko como sendo “terrorista”. Com versões desencontradas, o governo ucraniano entrou no jogo pedindo a extradição dos detentos; enquanto o Kremlin declarou que são apenas “empregados de uma empresa de segurança privada”.

Segundo relatos de diversos meios ocidentais e também russos, o número de presos, só durante o período eleitoral, ultrapassa 1300 (Al Jazeera). Agora, com a reeleição polêmica de Lukashenko com cerca de 80% dos votos – ainda sob contestação dos adversários, como a ex-professora de inglês, Svetlana Tikhanovskaya - a preocupação é sobre a “estabilidade” do país. A candidata propunha a convocação de eleições livres em 6 meses caso fosse eleita, o retorno da Constituição pré-1996 que limita a reeleição do presidente a 2 mandatos e a libertação de prisioneiros políticos.

Após o fim da eleição de domingo, cenas de protestos foram divulgadas a partir de várias localidades, que vão da Praça da Vitória na capital Minsk, passando por cidades como Brest, Gomel e Vitebsk. As forças policiais usaram canhões de água, gás lacrimogêneo, granadas e balas de borracha, de acordo com notícias reproduzidas pela Russian Television (RT), ligada ao governo russo.

O tumultuado processo eleitoral teve as maiores mobilizações vistas desde o fim da URSS. De acordo com as organizações NetBlocks e Honest People, houve desligamento da conexão de internet e aplicativos similares ao Whatsapp nos últimos dias, assim como não foram autorizadas as fiscalizações de opositores e especialistas internacionais sobre o pleito.

Putin, por sua vez, já declarou que Moscou tem o “interesse em manter a situação política de Belarus estável”. Lukashenko, por outro lado, já declarou que o país está sob uma situação de “guerra híbrida” e que não deixará o país caminhar para “Maidan” – em alusão a Praça que virou marco de manifestações na vizinha Ucrânia. A chefe da Comissão Eleitoral (desde 1996), Lidia Yermoshina, declarou à agência espanhola EFE que os adversários devem “reconhecer a derrota” e ressaltou em outro momento para o inglês The Guardian que os opositores são financiados por “banqueiros criminosos”.