Bento XVI volta atrás e admite presença em reunião sobre padre acusado de abuso sexual

O Papa emérito foi avisado de que crianças estavam sendo abusadas quando era arcebispo, mas não tomou nenhuma medida contra os acusados

Papa Bento XVI. Foto: Wikimmedia Commons
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Após negar em um primeiro momento, o Papa emérito Bento XVI admitiu nesta segunda-feira (24), ter participado de uma reunião para discutir acusações a um padre denunciado por abuso sexual em 1980, quando ele era arcebispo de Munique, na Alemanha, cargo que ocupou como o cardeal Joseph Ratzinger entre 1977 e 1982.

O novo comunicado foi emitido após ele ter negado participação no encontro. Ele afirmou na mensagem que houve "um erro na edição de seu depoimento" anterior.

Omissão

Uma investigação independente afirmou, na semana passada, que o Papa emérito se omitiu em agir contra integrantes da Igreja acusados em quatro casos de abusos sexuais contra crianças.  Em um documento de 82 páginas com informações e respostas enviados aos investigadores, Bento XVI havia negado ter ciência de qualquer denúncia.

A ata de uma das reuniões, ocorrida em 15 de janeiro de 1980, consta a informação de que o então cardeal estava presente e definiu a acusação ao sacerdote como "pouco crível". A nova declaração insiste em que nenhuma decisão sobre a volta do padre a suas atividades pastorais foi tomada na reunião.

De acordo com o secretário particular de Bento XVI, Georg Gänswein, o erro "não foi feito com má intenção" e acrescentou que o Papa "lamenta muito e pede desculpas pelo ocorrido". O religioso planeja emitir uma declaração detalhada em uma data posterior, já que "a revisão completa do relatório de 1.900 páginas ainda precisa de tempo".

Uma investigação encomendada pela Arquidiocese de Munique e Freising ao escritório de advocacia alemão Westpfahl Spilker Wastl (WSW) concluiu que houve pelo menos 497 vítimas de abuso no âmbito da arquidioce entre 1945 e 2019.

Meninos entre 6 e 14 anos

A maioria, conforme a investigação, era de meninos, 60% deles com idades entre 6 e 14 anos. O relatório ainda identificou 235 agressores, incluindo padres, diáconos e funcionários de escolas católicas.

O relatório diz ainda que Bento XVI, agora com 94 anos, fora avisado de que crianças estavam sendo abusadas quando era arcebispo, mas não tomou nenhuma medida contra os acusados. Segundo os responsáveis pela investigação, os casos em que o então arcebispo se omitiu envolviam quatro meninos.

“Em um total de quatro episódios, chegamos à conclusão de que o então arcebispo, o cardeal Ratzinger, pode ser acusado de má conduta em casos de abuso sexual. Ele ainda alega que não sabia dos casos, mas, na nossa opinião, é difícil conciliar essa alegação com a documentação que temos”, disse Martin Pusch, um dos autores do relatório.

Com informações de agências internacionais e O Globo