Catalunha: semana decisiva para o impasse independentista

Apreensão após ultimato espanhol, traz dúvidas sobre a declaração de independência catalã.

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Apreensão após ultimato espanhol traz dúvidas sobre a declaração de independência catalã. Por Vinicius Sartorato*, colaborador da Rede Fórum de Jornalismo O separatismo é “uma ferida aberta” na formação política da Espanha moderna. Nesse sentido, ao desobedecer a decisão judicial e as ordens de Madri, o presidente catalão, Carles Puigdemont (PDdeCat) tocou nessa ferida e transformou-se no maior desafeto do momento para o primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy (PP). Ao apresentar ao parlamento catalão (e em seguida suspender) a declaração de independência da Catalunha, Puigdemont fez uma “jogada de xadrez”, que por sua vez, surpreendeu a todos, manteve o impasse vivo, enquanto sob o discurso do diálogo tenta reduzir seus riscos e o seu nível de isolamento. Tal isolamento, toma todo espectro partidário do país e divide-se, de modo geral, em três polos: 1) à direita, com o Partido Popular (PP) e os Cidadãos (Cs), sem margem de diálogo; 2) à esquerda, com o Partido Socialista (PSOE) e o Podemos, que enfatizam a falência moral do governo Rajoy e a necessidade de uma reforma constitucional sobre a plurinacionalidade do país; e 3) com os próprios independentistas, que contam com pouco apoio (inter)nacional para suas causas. Neste sentido, percebendo tal fragilidade, Rajoy deu um ultimato por um “retorno às leis”. Ameaçando o governo catalão e limitando-se a propor um diálogo sobre os temas: financiamento e autogoverno – mas jamais uma independência. Mas, quais seriam as opções/alternativas para o impasse? Se Puigdemont capitular em sua causa, verá sua frente independentista como fraco ou traidor. Por outro lado, se reafirmar a declaração, sofrerá sanções mais duras de Madri, saboreando a força do Artigo 155 da Constituição Espanhola, que cancela a autonomia da Comunidade Catalã, dissolve o governo, resultando na prática em uma intervenção militar, política e econômica na região. Diante desse difícil “quebra-cabeças”, as questões levantadas são: a quem interessa fortalecer o nacionalismo espanhol? Quem teme o nacionalismo étnico catalão? Existe ainda alguma forma de conformar esses povos em uma Espanha plurinacional? Devemos ignorar essa questão cultural-democrática ou trata-se apenas de uma guerra intra-burguesa? Quais são os benefícios ou riscos para classe trabalhadora espanhola e/ou catalã? Em cartas trocadas nesta segunda-feira, Puigdemont reafirma o direito de autodeterminação catalão, critica a violência policial, a intervenção em correspondências, contas bancárias, perseguição de servidores e pede dois meses para dialogar. Por sua vez, Rajoy endureceu o tom e deu mais alguns dias para que se esclareça o “imbróglio”. Na prática, a intervenção espanhola já acontece desde 1º/10 (Dia do Referendo) e a situação só pode piorar para os catalães. Resta saber até onde irá a ousadia de Puigdemont. *Vinicius Sartorato é Sociólogo. Mestre em Políticas de Trabalho e Globalização (Universidade de Kassel, Alemanha) Foto: Commons