Chile: 'Bolsonaro chileno' e líder de esquerda se enfrentarão no segundo turno das eleições

José Kast, de extrema-direita, e Gabriel Boric, de esquerda. vão se enfrentar em um segundo turno que lembra a disputa entre Bolsonaro e Haddad no Brasil

José Kast e Gabriel Boric, candidatos à presidência do Chile | Montagem (Fotos: Reprodução/ Instagram)
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O segundo turno das eleições presidenciais do Chile terá um pouquinho de Brasil. Nenhum dos candidatos é brasileiro, mas o cenário faz lembrar as eleições brasileiras de 2018. O ultra-direitista José Antonio Kast, conhecido como a versão chilena de Jair Bolsonaro, enfrentará Gabriel Boric, ex-líder estudantil de esquerda que concorre pela Frente Ampla.

Apesar da presença de um 'Bolsonaro' e de o adversário ser do campo progressista, não é possível cravar se acontecerá por lá o mesmo que ocorreu no Brasil em 2018, dada a pulverização dos votos e a baixa participação eleitoral, de apenas 40%.

Com 91,52% das urnas apuradas segundo o Serviço Eleitoral do Chile (Servel), Kast e Boric já estão garantidos no segundo turno. O candidato de extrema-direita registra 28,01% dos votos contra 25,64% do esquerdista. A distância entre os dois é de cerca de 150 mil votos.

Em terceiro lugar aparece Franco Parisi, com 12,97%. Sebastian Sichel, apoiado pelo atual presidente Sebatián Piñera, ficou em quarto, com 12,61%. Yasna Provoste, da antiga Concertação de Michelle Bachelet, teve 11,72%. Marco Enríquez-Ominami mobilizou 7,59% do eleitorado, enquanto Eduardo Artés conquistou apenas 1,46%.

Levando em conta o eleitorado que foi às urnas, Kast poderia ter mais chances por ter mais facilidade em agregar os apoiadores do terceiro e do quarto colocado, mas Boric pode explorar os eleitores que não se mobilizaram no primeiro turno. O voto no Chile é facultativo.

Apesar da semelhança dos candidatos com a dupla presente na disputa brasileira de 2018, os números mostram que os dois chegam com chances de vitória muito semelhantes ao segundo turno. "O cenário brasileiro era de extrema polarização, esse não é o cenário aqui. Com as migrações de votos do primeiro turno, os dois candidatos partem de uma margem de 40%", disse a cientista política Talita Tanscheit, doutora pelo Iesp/Uerj e professora da UFRJ, durante transmissão ao vivo realizada pelo Lado B do Rio sobre as eleições chilenas.

"É um cenário de muita fragmentação, isso não é algo comum de ocorrer no Chile", completou Tanscheit.

O segundo turno das eleições do Chile, entre Kast e Boric, acontece em 19 de dezembro. Kast encarna a herança do ex-ditador Augusto Pinochet, enquanto Boric representa os movimentos sociais que marcharam no Chile contra o neoliberalismo nos últimos anos e conseguiram uma Assembleia Constituinte.