CHINA EM FOCO | ESPECIAL

China, uma grande família socialista formada por 56 etnias que desfrutam de autonomia

Com uma população de cerca de 1,4 bilhão de habitantes, o gigante asiático adota políticas para garantir autonomia a minorias étnicas e liberdade de crença para o povo

Créditos: CIPPC
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Créditos: Diário do Povo
Créditos: SNL - A área ao longo do rio Li Jiang, perto da cidade de Guilin, em Guangxi, é conhecida como uma das áreas mais bonitas da China.
Créditos: Xinhua - Vista aérea da cidade de Arxan, na Região Autônoma da Mongólia Interior, no norte da China. 
Créditos: Pixabay - Complexo de Mosteiro Budista no Tibete
Créditos: Wikimedia Commons - Vista aérea de Urumqi, capital da Região Autônoma Uigur de Xinjiang
Créditos: Xinhua - Paisagem do parque Baohu em Yinchuan, Região Autônoma de Ningxia Hui, no noroeste da China.
Créditos: Xinhua
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A China adota políticas inclusivas voltadas para minorias étnicas e garante a liberdade religiosa para todo o povo chinês. Com uma população com cerca de 1,4 bilhão de habitantes, essa civilização milenar é uma grande família socialista formada por 56 grupos étnicos que convivem em harmonia. 

A maioria da população é da etnia Han. As outras 55 nacionalidades são consideradas minorias étnicas, que representam 8,49% do total demográfico. O grupo étnico Zhuang é o segundo mais numeroso. A língua oficial predominante é o chinês mandarim (língua Han) ou 'putonghua', em chinês.

O país é oficialmente um estado multiétnico e fornece autonomia administrativa a áreas habitadas principalmente por algum grupo étnico minoritário. São adotadas políticas que conferem vantagens às minorias étnicas em áreas como controle populacional, admissões escolares, emprego no governo e recrutamento militar etc. 

Além disso, o governo chinês condena e proíbe oficialmente o chauvinismo da maioria Han, e reconhece todas as 56 nacionalidades como membros iguais do povo chinês.

Como as minorias étnicas tendem a viver em áreas menos desenvolvidas, o governo chinês tem buscado que cada vez mais profissionais e especialistas se mudem para essas áreas pobres, onde de outra forma nunca iriam. Os resultados desses esforços  já podem ser conferidos. As áreas de minorias étnicas da China fizeram progressos notáveis no combate à pobreza.

De 2016 a 2020, o número de pobres caiu 15,6 milhões nas cinco regiões autônomas do país -  Mongólia Interior, Guangxi, Tibete, Ningxia e Xinjiang - e nas três províncias que têm uma multi-população - Guizhou, Yunnan e Qinghai. Em 2021, a pobreza extrema foi varrida dessas áreas étnicas minoritárias.

Alguns grupos étnicos que ainda se encontravam na fase posterior da sociedade primitiva quando a República Popular da China foi fundada, em 1949, deram um salto em direção ao socialismo e, em seguida, fizeram grandes progressos em direção a uma sociedade moderadamente próspera em todos os aspectos.

56 etnias da China

Cada uma das 55 minorias étnicas representa tradições e culturas únicas. A política chinesa sobre essas populações estabelece a preservação da igualdade, solidariedade e prosperidade entre as diferentes nacionalidades; a defesa da autonomia das regiões onde vivem; a promoção do desenvolvimento da economia, da cultura, da ciência, da educação e da saúde desses cidadãos; o treinamento de pessoas dessas etnias; o uso e a promoção das línguas e escritas de cada uma delas; o respeito às tradições, aos hábitos e à crença religiosa; e a proteção da liberdade religiosa. 

Esses dados foram apresentados durante uma conferência realizada na manhã desta quarta-feira (27), na capital chinesa, Pequim, pelo professor Chang Fuliang. O público era formado por um grupo de jornalistas latino-americanos que participa do programa do Centro de Comunicação da Imprensa Internacional da China (CIPPC, na sigla em inglês), vinculado à Associação Chinesa de Diplomacia Pública. Esta colunista, ainda cumprindo quarentena em Chengdu, capital da província Sichuan, localizada à sudoeste do país, acompanhou a apresentação pela plataforma Zoom. 

O conferencista Chang é graduado e mestre em Filologia Hispânica e especializado em tradução chinês-espanhol. Entre outras experiências profissionais, de 1996 a 2012 foi professor na Universidade Pedagógica da Capital de Pequim e, entre 2000 e 2012, também foi decano do Departamento de Filologia Hispânica Espanhola. Desde 2013 é professor de tradução chinês-espanhol, sintaxe e retórica espanhola na Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim e, desde 2019, é reitor da Faculdade de Estudos Hispânicos e Portugueses na mesma instituição.

Durante a apresentação, intitulada 'As políticas distintivas da China sobre minorias étnicas e religiões', Chang traçou um panorama detalhado sobre o tema. Ele explicou que o chinês mandarim é a língua oficial falada e escrita. Mas muitos grupos étnicos têm o próprio idioma, como, por exemplo, os Uigures, os Tibetanos, os Mongóis, os Zhuang, os Hui e os Manchus.

O chinês mandarim, junto com os caracteres chineses - cerca de 50 mil ao todo, mas cinco mil são geralmente usados para ler, escrever e falar - desempenham um papel significativo na promoção de intercâmbios entre diferentes grupos étnicos e na criação de um forte senso de comunidade para a nação chinesa. 

Por essa razão, ressaltou Chang, o putonghua falado e escrito (chinês mandarim) é promovido e é considerado a base da unidade étnica do país. Há também numerosos dialetos, que são falados principalmente nas áreas rurais.

"Existe uma lei sobre o uso de idiomas e escritas para melhor proteger a liberdade dos grupos étnicos de usar seus próprios idiomas, bem como promover o idioma padrão. A educação bilíngue em áreas com grandes populações étnicas minoritárias é promovida, incluindo o aumento do financiamento", explicou o professor.

As nacionalidades são identificadas como forma de garantir a igualdade entre os diferentes grupos étnicos chineses. A partir da realidade do país, a identificação etnográfica é realizada de acordo com quatro critérios: compartilhar o mesmo idioma e terra de residência, ter atividades econômicas e psicologia comuns. 

Chang esclareceu que a identificação etnográfica é parte essencial do exercício de políticas sobre grupos étnicos em um país socialista como a China."É uma maneira de garantir a igualdade de direitos, bem como o desenvolvimento harmonioso da grande família chinesa. Sem igualdade, como falar de solidariedade?", pontuou. 

Constituição socialista

Constituição da República Popular da China

O Comitê Central do Partido Comunista da China (PCCh) incluiu na Constituição do país o princípio "relações interétnicas socialistas harmoniosas". Nesse espírito, o país tem cinco regiões autônomas: Mongólia Interior, Tibete, Ningxia Hui, Uigur de Xinjiang e Guangxi Zhuang. "Relações socialistas de igualdade, unidade, ajuda mútua e harmonia foram estabelecidas entre os grupos étnicos e continuarão a ser fortalecidas", observou Chang.

O texto constitucional chinês estabelece que nas regiões autônomas, as assembleias populares, prefeituras e distritos autônomos, a nacionalidade ou nacionalidades que exerçam autonomia regional na localidade ou nela residam devem estar representadas em número adequado.

"É necessário que os cargos de presidente ou vice-presidente das comissões permanentes das assembleias populares das regiões, prefeituras e distritos autônomos correspondam a cidadãos da nacionalidade ou nacionalidades que exerçam autonomia regional na sua área", diz a legislação.

Além disso, a constituição determina que os cargos de presidente da região autônoma, prefeito e chefe do distrito sejam ocupados por cidadãos da nacionalidade ou nacionalidades que exerçam autonomia regional na sua área.

Outra determinação constitucional é que as regiões autônomas têm autonomia para gerir as finanças locais. A parte das receitas públicas que corresponde às áreas de autonomia nacional, de acordo com o sistema financeiro do Estado, é disponibilizada gratuitamente a essas localidades. 

A Constituição da China estabelece ainda que as regiões autônomas têm e administram, de forma independente, a construção econômica da localidade orientada pelos planos estatais. O Estado, ao explorar os recursos naturais e construir empresas nas áreas de autonomia nacional, deve levar em consideração os interesses da região. 

O texto constitucional determina que as regiões autônomas administram de forma independente a educação, a ciência, a cultura, a saúde pública e a cultura física das respectivas localidades, restauram e protegem o patrimônio cultural da nacionalidade em causa e trabalham para o seu desenvolvimento para prosperar a cultura da nacionalidade. Elas utilizam a língua ou línguas habitualmente faladas ou escritas nas respectivas localidades.

As regiões autônomas podem organizar, de acordo com o sistema militar do Estado e as necessidades reais das suas próprias áreas, as forças locais de segurança pública para manutenção da ordem pública, com autorização prévia do Conselho do Estado chinês. 

O Estado chinês presta assistência financeira material e técnica às minorias nacionais para acelerar o seu desenvolvimento econômico e cultural e ajuda essas regiões a preparar um grande número de quadros a vários níveis e todo o tipo de pessoas especializadas e técnicos pertencentes às nacionalidades dessas localidades. 

Os cidadãos de todas as nacionalidades têm o direito de usar a sua própria língua falada ou escrita nos processos judiciais. Os tribunais populares e as procuradorias populares devem fornecer a tradução às partes que conheçam a língua falada ou escrita de uso comum no lugar em questão.

Nas áreas onde uma minoria nacional vive em uma comunidade compacta ou onde vivem várias nacionalidades, as audiências devem ser realizadas na língua ou línguas faladas de uso comum na área. As acusações, despachos, notificações e demais documentos devem ser divulgados, de acordo com as necessidades específicas, em uma ou mais línguas escritas de uso comum na área.

As cinco Regiões Autônomas da China

Região Autônoma de Guangxi Zhuang 


A área ao longo do rio Li Jiang, perto da cidade de Guilin, em Guangxi, é conhecida como talvez a área mais bonita da China.

Guangxi é uma região onde coexistem múltiplas minorias étnicas, incluindo 25 grupos étnicos e 12 minorias que vivem no local há gerações: Zhuang, Han, Yao, Miao, Dong, Mulao, Maonan, Hui, Jing, Yi, Shui e Gelao. 

Em 1999, dos 47,13 milhões de habitantes de Guangxi, 17,956 milhões pertenciam a grupos étnicos, representando 38,1% da população total. Essa região autônoma é a que tem a maior população étnica da China, que inclui 15,38 milhões de Zhuang, cujo número representa 32,6% dos habitantes da região pertencentes a minorias étnicas. A distribuição dos Zhuang é bastante concentrada, já que 95% vivem em Guangxi, enquanto o restante está distribuído na cidades de Yunnan, Guangdong, Guizhou, Hunan e Sichuan.

Atualmente, esta região autônoma tem 157 escolas primárias, 36 escolas secundárias étnicas, 22 escolas secundárias étnicas especializadas e três faculdades comunitárias. A proporção do número de estudantes de minorias étnicas para o número total de alunos é igual ou superior à proporção da população étnica para a população total de Guangxi.

Região Autônoma da Mongólia Interior

Vista aérea da cidade de Arxan, na Região Autônoma da Mongólia Interior, no norte da China. 
 

A população regional é composta por 49 grupos étnicos, incluindo Mongóis, Han, Manchus, Daur, Oroqen, Evenki e coreanos. Os mongóis são 3.972.600 pessoas; os Han, 18.746.500; e os de outros grupos étnicos, 900.100. A população rural é de 13,78 milhões de habitantes, sendo 11,87 milhões da área agrícola e 1,91 milhão da área pecuária.

Região Autônoma do Tibete

Complexo de Mosteiro Budista na Região Autônoma do Tibete

Localizada no Planalto Qinghai-Tibete, a Região Autônoma do Tibete é formada por uma a população de 2,236 milhões de tibetanos, 96,4% da população regional; 66 mil habitantes da etnia Han, 2,8% e 18 mil  das demais etnias, 0,8%. 

No Tibete, a maior comunidade de tibetanos da China, vivem 45% dos membros da etnia tibetana de todo o país. Além dos tibetanos, também habitam a região as etnias Han, Menba, Louba e Hui e o grupo Xiarba.

O grupo étnico Menba, o mais antigo que vive no planalto tibetano, concentra-se principalmente na província de Menyu, no sul da região autônoma, com o restante nos distritos de Medog, Nyinchi e Cona.

O grupo étnico Luoba vive principalmente na província de Luoyu, no sudeste da região autônoma, e o restante nos condados de Minling, Medog, Zayu, Longzi e Langxiang.

Um grande número do povo Hui que agora vive no Tibete é descendente dos Hui que vieram durante a dinastia Qing (1644-1911) de Gansu, Shaanxi, Qinghai, Sichuan e Yunnan, e o restante veio da Ásia Central. Os Hui estão concentrados nas cidades de Lhasa, Xigaze e Qamdo e estão principalmente envolvidos em negócios comerciais, artesanato e benefício de gado e ovelhas.

Os Xiarba vivem em comunidade no condado de Lixin, perto do porto de Cham, e em Chentang, distrito de Dinggye.

Um grande grupo de pessoas Han mudou-se para o Tibete durante a dinastia Qing e alguns deles se aculturaram com os tibetanos. Hoje, a maioria dos Han que vivem no Tibete são técnicos, trabalhadores, professores, médicos e funcionários públicos, vindos das províncias, regiões e cidades do interior da China.

Região Autônoma Uigur de Xinjiang

Vista aérea de Urumqi, capital da Região Autônoma Uigur de Xinjiang

A população uigur na Região Autônoma Uigur de Xinjiang, noroeste da China, tem visto um crescimento constante nos últimos anos. De acordo com estatísticas oficiais, de 2010 a 2018, a população uigur na região cresceu de 10,17 milhões para 12,72 milhões, um aumento de 25,04%.

A taxa de crescimento da população uigur em Xinjiang é superior não só à da população total da região, que é de 13,99%, mas também à de todos os grupos étnicos minoritários, que é de 22,14%, e bem acima dos 2% da população Han.

Região Autônoma de Ningxia Hui

Paisagem do parque Baohu em Yinchuan, Região Autônoma de Ningxia Hui, no noroeste da China.

A etnia Hui, de 1.829.700 pessoas, representa 34,1% da população regional e um quinto dos Hui em toda a China. O grupo étnico Han representa 65,36% da população de Ningxia. 

Além disso, 33 outras minorias étnicas vivem na região, incluindo Mana, Dongxiang e Mongol. Os Hui vivem principalmente em Tongxin, Guyuan, Xiji, Haiyuan, Jingyuan nas áreas montanhosas do sul, e Wuzhong e Lingwu na área irrigada pelo Rio Amarelo.

Liberdade religiosa

Budismo é uma das crenças mais praticadas na China.

A Constituição chinesa garante ao povo liberdade de acreditar e não acreditar na religião e há respeito mútuo entre ateus e crentes. As atividades religiosas devem ser realizadas dentro da estrutura constitucional, legal e política. Todas as religiões são iguais, assim como separadas do poder estatal

O Estado chinês está acima das organizações religiosas. Ninguém pode se aproveitar da religião para realizar ações prejudiciais à ordem social, à saúde dos cidadãos ou ao sistema educacional. Grupos religiosos e atividades religiosas devem ser independentes da dominação de forças estrangeiras. Por exemplo, os católicos chineses não têm relação com o Vaticano.

Na China existe o budismo, o taoísmo, o islamismo, o catolicismo, entre outras religiões. O número da população crente está perto de 200 milhões, e o número de clérigos excede 380 mil. Budistas e taoístas são os mais numerosos entre os crentes religiosos.

Existem aproximadamente 5 mil e 500 grupos religiosos na China, incluindo sete a nível nacional: a Associação Budista da China, a Associação Taoísta da China, a Associação Islâmica da China, a Associação Chinesa de Católicos Patrióticos, o Grupo dos Bispos Católicos Chineses, os Três Cristãos da China - Comissão de Movimentos Auto-Patriotistas e a Associação Cristã da China.

* Iara Vidal viajou para a China a convite do Centro de Comunicação da Imprensa Internacional da China (CIPPC, na sigla em inglês), vinculado à Associação Chinesa de Diplomacia Pública.