CHINA EM FOCO | CRISE EM TAIWAN

China continua a realização de exercícios militares ao redor de Taiwan

Depois de 72 horas de atividades sem precedentes do Exército de Libertação Popular no Estreito de Taiwan, a operação deflagrada em resposta às provocações dos EUA e forças separatistas da ilha prossegue

Créditos: Xinhua - ELP anunciou hoje uma nova fase de exercícios militares ao redor de Taiwan.
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Os exercícios militares do Exército de Libertação Popular (ELP) em torno de Taiwan continuaram nesta segunda-feira (8). A nova fase da operação militar ocorre após 72 horas de exercícios sem precedentes em resposta à visita da presidenta da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, ao território insular na última terça-feira (2).

O Comando Leste do ELP, em comunicado por meio da conta oficial do WeChat nesta segunda-feira (8), informou que os exercícios conjuntos prosseguem ao redor de Taiwan e estão concentrados em ataques anti-submarinos e marítimos. 

"O Comando Leste continuará a realizar exercícios conjuntos práticos no mar e no espaço aéreo ao redor da ilha de Taiwan, concentrando-se na organização de operações conjuntas anti-submarino e de assalto marítimo", diz o comunicado.

Chanceler chinês aponta três erros dos EUA na visita de Nancy Pelosi a Taiwan

Wikimedia Commons - Conselheiro de Estado e ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi

Os Estados Unidos interferiram grosseiramente nos assuntos internos da China, apoiaram as forças da 'independência de Taiwan' e sabotaram deliberadamente a paz no Estreito de Taiwan. Esses foram os três erros que Washington cometeu neste episódio, de acordo com as declarações feitas pelo conselheiro de Estado e ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, neste domingo (7).

"Os EUA, desconsiderando as repetidas notificações e advertências da China, estavam empenhados em organizar a chamada visita do número três do governo dos EUA à região chinesa de Taiwan", disse Wang, que estava em visita a Bangladesh.

Wang destacou que é preciso compreender que Taiwan não faz parte dos Estados Unidos, mas do território chinês, e que o lado estadunidense assumiu um compromisso público sobre essa questão. Ele acrescentou que a ação dos EUA é uma violação grave do direito da China à própria soberania.

O ministro das Relações Exteriores chinês disse ainda que os atos dos EUA também toleram e apoiam as forças da "independência de Taiwan". "Qualquer país deve salvaguardar a unidade nacional e não permitirá que as forças separatistas se comportem de forma imprudente."

Wang observou que o Partido Democrático Progressista (DPP, na sigla em inglês) na região de Taiwan incluiu a busca da "independência" no programa partidário e, nos últimos anos, tentou todos os meios possíveis para buscar esse objetivo e criar "duas Chinas", ou "uma China, uma Taiwan". "Pelosi apoiou abertamente esses esforços, apoiando os separatistas contra o povo chinês", acrescentou. 

Os atos dos EUA minaram deliberadamente a paz no Estreito de Taiwan, apontou Wang. O chanceler ressaltou que os EUA estão acostumados a criar um problema primeiro e depois usá-lo para alcançar sua própria agenda estratégica.

"Há sinais de que os EUA estão tentando repetir seus velhos truques planejando a visita de Pelosi e aproveitando a oportunidade para aumentar sua presença militar na região, que merece alta vigilância e resistência resoluta de todos os lados", alertou Wang. Ele enfatizou que as medidas adotadas pela China são legítimas, razoáveis, lícitas, necessárias, abertas e proporcionais.

A China visa salvaguardar a própria soberania e integridade territorial e impedir as tentativas dos EUA de "usar Taiwan para conter a China". Para isso, o país asiático vai destruir a ilusão da autoridade do DPP de "buscar o apoio dos EUA para sua agenda de independência" e manter a paz no Estreito de Taiwan e a estabilidade na região , garantiu Wang.

O chanceler afirmou ainda que o princípio de não interferência nos assuntos internos de um Estado soberano é a "regra de ouro" de lidar com as relações entre os Estados e a "ferramenta mágica" para os países em desenvolvimento salvaguardarem sua soberania e segurança.

O ministro das Relações Exteriores chinês agradeceu a todos os países pela compreensão e apoio à posição da China. Ele também instou a comunidade internacional a se posicionar firmemente contra o unilateralismo e o bullying para salvaguardar conjuntamente as normas básicas das relações internacionais, bem como os direitos e interesses legítimos de todos os países em desenvolvimento.

'Você está errado': chancelaria chinesa rebate EUA sobre questão de Taiwan com sequência de posts no Twitter

Xinhua - Porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Hua Chunying

A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Hua Chunying, postou neste domingo (7) uma sequência de oito posts no Twitter em que rejeita as alegações dos EUA de que a China teria exagerado na resposta à viagem provocativa da presidenta da Câmara dos Deputados estadunidense, Nancy Pelosi, à ilha de Taiwan na última terça-feira (2). 

No último tuíte do fio, Hua apontou que "o povo chinês nunca esquecerá sua vergonha nacional e nunca permitirá que esses bandidos intimidem e saquem a China novamente".

Após os maiores exercícios militares da China no Estreito de Taiwan, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, chamou a resposta da China à viagem de Pelosi a Taiwan de "reação exagerada", informou a agência de mídia estatal turca Anadolu Agency, na sexta-feira (5).

"O fato é que a visita da parlamentar foi pacífica. Não há justificativa para essa resposta militar extrema, desproporcional e escalada", disse Blinken durante entrevista coletiva no Camboja, onde participava da cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean).

O embaixador dos EUA na China, Nicholas Burns, declarou neste domingo (7) que as ações da China dentro e ao redor do Estreito de Taiwan "ameaçam o status quo de muitas décadas. Ele acrescentou que "o mundo deve responsabilizar Pequim por manter a paz".

Em resposta a essas alegações, Hua afirmou ao embaixador e ao Departamento de Estado dos EUA: "Vocês estão errados". Ela destacou o fato de que os EUA não representam o mundo inteiro, muito menos os muitos países em desenvolvimento.

"Os EUA não devem fingir surpresa com a resposta chinesa, pois tentamos todos os meios para alertar sobre as consequências da visita de Pelosi a Taiwan, inclusive no mais alto nível", continuou Hua.

Hua ressaltou ainda o comentário de Pelosi em que a democrata chamou a visita à Taiwan de "não oficial". A porta-voz observou que a declaração da parlamentar mostrou que o compromisso do governo dos EUA de manter apenas relações não oficiais com Taiwan é uma mentira. "Poderia uma visita da figura número 3 do governo dos EUA em uma aeronave militar escoltada por navios da marinha ser descrita como 'não oficial'?", perguntou.

"Esta é a prova de que o governo dos EUA foi cúmplice o tempo todo e, portanto, deve aceitar todas as responsabilidades e consequências", afirmou Hua.

A porta-voz também reiterou que o único caminho a seguir para as relações China-EUA é retornar ao princípio de 'Uma só China' e aos três comunicados conjuntos sino-americanos, em vez de fatiar essa política ou alterá-la furtivamente.

Mais tarde, Hua retuitou um post de ChaoyangShaoxia, um observador de assuntos internacionais, que disse que o G7 tem agido como um ladrão gritando "pare de ladrão", enquanto a China tem o apoio de mais de 160 países para sua causa justa.

Diplomacia chinesa faz esforço conjunto para apresentar o contexto histórico da questão de Taiwan

Diplomatas chineses mundo afora são peça-chave no atual cenário de tensão no Estreito de Taiwan. Está em curso uma operação diplomática que requer grandes esforços para introduzir o contexto histórico e o mérito da questão e reforçar o princípio de 'Uma só China' como consenso internacional. 

Para o governo chinês, é imprescindível que o mundo entenda como as tensões surgiram e por que os EUA foram os primeiros a provocar, e para que o mundo esteja preparado para entender a reunificação nacional da China, que será realizada um dia no futuro próximo.

Esse esforço diplomático faz parte da reação de Pequim à provocativa visita da presidenta da Câmara dos Deputados dos EUA, Nancy Pelosi, a Taiwan, na última terça-feira (2). Trata-se de mais uma linha de atuação do governo chinês, que se soma aos exercícios militares ao redor da ilha realizados entre os dias 4 e 7 de agosto, sanções econômicas impostas ao território insular e suspensão e cancelamento de diálogos bilaterais com o governo estadunidense.

Os resultados dessas ações diplomáticas já podem ser vistos. A maioria esmagadora da comunidade internacional mostrou apoio e compreensão às contramedidas legítimas da China em relação aos EUA e às autoridades secessionistas de Taiwan. Até o momento, de acordo com o Ministério das Relações Exteriores chinês, mais de 160 países classificaram a visita a Pelosi como uma provocação séria, imprudente e irresponsável, expressaram compromisso com o princípio de 'Uma Só China' e apoiaram os esforços da China para defender a soberania e a integridade territorial.

No entanto, apontam analistas ouvidos pela imprensa chinesa, os EUA e um punhado de aliados ainda tentam fazer uso da vantagem hegemônica estadunidense no campo da opinião pública internacional para distorcer, interpretar mal e enfraquecer o princípio de 'Uma só China' como um consenso internacional. Por essa razão, dizem os experts, é muito necessário e importante que Pequim continue dizendo ao mundo sobre a verdade da questão de Taiwan.

Na avaliação dos especialistas, ao disseminar a visão chinesa sobre a questão, os EUA não terão chance de demonizar o processo de reunificação nacional da China. Mesmo que o país tenha que reunificar a ilha de Taiwan e salvaguardar a própria soberania pela força, um dia, como resultado das provocações de Washington ou pelas autoridades de Taiwan, o mainstream da comunidade internacional manterá as atitudes de apoio e compreensão em relação à China.

Furar o certo hegemônico dos EUA na opinião pública internacional é uma tarefa árdua. Muitos meios de comunicação ocidentais, ao falar sobre a questão de Taiwan, sempre evitaram abordar o princípio 'Uma só China, quais promessas os EUA fizeram à China quando os dois países estabeleceram laços diplomáticos formais e como os EUA romperam esse acordos e tentam interromper os esforços da China para reunificar a ilha pacificamente.

Há também um silêncio na imprensa ocidental sobre como as forças separatistas de Taiwan lideradas pelo Partido Democrático Progressista (DPP, da sigla em inglês) arruinaram a tendência de desenvolvimento econômico conjunto e integração entre os dois lados do Estreito de Taiwan. Assim como de que forma as autoridades do DPP envenenaram a atmosfera para a cooperação através do Estreito com os esforços para promover educação e propaganda anti-China na ilha nos últimos anos. Especialistas apontam como exemplos dessa tática o envolvimento desses separatistas taiwaneses na turbulência de Hong Kong em 2019 e a disseminação de ódio contra o continente chinês após a pandemia de Covid-19.

Por outro lado, há muitos estrangeiros, mesmo no mundo ocidental, que vão na contramão da visão dos EUA sobre Taiwan. Como Roger Waters, co-fundador do Pink Floyd, que refutou a narrativa estadunidense sobre o tema em entrevista à CNN neste domingo (7). 

Analistas chineses disseram que pessoas como Waters, com conhecimento sobre o fato da história, que são capazes de pensar de forma independente, são corajosas para falar em voz alta pela China. Mesmo que a grande mídia do Ocidente e os governos ocidentais não deixem essas vozes se propagarem. 

10 avanços do exercício militar chinês no cerco a Taiwan 

A resposta militar da China à provocativa visita da presidenta da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, a Taiwan na última terça-feira (2) resultou em avanços importantes da presença do Exército de Libertação Popular (ELP), as forças armadas chinesas, na região. Confira os 10 principais pontos desse avanço de acordo com o portal  Yuyuan Tantian, que faz parte do China Media Group (CMG).

1. Aproximação da Marinha à costa da ilha
Dez navios de guerra chineses realizaram um exercício real orientado para o combate perto da ilha de Taiwan do país na sexta-feira (5). Fotos do exercício tiradas pelo Comando Leste do ELP mostraram que o litoral e as montanhas da ilha são claramente visíveis em um navio de guerra. Essa ação significou que Taiwan faz parte da China e é normal que uma frota da Marinha chinesa navegue no próprio mar territorial.

2. Visualização da costa da ilha a olho nu pela Força Aérea 
O ELP também despachou aviões de guerra no mesmo exercício. Os pilotos relataram que podiam ver a costa e as montanhas da ilha a olho nu. Isso, como o exercício do navio de guerra, implicava que o chamado "espaço aéreo territorial de Taiwan" pelos separatistas não faz sentido real.

3. Sobrevoo de mísseis do ELP em Taiwan
O ELP lançou vários tipos de mísseis em direção à ilha de Taiwan, que pela primeira vez voou pela ilha e atingiu os alvos no mar. A medida foi um aviso importante para os separatistas da ilha", pontuou o Yuyuan Tantian.

4. Participação do jato J-20 do exercício militar 
O mais recente tipo de jato de combate da China, o J-20, estreou em um exercício militar relacionado a Taiwan. A aeronave quebrou o monopólio dos EUA no caça furtivo, preenchendo a lacuna de geração entre a Força Aérea do ELP e as melhores forças aéreas do mundo. O exercício foi um pequeno teste para o J-20, mas colocou uma grande pressão psicológica sobre os separatistas de Taiwan, avaliou o "Yuyuan Tantian

5. Fim da 'linha mediana' do Estreito de Taiwan
A chamada "linha mediana" no Estreito de Taiwan existe apenas na imaginação dos separatistas, observou o Yuyuan Taitian. Antes do início do exercício, a China emitiu um aviso a navios e aeronaves de que seis áreas ao redor do território insular chinês seriam atingidas, entre as quais cinco estão no lado leste da chamada “linha mediana”, com a sexta colocada sobre ela. O exercício mostra que a China tem o controle total do Estreito de Taiwan. O treinamento militar no lado leste da linha se tornará normal em um futuro próximo.

6. Aproximação do bloqueio do ELP à ilha
Um dos seis alvos do cerco do ELP imposto ao território insular fica a apenas 20 quilômetros da ilha de Taiwan, marca a ação militar desse tipo mais próxima da ilha. Um J-20 pode voar 20 km em menos de meio minuto.

7. Ausência de interferência externa
O ELP tentou repelir a interferência estrangeira durante o exercício iniciado na última quinta-feira (4). Uma das áreas de bloqueio foi localizada a nordeste de Taiwan, perto de Okinawa, controlada pelo Japão. Se os EUA e o Japão quiserem interferir no processo de unificação da China, eles enviarão aviões de guerra da base militar em Okinawa, observou Yuyuan Tantian, citando uma fonte militar não identificada. Outra área do bloqueio estava localizada no Canal Bashi e fechou o acesso a Taiwan pelo Mar do Sul da China. 

8. Sem caminhos de fuga
Uma área de bloqueio foi montada a leste da ilha pela primeira vez e fechou os caminhos de fuga dos separatistas de Taiwan. 

9. Estreia de porta-aviões
O ELP também despachou formações de porta-aviões para realizar as missões de dissuasão pela primeira vez na história do exército. "Os submarinos nucleares geralmente se movem com os porta-aviões durante essas missões, explicou o pesquisador da Academia de Pesquisa Naval do ELP, Zhang Junshe.

10. Uso das cinco forças do ELP
A operação militar em Taiwan usou pela primeira vez este ano as cinco forças do ELP: Exército, Marinha, Força Aérea, Força de Foguetes e Força de Apoio Estratégico. Além disso, o ELP usou todos os tipos de armas, incluindo porta-aviões, caças, sistemas de foguetes de longo alcance e mísseis. Também foram realizadas todos os tipos de missões, como bloqueio conjunto, dissuasão e ações contra alvos terrestres, marítimos e aéreos. Segundo o Yuyuan Tantian, isso mostra que a reunificação da China deve e será alcançada.