CHINA EM FOCO | CRISE EM TAIWAN

Exercícios militares da China ao redor de Taiwan não vão parar até a reunificação

Forças Armadas chinesas estenderam os exercícios de cerco ao território insular com guerra antissubmarina e mostram poderio bélico do país que manda recado aos EUA

Créditos: ELP - Helicóptero antissubmarino Ka-28 do ELP no convés de voo do destróier de mísseis guiados Type 052C Changchun (8/8/22)
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O Exército de Libertação do Popular (ELP), as Forças Armadas da China, estendeu a programação dos exercícios militares ao redor da ilha de Taiwan. As operações estavam previstas para serem encerradas no último domingo (7), mas prosseguiram nesta segunda (8) e terça-feira (9) em torno do território insular chinês.

A resposta militar chinesa integra um conjunto de medidas adotadas pelo governo da China em resposta à provocativa viagem da presidenta da Câmara dos Deputados dos EUA, Nancy Pelosi, à ilha no dia 2 de agosto. 

Exercícios como esses não vão parar e devem se tornar rotina até a reunificação, apostam os analistas chineses. A China continental tem mostrado determinação em impulsionar o processo de reunificação do território insular chinês após a passagem relâmpago de Pelosi por lá. 

"Enquanto a questão de Taiwan não for resolvida, exercícios como esses não vão parar", afirmou o especialista militar chinês e comentarista de tevê, Song Zhongping, ao periódico chinês Global Times (GT). Ele avalia que os exercícios do ELP podem se tornar uma rotina e que quanto mais tempo a ilha seguir bloqueada, mais mostra o controle do continente sobre o território insular. 

Os jogos de guerra em curso não apenas bloqueiam a ilha de dentro para fora, mas também de fora para dentro e mandam um recado às forças externas: o ELP tem capacidade bélica com as quais nem mesmo os EUA pode rivalizar.

O Comando Leste do ELP deu prosseguimento a exercícios conjuntos realistas orientados para o combate no espaço marítimo e aéreo ao redor da ilha de Taiwan na segunda, com foco em operações conjuntas de guerra antissubmarino e assalto marítimo.

Do outro lado do Estreito, as forças armadas de Taiwan operam submarinos desatualizados, que, no entanto, precisam ser neutralizados se o ELP iniciar uma operação de reunificação pela força, avaliou um especialista militar de Pequim que pediu anonimato ao GT.

Possíveis forças de interferência militar externa, como os EUA e o Japão, têm submarinos mais avançados, particularmente os movidos a energia nuclear dos EUA, portanto, praticar exercícios de guerra antissubmarino nos terrenos subaquáticos reais ao redor da ilha de Taiwan é muito significativo. Os exercícios mostraram que o ELP pode detectar, localizar e atacar submarinos hostis de várias dimensões e se defender contra ataques.

O Pentágono ordenou que o porta-aviões USS Ronald Reagan permanecesse nas águas perto da ilha de Taiwan. Os EUA "conduzirão trânsitos aéreos e marítimos padrão pelo Estreito de Taiwan nas próximas semanas", de acordo com declaração do porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, na última quinta-feira (4), como reportou agência de notícias estadunidense Business Insider. 

Não há confirmação dos equipamentos usados pelas forças militares chinesas durante os exercícios. Mas o pesquisador sênior da Academia de Pesquisa Naval do ELP, Zhang Junshe, afirmou ao GT que o comando militar chinês enviou um grupo de porta-aviões com pelo menos um submarino nuclear para os exercícios em andamento durante a primeira atividade com porta-aviões. Além disso, a Marinha chinesa opera vários submarinos convencionais. 

No último sábado (6), navios e aviões de guerra e mísseis antinavio foram colocados na costa da ilha para aprimorar as capacidades de ataque terrestre e marítimo. No domingo, que seria o último dia dos exercícios programados originalmente, bombardeiros e caças-bombardeiros lançaram exercícios de ataque com vários tipos de munições de precisão e sobrevoaram o Estreito de Taiwan de norte a sul e de sul a norte, simultaneamente.

O especialista em aviação militar do continente chinês, Fu Qianshao, antecipou ao GT que a expectativa é que o ELP continue a praticar diferentes táticas e elementos de combate, incluindo o envolvimento de porta-aviões e guerra de desembarque anfíbio.

China inicia recrutamento militar com foco em estudantes de ciências e tecnologia 

ELP - Soldados da Força Aérea embarcam para exercício de treinamento de paraquedismo. 

O recrutamento de novos militares chineses para o segundo semestre deste ano está em andamento. O foco é atrair jovens para atuar no desenvolvimento de inteligência e informação. O chamamento de recrutas para o Exército de Libertação Popular (ELP) coincidiu com a escalada da tensão no Estreito de Taiwan depois da imprudente visita da presidenta da Câmara dos Deputados dos EUA à ilha, no último dia 2 de agosto. 

O ELP se tornou uma febre entre a juventude chinesa no Sina Weibo, rede social semelhante ao Twitter da China, e tem figurado entre os assuntos em alta entre os internautas chineses, com um crescente entusiasmo em contribuir para a reunificação nacional. Nesta segunda-feira (8), hashtags relacionadas às forças militares da China foram visualizadas cerca de 100 milhões de vezes.

"Eles podem relaxar a restrição de idade para 36 anos? Quero contribuir para a reunificação de nossa pátria!" escreveu um usuário do Weibo. “Vou me candidatar ao exército depois de me tornar estudante de pós-graduação e aprender mais tecnologias para servir ao país”, disse outro.

De acordo com a Televisão Central da China (CCTV, na sigla em inglês), em reportagem veiculada no último domingo (7), o recrutamento deste ano pretende atrair estudantes de pós-graduação com idade entre 24 e 26 anos. A prioridade é para universitários de cursos de ciências e tecnologia, além de pessoas com habilidades necessárias para lutar em uma guerra, que consistem em talentos na internet, comunicação e engenharia e pesquisa e operação de drones.

Até o momento, segundo a CCTV, mais de 110 mil pessoas atenderam ao chamado do ELP para o segundo semestre deste ano apenas na província de Zhejiang, no leste da China, entre as quais 50 mil eram estudantes universitários e outros 27 mil eram graduados.

Em Suzhou, província de Jiangsu, leste da China, mais de oito mil pessoas locais se alistaram no exército neste semestre. Os graduados universitários representaram mais de 50%. Em Qingdao, na província de Shandong, leste do país, 90% dos três mil candidatos são graduados.

China se opõe à distorção do princípio de 'Uma só China'

VCG - Porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin.

A China se opõe firmemente a qualquer distorção do princípio de 'Uma só China'. Alguns países adicionam prefixo e sufixo a essa política, o que é ilegal e inválido. A declaração foi feita pelo porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin, em coletiva de imprensa realizada nesta segunda-feira (8).

Wang fez as observações em resposta a um questionamento sobre a declaração conjunta emitida pelos EUA, Japão e Austrália. O comunicado dos três países afirmou que "não há mudança nas respectivas políticas de Uma só China, quando aplicável, e posições básicas sobre Taiwan da Austrália, Japão ou Estados Unidos".

Wang se opôs ao uso de "quando aplicável" e ressaltou que a aplicação do princípio de 'Uma só China' é universal, incondicional e inquestionável. 

"Todos os países que estabeleceram relações diplomáticas com a China e todos os estados membros da ONU [Organização das Nações Unidas] devem obedecer incondicionalmente ao princípio de 'Uma só China'. Certos países adicionam sufixo ao princípio de 'Uma só China', o que é uma má interpretação do princípio."
Porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin

A China exorta alguns países a lerem a história e cumprirem as promessas solenes feitas anteriormente. Qualquer tentativa de desafiar o princípio de Uma só China, o estado de direito internacional e a ordem internacional será contestada pela comunidade internacional e não terá sucesso, ressaltou Wang.

Resposta ao Japão

Em comentário dirigido especialmente ao Japão, Wang comentou que o país não tem qualificação ou o direito de apontar o dedo sobre a questão de Taiwan. Ele refutou as observações do governo japonês que difamaram os exercícios militares da China em torno do território insular como uma "ameaça à paz e segurança regionais".

"O Japão tem atuado tão alto na questão de Taiwan. Esqueceu o compromisso que assumiu ao assinar a Declaração Conjunta Sino-Japonesa? Está tentando subverter os fundamentos políticos das relações China-Japão? Tocar Taiwan novamente? O Japão vai aproveitar esta oportunidade para expandir seus braços, abandonar sua constituição pacifista e abandonar o caminho do desenvolvimento pacífico?", perguntou o porta-voz. 

Os comentários de Wang vieram depois que o governo japonês afirmou que os mísseis balísticos disparados pelos militares chineses caíram na zona econômica exclusiva do Japão (ZEE) na quinta-feira (4). Questões semelhantes foram levantadas várias vezes nas conferências de imprensa do Ministério das Relações Exteriores da China desde a semana passada.

Após uma reunião com Pelosi durante sua visita ao Japão, o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, disse que os exercícios militares da China são um "problema sério que afeta nossa segurança nacional e a segurança de nossos cidadãos" e uma ameaça à paz e segurança regional, segundo relatos da mídia. .

Wang refutou as alegações, dizendo que a China e o Japão não realizaram a delimitação marítima em águas relevantes, portanto, não existe "ZEE do Japão" na área.

Coreia do Sul se esforça para garantir laços com a China em meio à pressão dos EUA sobre chips e sistema de mísseis

VCG: Relações China e Coreia do Sul são centrais para o equilíbrio na região

O ministro das Relações Exteriores da Coreia do Sul, Park Jin, desembarcou em Qingdao, província de Shandong, leste da China, nesta segunda-feira (8), para iniciar sua primeira visita ao país desde que assumiu o cargo e que vai durar três dias. Esta é também a primeira delegação sul-coreana de alto nível a visitar o gigante asiático desde que a nova administração do presidente Yoon Suk-yeol assumiu o governo, em maio. 

No mesmo dia, a mídia sul-coreana citou uma autoridade presidencial não identificada que afirmou que o país decidiu participar de uma reunião preliminar para o "Chip 4" - uma aliança criada pelos EUA que alguns acreditam ter como objetivo estabelecer uma barreira de semicondutores contra o continente chinês .

A mensagem simultânea também ilustrou o dilema político da Coreia do Sul em encontrar um equilíbrio entre a China e os EUA diante da crescente pressão de Washington, apontam analistas, que alertaram que a Coreia do Sul pode enfrentar mais perdas se ficar totalmente do lado dos EUA para combater a China.

A China está disposta a aproveitar a visita de Park como uma oportunidade para fortalecer a comunicação, focar na cooperação e promover a tendência saudável e estável das relações bilaterais. O Ministério das Relações Exteriores chinês informou que o conselheiro de Estado chinês e ministro das Relações Exteriores, Wang Yi, se reunirá com Park durante a  estada dele no país.

Antes de vir para a China, Park declarou durante uma entrevista coletiva que a viagem à China seria uma chance de reduzir mal-entendidos e aumentar a cooperação em áreas como comércio, saúde e meio ambiente, informou a Reuters.

A visita de Park à China atraiu muita atenção na China e na Coreia do Sul, já que os dois países estão prestes a comemorar o 30º aniversário do estabelecimento de relações diplomáticas. 

Ao mesmo tempo, há muitas questões novas e antigas que precisam ser discutidas com urgência e, em comparação com suas interações mais frequentes com os EUA, Japão e Europa, o novo governo sul-coreano teve menos trocas com a China.

O pesquisador de estudos do Leste Asiático na Academia Chinesa de Ciências Sociais em Pequim, Wang Junsheng, comentou com o jornal chinês Global Times (GT) que as questões da Península Coreana, o pacto de chips entre os EUA, Japão, Coreia do Sul e a ilha de Taiwan, e a implantação do sistema de mísseis Terminal de Defesa de Área de Alta (THAAD, da sigla em inglês) serão abordados em reuniões bilaterais entre altos funcionários do dois lados.