CHINA EM FOCO

China estipula meta para trocar plástico por bambu até 2025

Iniciativa lançada pelo governo chinês pretende melhorar a capacidade e eficiência de substituir plástico por bambu para ajudar na redução da poluição por plásticos

Créditos: Divulgação (Jiangqiao Bamboo) - Empresa chinesa produz itens, em geral feitos de plástico, de bambu
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A China acaba de lançar um plano de três anos para, até 2025, promover o bambu como uma alternativa ecológica aos plásticos. A iniciativa pretende construir um sistema industrial que inclui o cultivo de bambu, processamento profundo e expansão de mercado.

A iniciativa foi lançada pela Administração Nacional de Florestas e Pastagens (NFGA, da sigla em inglês) com o objetivo de melhorar efetivamente a capacidade e eficiência de substituir plástico por bambu para ajudar na redução da poluição por plásticos.

Até 2025, um sistema industrial preliminar para substituir plástico por bambu será estabelecido para melhorar a qualidade do produto, variedade e escala da indústria do bambu usado.

O valor agregado abrangente dos principais produtos de bambu em vez de plástico aumentará mais de 20% em comparação com 2022, e a taxa de utilização abrangente de materiais de bambu aumentará em 20 pontos percentuais até essa época, de acordo com a NFGA.

Pesquisa e desenvolvimento tecnológico

Nos próximos três anos, a China construirá cinco a dez bases de promoção de aplicação para substituir plásticos por bambus em áreas com abundantes recursos de bambu e uma boa base na indústria de bambu.

Essas bases vão realizar pesquisa e desenvolvimento tecnológico, formulação de padrões de produto e construção de marca para solidificar a base de desenvolvimento local para o esquema.

O vice-diretor da  Organização Internacional de Bambu e Ratan (Inbar, na sigla em inglês), Yin Gangqiang, declarou em entrevista ao jornal chinês Global Times os benefícios de substituir o plástico por bambu.

O bambu é um recurso verde renovável, que pode ser utilizado de forma sustentável uma vez cultivado. Ele cresce rápido, amadurece em três a cinco anos, tem baixo custo de produção e oferece excelente capacidade de sequestro de carbono. Também tem outros valores ecológicos, como conservação de água, prevenção de infiltração de água e erosão do solo, além de purificar o ar,.

A Inbar é uma organização intergovernamental com 49 Estados Membros, entre eles Brasil e China, localizados em grande parte no Sul Global. A entidade atua para transformar essa iniciativa em um instrumento legalmente vinculativo internacional sobre plásticos e sua subsequente implementação. 

Potencial industrial do bambu

O bambu não apenas cresce rápido e amadurece cedo, mas também é ambientalmente amigável e biodegradável, tornando-se uma alternativa viável ao plástico em pelo menos 80% dos campos. A China conta com abundantes recursos de bambu e enorme potencial para desenvolvimento industrial.

Existem 837 espécies de bambu, cobrindo uma área de 7,56 milhões de hectares, com produção anual total de 150 milhões de toneladas de materiais de bambu. Esta indústria está ativa em 20 províncias, com Fujian, Jiangxi e Anhui, e representa aproximadamente 90% da área total de recursos de bambu no país, de acordo com a NFGA.

Atualmente, existem mais de 10 mil empresas de processamento de bambu, e o valor de produção da indústria de bambu aumentou de 82 bilhões de yuan (11,26 milhões de dólares dos EUA) em 2010 para 415,3 bilhões de yuan em 2022, com uma taxa de crescimento anual média de mais de 30%. Segundo as autoridades, o valor total de produção da indústria de bambu da China ultrapassará um trilhão de yuan até 2035.

Obstáculos tecnológicos

Apesar da abundância de bambu para promover o plano para substituir plásticos, que têm alto impacto ambiental, a China também enfrenta obstáculos tecnológicos e de conscientização pública que impedem o crescimento total do setor emergente.

O bambu, um recurso orgânico e abundante, tem uma variedade de usos, desde construção até tecidos, e a China considera sua utilização como substituto de plásticos derivados de petróleo.

Apesar da ideia fazer sentido ambiental e economicamente, o setor ainda é pequeno, com baixa produtividade, custos altos e tecnologia e equipamentos atrasados. 

Vasto mercado internacional para o bambu

Por outro lado, a China é o maior exportador de produtos de bambu e a demanda internacional tem crescido à medida que o Ocidente persegue esforços de redução de emissões.

O bambu como alternativa aos plásticos é crucial, pois os plásticos derivados de petróleo têm um ciclo de vida prejudicial ao meio ambiente e contribuem significativamente para as emissões de gases de efeito estufa.

Atualmente, a China gera cerca de 63 milhões de toneladas de resíduos plásticos por ano, com cerca de 30% sendo reciclados. O mercado para materiais ecológicos como o bambu é enorme, mas a tecnologia disponível ainda é limitada. A falta de financiamento governamental tem retardado a transformação tecnológica no setor.

Outros materiais orgânicos, como milho e cana-de-açúcar, também podem ser usados para produzir bioplásticos, mas trazem controvérsias relacionadas ao impacto na agricultura e na segurança alimentar.

Empresas como a Jiangqiao Bamboo, especializada em acessórios para computadores feitos de bambu, enfrentam desafios para avançar tecnologicamente devido às pressões de controle de custos. Cerca de 80% de seus produtos são vendidos no exterior, onde há maior conscientização ambiental.

Em Anji, uma área mais desenvolvida de Zhejiang, algumas empresas têm utilizado tecnologia para transformar bambu em bioplástico, que pode ser usado em itens de uso único, como sacolas e talheres descartáveis. No entanto, a falta de suporte financeiro do governo após a pandemia da Covid-19 tem sido um desafio.

Proposta foi apresentada à ONU

No início de novembro de 2022, o governo chinês lançou a Iniciativa do Bambu como Substituto para o Plástico, durante a realização do Segundo Congresso Global de Bambu e Rattan (Barc 2022), quando foi celebrado o 25º aniversário da Inbar.

A proposta da China pretende reduzir a poluição do plástico em todos os países, abordar a mudança climática e acelerar a realização da Agenda 2030 das Nações Unidas para o desenvolvimento sustentável.

Em seguida, para combater a crise crescente do uso de plástico, foi criado o Comitê Intergovernamental de Negociação (INC, na sigla em inglês) para desenvolver um instrumento internacional juridicamente vinculativo sobre o plástico, inclusive no ambiente marinho.

A primeira sessão do INC foi realizada em 28 de novembro de 2022. A Inbar participou da reunião e apresentou uma declaração por escrito ao lado de outras organizações internacionais presentes.

A declaração defende a capacidade do bambu de atuar como um material alternativo verde para reduzir a poluição plástica e fortalecer o uso desse material para resolver os problemas gêmeos da poluição plástica e das mudanças climáticas, ao mesmo tempo em que contribui para a Iniciativa de Desenvolvimento Global (GDI, na sigla em inglês).

A GDI foi apresentada pela China durante a reunião da 77ª Assembleia Geral das Nações Unidas e a 51ª sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, realizada em setembro de 2022. A proposta chinesa constitui um caminho viável para a implementação acelerada da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável ao criar uma plataforma de cooperação e reunir recursos de desenvolvimento.

Com informações do Global Times, Xinhua e SMCP