Minério de ferro e petróleo tiveram queda nos preços em resposta a mudanças da política industrial da China e a interesses dos grandes produtores de petróleo.
Na bolsa, as ações atreladas ao minério de ferro e ao petróleo despencaram nesta semana. O movimento afetou as duas empresas brasileiras mais negociadas na bolsa, a Vale e a Petrobras, que atuam no setor de commodities e ajudaram a derrubar a Ibovespa.
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A maior compradora de minério de ferro produzido pela Vale é a China. No ano passado, do total de US$ 41,79 bilhões que a Vale vendeu, U$ 21,58 foram para o país oriental. Em toneladas, 61,6% do total de vendas desses produtos foram para China. Em receita, os chineses representam 51,6% do total das vendas empresa (em dólares), conforme dados da empresa.
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O controle da China não acontece através de compra de ações, mas por abocanhar 60% de todo o minério de ferro exportado pela Vale
Só que a China não compra mais tanto ferro quanto antes porque depende menos da construção civil, por exemplo. Por isso, o preço do minério vem caindo, e puxando com ele o valor da ação da companhia.
A economia da China está mudando para a busca de alta qualidade, economia digital, novas energias, inovação. Na década de 1990, o governo Chinês fez uma grande industrialização do país.
Em poucos anos, o país se tornou a fábrica do mundo: tudo era "made in China". Essa indústria impulsionou a construção civil. Para produzir aço e fazer prédios, os chineses se tornaram o maior importador do minério no mundo. E a Vale se beneficiou disso.
Então como os rumos de desenvolvimento da China não são mais os mesmos, tem reduzido seu ímpeto investidor, principalmente em setores consolidados como o de construção civil, que é um grande comprador de aço e outros insumos derivados do minério de ferro. Esta política impactou negativamente os preços do minério de ferro, afetando as ações de mineradoras e siderúrgicas no Brasil.
Desde 2020, o presidente chinês, Xi Jinping, tem defendido que ativos imobiliários não deveriam ser utilizados para especulação, mas sim para moradia, implementando medidas rigorosas que frearam grandes incorporadoras como a Evergrande.
Queda do preço do petróleo
Já a queda no preço do petróleo, que impacta a Petrobras, está relacionada principalmente à reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), que decidiu antecipar o aumento da produção da commodity.
Realizada no dia 2 de junho, nesta reunião, os integrantes da OPEP decidiram antecipar o aumento da produção de petróleo, o que impactou negativamente os preços da commodity no mercado internacional.
A decisão de aumentar a produção foi tomada para manter a estabilidade do mercado de petróleo e proporcionar orientação de longo prazo e transparência para o mercado global. No entanto, a medida aumentou a oferta de petróleo no mercado em um momento em que a demanda ainda está se recuperando, resultando em uma queda dos preços.
Essa decisão foi uma surpresa para os mercados, que reagiram imediatamente à notícia. O preço do petróleo Brent, por exemplo, caiu cerca de 1%, sendo cotado a US$ 77 por barril logo após o anúncio. A reunião, que foi realizada por videoconferência, teve como foco ajustar os níveis de produção de petróleo e monitorar as condições do mercado global de petróleo.
Freio no consumo de petróleo e gás
A China é a segunda maior consumidora de petróleo do mundo. Em primeiro está os Estados Unidos, que consome cerca de 19,69 milhões de barris de petróleo por dia. O alto consumo é impulsionado por setores como transporte, indústria e geração de energia.
Na China, segundo maior consumidor de petróleo, o consumo diário é de aproximadamente 14,23 milhões de barris. O crescimento econômico rápido e a expansão industrial levou a um aumento significativo no consumo de petróleo.
Mas isso mudou e agora o país planeja reduzir o consumo de petróleo e gás, acelerando a eliminação de veículos motorizados antigos e promovendo a adoção de veículos movidos a energia renovável.
Esta política, juntamente com um inverno ameno no hemisfério norte e estoques altos de gás, também contribui para a queda nos preços das commodities, que também ressoou nas ações da Petrobras.
Transição energética
A queda dos preços do petróleo e do minério de ferro se intensificou após a China anunciar um plano para reduzir as emissões de carbono em 2024 e 2025, com o objetivo de cortar cerca de 130 milhões de toneladas de dióxido de carbono até 2025.
O plano inclui a redução do consumo de combustíveis fósseis e a modernização das indústrias de aço e outros setores, afetando diretamente o setor siderúrgico brasileiro.
No curto e médio prazo, a transição energética na China e em outros países ainda dependerá de combustíveis fósseis. A China busca ser "carbon neutral" até 2060, mas prevê um pico de emissões em 2030, mantendo-se como uma das maiores economias e mercados consumidores do mundo. Isso pode beneficiar empresas como a Vale e a Petrobras.
Além disso, enquanto Europa e EUA parecem estar em ritmos diferentes de eletrificação e redução do consumo de combustíveis fósseis, ainda há incentivos econômicos para a extração de petróleo em novas áreas de exploração, como a Margem Equatorial do Brasil, Guiana e Venezuela.
Acordos Brasil e China com Petrobras e Vale
O Brasil e a China têm firmado importantes acordos para promover a transição energética, com destaque para o envolvimento de grandes empresas brasileiras como a Vale e a Petrobras.
Esses acordos pretendem desenvolver soluções de baixo carbono e promover o uso de energias renováveis, alinhando-se aos objetivos globais de descarbonização.
A Petrobras assinou quatro memorandos de entendimento (MOUs) com empresas chinesas líderes no setor de energia: China Energy, SINOPEC, CNOOC e Citic Construction. Esses acordos abrangem diversas áreas, incluindo:
- Energia renovável e hidrogênio sustentável: Colaboração com a China Energy para identificar oportunidades no Brasil.
- Exploração e produção de petróleo e gás: Parceria com a SINOPEC para pesquisa e desenvolvimento em segmentos de transição energética e captura de carbono.
- Cooperação global no setor energético: Acordo com a CNOOC para explorar potencial de colaboração em interesses mútuos no setor energético.
- Joint-ventures e investimentos: Discussões com a Citic Construction sobre possíveis oportunidades de negócios e projetos conjuntos.
Esses acordos estão alinhados com a estratégia da Petrobras de fortalecer as relações comerciais com a China e expandir suas operações internacionais, contribuindo para um futuro mais sustentável.
A Petrobras também está na vanguarda da captura, uso e armazenamento de CO2 (CCUS) nos campos do pré-sal, tendo atingido um recorde de 10,6 milhões de toneladas de CO2 reinjetadas em 2022.
A empresa está desenvolvendo tecnologias inovadoras, como o Hi-SEP, que remove gás de alto teor de CO2 ainda no fundo do mar, e sistemas "All Electric" para aumentar a eficiência energética nas plataformas de produção.
A Vale assinou um protocolo de intenções com a Petrobras para desenvolver soluções de baixo carbono. Esta parceria, com duração de dois anos, avaliará oportunidades conjuntas de descarbonização, incluindo o desenvolvimento de combustíveis sustentáveis como hidrogênio, metanol verde, biocombustíveis e tecnologias de captura e armazenamento de CO2.
Além disso, há potencial para acordos comerciais para o fornecimento de combustíveis de baixo carbono produzidos pela Petrobras, que seriam utilizados nas operações da Vale, contribuindo para a redução das emissões de gases de efeito estufa.
Com informações de Inteligência Financeira