Mais um capítulo da guerra do doping que tem sido um dos temas mais quentes durante as Olimpíadas de Paris 2024. Nesta quinta-feira (8), a Agência Antidoping da China (CHINADA) pediu uma investigação independente sobre as ações da Agência Antidoping dos EUA (USADA), após revelações sobre a má conduta da entidade.
Matéria da Reuters desta quarta-feira (7), sob o título "Athletes undercover? Global and U.S. anti-doping agencies clash over tactics" (Atletas disfarçados? Agências antidoping global e dos EUA divergem sobre táticas, em tradução livre), revela que a Agência Mundial Antidoping (WADA) acusa a entidade dos EUA de ter quebrado o código global.
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A WADA informa que a USADA permitiu que vários atletas flagrados entre 2011 e 2014 por violar regras de drogas continuassem competindo e não fossem processados em troca de informações sobre outros infratores, ou seja, virassem espiões.
A USADA rebateu e afirmou que a tática é necessária e permitida e vai continuar a adotá-la. A entidade global retruca que a prática viola o seu código e que atletas flagrados por violar as regras de doping não deveriam poder competir em corridas, potencialmente ganhando prêmios em dinheiro e medalhas, sem antes serem processados e sancionados publicamente.
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China quer investigação
O órgão antidoping da China enfatiza que as ações da USADA comprometeram severamente a integridade dos esportes, pois ela carece de transparência e opera com padrões duplos.
"A USADA há muito ignora suas próprias deficiências em antidoping enquanto tenta impor padrões duplos a outros países, expondo sua abordagem hipócrita e inconsistente à aplicação de antidoping," declarou a CHINADA ao jornal chinês Global Times.
Esta é a quarta declaração que a CHINADA lançou desde a abertura dos Jogos Olímpicos de Paris 2024 para exigir transparência e justiça da USADA para os atletas.
A declaração da CHINADA também questiona se o conselho da USADA e o Congresso dos EUA estavam cientes dessas violações e dos riscos de segurança associados. A entidade pede que a USADA divulgue publicamente os detalhes dos casos implicados e responda às preocupações públicas.
"Exigimos fortemente que o Congresso dos EUA e o Conselho de Diretores da USADA enfrentem o grave problema de doping nos próprios EUA e a séria falha de governança na USADA. Os EUA devem aumentar a supervisão e regulamentação da USADA, fortalecer os esforços antidoping domésticos e cessar imediatamente o excesso de alcance e interferência nos esforços antidoping de outros países," afirmou a CHINADA.
Em outra declaração separada, a CHINADA pediu testes intensificados em atletas dos EUA e a reconstrução da confiança global no jogo limpo, já que a estrela olímpica dos EUA de corrida Erriyon Knighton testou positivo para o esteroide proibido trembolona durante um teste fora de competição em março de 2024, mas ainda assim foi permitido competir em Paris.
A CHINADA fez um apelo forte à Agência Internacional de Testes (ITA, da sigla em inglês) para intensificar os testes nos atletas de atletismo dos EUA.
A entidade chinesa também recomendou que a Unidade de Integridade do Atletismo (AIU, da sigla em inglês) fortaleça a supervisão antidoping do Atletismo dos EUA, previna os riscos de doping e investigue rigorosamente os casos relevantes em um esforço para verdadeiramente proteger os direitos e interesses legítimos dos atletas limpos ao redor do mundo e reconstruir a confiança dos atletas globais no jogo limpo.
Declaração dura da WADA
Em nota que faz referência à denúncia feita pela Reuters nesta quarta-feira, a WADA emitiu um duro comunicado no qual criticou a USADA por permitir que atletas dopados competissem sob disfarce em troca de informações sobre outros infratores, violando as próprias regras da USADA e o Código Mundial Antidoping.
A prática, que não foi aprovada pela WADA, permitiu que atletas continuassem competindo, apesar de terem admitido uso de substâncias proibidas como esteroides e EPO. Esses casos, incluindo um de um atleta de elite que competiu até a aposentadoria sem ser penalizado, nunca foram publicados ou sancionados.
A WADA descobriu essas práticas não conformes em 2021 e instruiu a USADA a cessá-las. A organização global questiona se o Conselho de Diretores da USADA e o Congresso dos EUA estavam cientes dessa prática que comprometeu a integridade das competições esportivas e colocou em risco a segurança dos atletas cooperativos.
"Como devem se sentir outros atletas sabendo que competiam de boa fé contra aqueles que eram conhecidos pela USADA por terem trapaceado? É irônico e hipócrita que a USADA clame por justiça quando suspeita que outras Organizações Antidoping não estão seguindo as regras ao pé da letra, enquanto não anunciava casos de doping por anos e permitia que trapaceiros continuassem competindo, na remota chance de que pudessem ajudá-los a pegar outros possíveis violadores", diz o comunicado.
A WADA questiona ainda se o Conselho de Diretores da USADA, que governa a USADA, ou o Congresso dos EUA, que a financia, sabiam sobre essa prática não conformista que não apenas minou a integridade da competição esportiva, mas também colocou a segurança dos atletas cooperativos em risco.
Entenda a guerra do doping
O imbróglio do doping teve início antes das Olimpíadas de Tóquio em 2021, quando 23 nadadores chineses testaram positivo para trimetazidina, uma substância proibida. A WADA acatou as explicações da CHINADA de que a exposição teria sido acidental.
A WADA aceitou as conclusões da investigação chinesa de que os resultados dos testes foram devido à contaminação de uma cozinha de hotel, e uma revisão independente apoiou o tratamento do caso pela WADA. Uma auditoria da World Aquatics concluiu que não houve má gestão ou acobertamento por parte do órgão governamental da China.
Ainda assim, a mídia ocidental, como o The New York Times em matéria publicada no dia 30 de julho, colocou em dúvida a decisão da WADA. Sem citar fonte, informa que investigadores e um especialista da agência apresentaram dúvidas sobre a alegação de contaminação apresentada pela CHINADA.
A autoridade antidoping chinesa rebateu as distorções do jornal dos EUA. No dia 31 de julho, acusou o veículo de distorcer fatos e politizar disputas de doping e esclareceu que as evidências mostraram que os resultados foram causados pela ingestão involuntária de produtos de carne enquanto jantavam fora. A WADA também revisou o caso dos atletas chineses e não encontrou evidências para contestar o cenário de contaminação.