A China quer liderar um novo modelo de cooperação internacional baseado em igualdade entre os países, respeito mútuo e benefícios compartilhados. A mensagem foi dada nesta segunda-feira (27) pelo ministro das Relações Exteriores Wang Yi, durante o Fórum Lanting, realizado em Pequim. O evento reuniu autoridades, diplomatas e especialistas de mais de 140 países e organizações internacionais.
“O mundo precisa de mais solidariedade e menos dominação”, disse Wang, ao apresentar oficialmente a Iniciativa de Governança Global (GGI) — um plano que busca reformar as regras da governança mundial para torná-las mais justas, equilibradas e inclusivas.
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Um novo modelo de governança global
A proposta, lançada em 2023 pelo presidente Xi Jinping, é vista como a quarta grande iniciativa internacional da China, ao lado das iniciativas de Desenvolvimento Global, Segurança Global e Civilização Global. Segundo Wang, juntas, essas políticas representam uma resposta chinesa aos desafios do século 21, marcados por guerras, mudanças climáticas, desigualdade e crises econômicas.
A GGI defende cinco princípios centrais:
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- Igualdade soberana entre todos os países;
- Respeito ao direito internacional e à Carta das Nações Unidas;
- Multilateralismo e rejeição ao unilateralismo;
- Centralidade nas pessoas, com resultados que beneficiem todos;
- Resultados concretos, por meio de uma governança global mais eficiente e prática.
Para o chanceler chinês, a iniciativa “não busca substituir o sistema internacional atual, mas aperfeiçoá-lo”, com reformas graduais que tornem a ONU e outras instituições mais representativas.
“Chegou a hora do Sul Global”
Durante o discurso, Wang Yi enfatizou o papel crescente dos países em desenvolvimento — o chamado Sul Global — nas decisões mundiais. “O futuro da governança global será o tempo do Sul Global”, afirmou.
A China defende que esses países tenham mais voz nas decisões sobre economia, clima e segurança, e que as reformas do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial sejam aceleradas para refletir a nova realidade econômica global.
Wang também declarou apoio à União Africana, à América Latina e a outras regiões emergentes, e anunciou que a China abrirá ainda mais seu mercado e ampliará as parcerias comerciais com nações em desenvolvimento, incluindo isenção total de tarifas para países mais pobres.
Desenvolvimento, clima e tecnologia
A GGI também reforça o compromisso da China com o desenvolvimento sustentável e o combate às mudanças climáticas. Wang pediu que os países desenvolvidos cumpram suas promessas de reduzir emissões e financiar a transição verde nas nações mais pobres.
“Nenhum país deve ficar para trás e nenhum pode fugir de sua responsabilidade”, disse.
No campo da tecnologia, o chanceler defendeu uma governança global da inteligência artificial (IA) liderada pela ONU, com o objetivo de garantir que a IA beneficie toda a humanidade, evitando seu uso indevido ou concentrado nas mãos de poucos países. A China, segundo ele, já propôs a criação da Organização Mundial de Cooperação em IA (WAICO) para incentivar o uso ético e inclusivo da tecnologia.
Defesa do papel da ONU
Wang Yi destacou que fortalecer a ONU é essencial para a paz e a estabilidade mundiais. “A ONU deve ser fortalecida, não enfraquecida”, afirmou, em uma crítica indireta a países que atuam fora do sistema multilateral. Ele defendeu o respeito à Carta das Nações Unidas, ao direito internacional e ao cumprimento de obrigações globais de boa-fé.
A China também apoia uma reforma no Conselho de Segurança da ONU para ampliar a representação de países em desenvolvimento, com destaque para o continente africano.
Paz e cooperação internacional
Em outro ponto do discurso, Wang abordou os conflitos em curso. Ele saudou o acordo provisório sobre Gaza, mas alertou que “a paz ainda é frágil” e pediu um cessar-fogo total e duradouro com base no princípio de “os palestinos governarem a Palestina”.
Sobre a guerra na Ucrânia, reafirmou que a China mantém uma posição “objetiva e justa”, defende negociações de paz e está disposta a trabalhar com outros países para alcançar uma solução pacífica.
A liderança da China na próxima década
Ao final, Wang afirmou que a China está pronta para assumir um papel mais ativo na governança global, especialmente com a presidência rotativa da APEC em 2026 e o fortalecimento da cooperação dos BRICS.
“Uma China comprometida com a modernização trará novas oportunidades para o desenvolvimento do mundo. Estamos prontos para trabalhar com a comunidade internacional e construir juntos um futuro mais justo, equilibrado e brilhante para a humanidade”, encerrou o chanceler.
Confira aqui o discurso na íntegra (em inglês).
A Iniciativa de Governança Global (GGI) é o novo plano chinês para reformar as instituições internacionais, reduzir desigualdades entre países, fortalecer a ONU e criar uma ordem mundial baseada em cooperação, equidade e multilateralismo — uma alternativa ao sistema dominado pelo Ocidente desde o fim da Segunda Guerra Mundial.