O governo chinês anunciou nesta sexta-feira (31) que o vice-primeiro-ministro Ding Xuexiang será o representante especial do presidente Xi Jinping na Cúpula do Clima (COP-30), que será realizada em Belém do Pará, entre 10 e 21 de novembro.
Durante coletiva de imprensa do Ministério das Relações Exteriores da China, o porta-voz Guo Jiakun destacou que este é um ano crucial para a governança climática global, pois marca o 10º aniversário do Acordo de Paris e o momento em que os países devem apresentar suas novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) — metas atualizadas de redução de emissões e adaptação climática.
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Guo lembrou que, no mês passado, o presidente Xi Jinping participou de duas cúpulas climáticas copresididas pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, e pelo presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, nas quais anunciou as novas NDCs da China.
Segundo o porta-voz, o gesto “demonstra o papel de liderança da China na governança climática e sua imagem como uma grande nação responsável”.
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O representante acrescentou que, ao definir metas e apresentar novas soluções climáticas, a China busca fortalecer a confiança internacional e o compromisso coletivo com o avanço da agenda climática global.
“Nosso objetivo é trabalhar com todas as partes para erguer a bandeira do multilateralismo, reforçar a solidariedade e a coordenação, impulsionar a transição verde e de baixo carbono e construir um mundo limpo e belo”, afirmou Guo.
Por fim, o porta-voz expressou o desejo de Pequim de que a COP-30 seja um sucesso histórico, deixando “um legado duradouro do Brasil para o planeta compartilhado” e se tornando “um marco na resposta global às mudanças climáticas”.
A Embaixada da China no Brasil também divulgou o anúncio pelas redes sociais.
Novas metas climáticas da China
Em discurso por vídeo na Cúpula do Clima da ONU, em Nova York, o presidente Xi Jinping anunciou novas metas para 2035, destacando que o mundo vive um “momento decisivo” na governança climática global.
A China pretende reduzir de 7% a 10% suas emissões líquidas de gases de efeito estufa em relação ao pico atual, elevar a participação das energias não fósseis para mais de 30% e multiplicar por seis sua capacidade de energia solar e eólica, atingindo 3,6 bilhões de quilowatts.
Xi afirmou que as metas representam o “máximo esforço da China dentro do Acordo de Paris” e cobrou mais responsabilidade dos países ricos, pedindo apoio financeiro e tecnológico às nações em desenvolvimento.
O papel dos planos quinquenais na governança chinesa
Às vésperas da COP30, em Belém do Pará, aumenta o interesse internacional pelas políticas ambientais da China — uma potência que há duas décadas vem integrando o desenvolvimento econômico à proteção ecológica sob o conceito de “civilização ecológica”.
Os planos quinquenais são o principal instrumento de planejamento estatal do país. Eles orientam, a cada ciclo de cinco anos, as políticas econômicas, científicas, tecnológicas e ambientais.
Mais do que metas administrativas, funcionam como roteiros estratégicos de governança, transformando as diretrizes do Partido Comunista da China (PCCh) em políticas públicas concretas e objetivos mensuráveis para todo o território chinês.
Do princípio das “Duas Montanhas” à economia verde
O 14º Plano Quinquenal (2021–2025) marcou uma inflexão importante ao consolidar o princípio das “Duas Montanhas” — a ideia de que “montanhas verdes e águas límpidas valem tanto quanto montanhas de ouro e prata”. A metáfora traduz a nova visão de Pequim: o meio ambiente não é mais visto como um obstáculo ao crescimento, mas como ativo estratégico para a prosperidade de longo prazo.
Com base nesse conceito, o país vem promovendo reformas estruturais que associam eficiência produtiva à conservação ambiental, fazendo da transição energética e da inovação tecnológica pilares de seu modelo de desenvolvimento.
O 15º Plano Quinquenal e o novo sistema de controle de carbono
O 15º Plano Quinquenal da China (2026–2030) deve aprofundar essa transição rumo a uma economia de baixo carbono, unindo crescimento e sustentabilidade. Sua principal inovação é o Sistema de Duplo Controle de Emissões de Carbono, aprovado pelo Conselho de Estado em julho de 2024.
O novo mecanismo substitui o antigo modelo de “duplo controle do consumo de energia” por um sistema mais abrangente, que combina metas de intensidade de emissões (quanto se emite por unidade de PIB) e volume total de carbono.
A medida estabelece parâmetros claros para governos locais, empresas e setores produtivos, criando uma base institucional para atingir o pico de emissões até 2030 e alcançar a neutralidade de carbono até 2060.
Metas e medidas concretas
Entre as ações já anunciadas no âmbito do plano estão:
- Incorporação de metas de carbono nos planos de desenvolvimento nacional e regional;
- Ampliação do mercado chinês de carbono, com mais setores participantes e sistema de cotas pagas;
- Criação de um selo de pegada de carbono para produtos industriais de alto impacto;
- Obrigatoriedade de avaliações de emissões em projetos de infraestrutura e investimentos públicos.
Essas políticas reforçam a noção de que crescimento econômico e proteção ambiental são metas compatíveis. Além disso, o plano vincula a transição verde à agenda digital e tecnológica, incentivando inovação em energias renováveis, redes inteligentes e economia circular.
Um modelo de transição ecológica com planejamento estatal
Com o 15º Plano, a China busca demonstrar que é possível conciliar planejamento estatal, eficiência econômica e responsabilidade ambiental. Às vésperas da COP30, o país se apresenta como exemplo de governança ecológica — um modelo de transição verde orientado por políticas públicas, capaz de inspirar outros países do Sul Global a combinar prosperidade e sustentabilidade.