Durante os oito dias do feriado do Dia Nacional e do Festival do Meio Outono, conhecido como Semana Dourada, a China viveu uma verdadeira febre esportiva. Grandes torneios, como o China Open (tênis) e o WTT China Smash (tênis de mesa), transformaram os dias de folga em um dos períodos mais movimentados do ano — tanto para os torcedores quanto para a economia.
Hotéis lotados, restaurantes cheios e lojas registrando altas vendas mostraram como os esportes estão ajudando a impulsionar o consumo no país. Além dos jogos, a experiência de assistir a eventos esportivos virou um novo jeito de viajar e aproveitar o feriado.
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Turismo e esporte andando juntos
Em Pequim, o China Open foi o grande destaque. O retorno da principal tenista chinesa, Zheng Qinwen, levou mais de 45 mil torcedores ao estádio em um único dia — um recorde. Mesmo após a atleta deixar o torneio por lesão, as arquibancadas continuaram cheias.
Até o fim da semana, a arrecadação com ingressos ultrapassou 88 milhões de yuans (cerca de R$ 65 milhões), e as vendas dentro do evento somaram 33 milhões de yuans, um aumento de 34% em relação ao ano passado. Só os produtos oficiais renderam 10 milhões de yuans (R$ 7,4 milhões).
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O mesmo aconteceu com o campeonato de tênis de mesa WTT China Smash, que teve ingressos disputadíssimos e aumentou sua bilheteria em mais de 50% em relação a 2024.
Lucro também nas cidades menores
O impacto econômico não ficou restrito às grandes capitais. Em Qianjiang, na província de Hubei, competições de basquete, tênis de mesa e outros esportes movimentaram o comércio local. Restaurantes e hotéis ficaram lotados, e o famoso prato de lagostins da cidade teve aumento de 50% nas vendas.
Segundo o governo local, o número de clientes em grandes restaurantes cresceu 40%.
Para as autoridades chinesas, esse tipo de turismo — em que as pessoas viajam para assistir ou participar de eventos esportivos — virou uma nova forma de estimular o consumo e o desenvolvimento local.
Esporte, turismo e lazer no mesmo pacote
O sucesso dos torneios levou os organizadores a criarem espaços com telões em shoppings e praças, onde o público pôde assistir aos jogos, comer e fazer compras ao mesmo tempo.
Na província de Jiangsu, até campeonatos amadores, como a Su Super League de futebol, ajudaram a movimentar o comércio. Em Yancheng, 17 centros comerciais montaram áreas para torcedores, atraindo mais de 1 milhão de visitantes e gerando 44 milhões de yuans (R$ 33 milhões) em vendas.
Essa combinação de esporte, lazer e turismo está mudando o jeito como os chineses aproveitam os feriados. Os eventos não apenas atraem visitantes, mas também movimentam hotéis, restaurantes, lojas e o comércio local.
As políticas públicas que impulsionam o crescimento dos esportes na China
O crescimento impressionante dos eventos esportivos na China não é apenas resultado do entusiasmo do público — é fruto direto de políticas públicas bem planejadas, que transformaram o esporte em um motor de desenvolvimento econômico, turístico e social.
Nos últimos anos, o governo chinês passou a enxergar o esporte como parte central de uma estratégia para estimular o consumo interno, atrair turistas e fortalecer a indústria cultural e tecnológica do país.
Entre as principais medidas está o documento “Diretrizes para liberar o potencial do consumo esportivo”, lançado em 2025. O plano reúne 20 ações concretas voltadas ao financiamento, incentivos fiscais, inovação tecnológica e integração do esporte com o turismo e a cultura. O objetivo é transformar grandes torneios, como o China Open e o WTT China Smash, em experiências completas de lazer e consumo.
Outra iniciativa importante são os projetos-piloto da “economia de eventos”, que estimulam cidades a sediar competições e transformar esses momentos em oportunidades para o comércio e o turismo. A ideia é incentivar que as pessoas viajem seguindo os eventos, o que tem gerado lucros expressivos para hotéis, restaurantes e lojas locais.
O governo também criou políticas de incentivo direto ao consumo esportivo, como cupons de desconto, recompensas por uso frequente e empréstimos com juros reduzidos para empresas do setor. Até os sindicatos foram orientados a apoiar a participação de trabalhadores em atividades esportivas.
Além disso, há fortes investimentos em infraestrutura. O plano inclui a ampliação e modernização de ginásios, quadras e arenas, a abertura de espaços públicos para uso gratuito e a criação de complexos esportivos integrados ao planejamento urbano e turístico.
Esporte como estratégia nacional
O governo estabeleceu uma meta ambiciosa: até 2030, a indústria esportiva chinesa deve ultrapassar 7 trilhões de yuans (aproximadamente US$ 983 bilhões). Essa projeção impulsiona governos locais e empresas privadas a investir ainda mais no setor.
Outro ponto central é a integração entre esporte, turismo e cultura. Cidades e regiões turísticas recebem apoio para criar pacotes de viagem que combinem competições esportivas, experiências gastronômicas e eventos culturais. Assim, o visitante não apenas assiste a um jogo, mas vive uma experiência completa.
Por fim, medidas macroeconômicas adotadas em 2025 reforçaram o consumo de serviços, incluindo eventos esportivos internacionais, e facilitaram as políticas de visto para estrangeiros, permitindo estadias mais longas e incentivando o turismo esportivo.
Essas ações mostram como a China transformou o esporte em uma ferramenta de desenvolvimento nacional. O resultado é visível: estádios cheios, recordes de público e bilhões movimentados em feriados, hotéis e restaurantes.
A China prova, mais uma vez, que paixão e planejamento podem caminhar juntos — e que o esporte pode ser muito mais do que competição: pode ser um motor de prosperidade.