CHINA EM FOCO

O que o Brasil pode aprender com a China na proteção das florestas e das águas

Às vésperas da COP30, a experiência chinesa na recuperação de rios e florestas mostra como é possível unir desenvolvimento, renda e preservação ambiental

O que o Brasil pode aprender com a China na proteção das florestas e das águas.Às vésperas da COP30, a experiência chinesa na recuperação de rios e florestas mostra como é possível unir desenvolvimento, renda e preservação ambientalCréditos: Xinhua - Floresta do Rio Markog
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Em pouco mais de um mês, o Brasil sediará a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que será realizada entre 10 e 21 de novembro, em Belém (PA). O país estará no centro de um dos debates mais urgentes do século: como manter as florestas em pé e frear a crise climática que ameaça o futuro do planeta.

A conferência também será uma oportunidade de trocar experiências e soluções concretas com outros países. Entre eles, a China tem muito a ensinar. Nas últimas décadas, o país asiático se transformou em referência mundial em restauração ecológica, reflorestamento e gestão sustentável de recursos naturais.

Como a China protege o seu “rio-mãe”

Um dos exemplos mais inspiradores que vem do outro lado do mundo é a preservação do Rio Yangtzé, conhecido como o “rio-mãe” da China. Suas nascentes ficam no Rio Markog, localizado na divisa das províncias de Qinghai e Sichuan, uma das áreas florestais mais altas e densas do país.

Durante boa parte do século 20, a região viveu da extração de madeira. Entre 1965 e 1998, mais de 700 mil metros cúbicos de árvores foram derrubados. Mas tudo mudou quando o governo proibiu o desmatamento comercial e iniciou um amplo programa de reflorestamento e manejo sustentável.

Hoje, o Rio Markog é símbolo de recuperação ambiental: foram reflorestados cerca de 7.667 hectares e manejados outros 14.667 hectares. A cobertura florestal aumentou de 51% para 69,58%, e espécies raras como leopardos e ursos-pardos voltaram a habitar a região.

De madeireiros a guardiões da floresta

Xinhua - Guardiões florestais observam fotos de animais selvagens tiradas em um celular na floresta do Rio Markog, localizada no condado de Padma, Prefeitura Autônoma Tibetana de Golog, na província de Qinghai, noroeste da China.

A virada ecológica chinesa também transformou a vida das pessoas. Comunidades que antes dependiam da exploração de madeira agora ganham a vida preservando a natureza.

Moradores locais foram contratados como “guardas ecológicos”, recebendo salário fixo para monitorar as florestas, evitar queimadas e cuidar das nascentes. Apenas na área do Rio Markog, são 259 guardas empregados pelo governo, cada um responsável por cerca de 400 hectares de floresta.

Em dez anos, essas comunidades ganharam mais de 60 milhões de yuans (cerca de 8,4 milhões de dólares) em atividades como manejo ecológico, reflorestamento e cultivo de mudas — um modelo que une geração de renda e preservação ambiental.

A natureza sob o olhar da tecnologia

Como a área é extensa, o país apostou na tecnologia para fortalecer a proteção ambiental. Hoje, o monitoramento combina patrulhas tradicionais com drones, câmeras de alta resolução e sensores infravermelhos, que detectam desmatamentos ilegais e acompanham o crescimento da vegetação em tempo real.

Essa integração entre força humana e inovação tecnológica tornou possível o que antes parecia impossível: reflorestar áreas inteiras e restaurar ecossistemas degradados.

Lições para o Brasil

O Brasil, que sediará a COP30 no coração da Amazônia, enfrenta desafios parecidos aos que a China viveu há 30 anos: conciliar crescimento econômico com preservação ambiental. E há muito o que aprender com o caminho trilhado pelos chineses:

  • Transformar a conservação em política de Estado, com metas permanentes e fiscalização constante.
     
  • Reflorestar e recuperar nascentes, unindo ciência, tecnologia e inclusão social.
     
  • Valorizar as comunidades locais como protagonistas da preservação.
     
  • Usar tecnologia a favor da natureza, tornando a fiscalização mais eficiente.
     
  • Gerar renda verde, mostrando que proteger o meio ambiente pode ser economicamente vantajoso.

Políticas públicas chinesas para preservar a natureza

A China transformou a preservação ambiental em uma política de Estado, guiada por metas nacionais e integrada aos planos de desenvolvimento econômico. Desde o início dos anos 2000, o país implementa uma série de políticas públicas de restauração ecológica e combate à degradação ambiental, que hoje servem de referência internacional.

Entre as principais iniciativas está o Programa de Conversão de Terras Agrícolas em Florestas (Grain for Green Program), lançado em 1999, considerado o maior projeto de reflorestamento do mundo. O programa recompensou agricultores que converteram áreas agrícolas degradadas em florestas e pastagens, resultando em mais de 35 milhões de hectares reflorestados e melhoria significativa da qualidade do solo e da água.

Outra política central é o Programa de Proteção das Florestas Naturais, que proibiu o corte comercial em grandes regiões do país e financiou a criação de reservas ecológicas nacionais, como a Sanjiangyuan National Nature Reserve, no planalto tibetano — uma das mais importantes do mundo, responsável por proteger as nascentes dos rios Yangtzé, Amarelo e Lancang (Mekong).

A China também investe fortemente na recuperação de rios e zonas úmidas, com projetos de controle de enchentes, restauração de margens e despoluição de cursos d’água. O Plano de Proteção do Rio Yangtzé, aprovado em 2020, criou um cinturão ecológico que restringe atividades industriais poluentes, estimula o transporte fluvial limpo e incentiva o uso de energia renovável nas regiões ribeirinhas.

No campo urbano, políticas como as “Cidades-Esponja” (Sponge Cities) buscam adaptar as cidades ao impacto das mudanças climáticas por meio de infraestrutura verde, como parques permeáveis, telhados vegetados e sistemas naturais de drenagem. Atualmente, mais de 30 cidades chinesas aplicam esse modelo para reduzir enchentes e melhorar a qualidade da água.

Essas iniciativas são reforçadas por metas climáticas ambiciosas, como alcançar o pico das emissões de carbono até 2030 e a neutralidade de carbono até 2060. Para isso, a China se tornou líder global em energia solar e eólica, além de investir na reabilitação de solos desertificados e na reintrodução de espécies ameaçadas.

No conjunto, essas políticas mostram como a China passou de um modelo de crescimento baseado na exploração intensiva dos recursos naturais para uma estratégia que integra economia verde, inovação tecnológica e inclusão social — transformando a preservação ambiental em instrumento de desenvolvimento nacional e de segurança ecológica.

Um futuro que une Brasil e China

A experiência chinesa mostra que preservar também é desenvolver. O país conseguiu recuperar rios, reflorestar montanhas e transformar a conservação em fonte de trabalho e orgulho nacional.

O Brasil, dono da maior floresta tropical do planeta, pode trilhar o mesmo caminho — fazendo da Amazônia, do Cerrado e do Pantanal exemplos de desenvolvimento sustentável, ciência e soberania ambiental.

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