Nesta sexta-feira (26), os três astronautas a bordo da Shenzhou-20 entraram na estação espacial Tiangong, iniciando uma nova rodada de troca de tripulação em órbita.
Em um gesto que simboliza a crescente colaboração internacional, a China anunciou que irá treinar dois astronautas paquistaneses, sendo que um deles deve participar de uma futura missão na estação Tiangong como especialista em cargas úteis — a primeira vez que um estrangeiro integrará a tripulação da instalação espacial chinesa, marcando a internacionalização da estação e Tiangong.
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O acordo, assinado em fevereiro, representa um marco nas ambições espaciais do Paquistão, abrindo caminho para uma participação mais profunda do país no desenvolvimento científico, tecnológico e na exploração espacial.
O primeiro-ministro do Paquistão, Shahbaz Sharif, manifestou grande entusiasmo em expandir a cooperação com a China nas áreas de tecnologia espacial, comunicações via satélite e serviços de internet.
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Durante uma reunião com uma delegação de uma empresa chinesa de tecnologia espacial em Islamabad, no início desta semana, Sharif destacou a China como um "amigo muito confiável" e "parceiro estratégico", enfatizando que Pequim será a base do esforço paquistanês para impulsionar suas capacidades tecnológicas.
Relações China e Paquistão
A relação entre China e Paquistão, frequentemente descrita como "amizade em qualquer clima", é um dos pilares mais estáveis da geopolítica asiática.
Desde o estabelecimento de laços diplomáticos em 1951, os dois países construíram uma parceria multifacetada, alicerçada em interesses estratégicos, colaboração econômica e apoio mútuo em fóruns internacionais.
A fundação da República Popular da China (1949) e a independência do Paquistão (1947) pavimentaram o caminho para o reconhecimento mútuo em 1951.
Nos primeiros anos, Pequim e Islamabad aproximaram-se frente a tensões com a Índia, especialmente após a Guerra Sino-Indiana de 1962.
O Paquistão, em busca de aliados contra Nova Delhi, apoiou a posição chinesa em disputas territoriais, enquanto a China respaldou o Paquistão na questão da Caxemira. Essa convergência geopolítica levou ao Acordo de Fronteiras de 1963, demarcando limites entre o Paquistão e a região chinesa de Xinjiang.
Islamabade é um parceiro importante contra a desinformação sobre a população muçulmana na China, além de ser um defensor da integridade territorial chinesa em temas como Tibete e Taiwan. A China é uma apoiadora da entrada dos paquistaneses nos BRICS, ideia rejeitada pelos indianos.
Um marco físico dessa aliança foi a construção da Rodovia Karakoram, iniciada em 1966 e concluída em 1978. Ligando o norte do Paquistão a Xinjiang, a rota simbolizou a conexão estratégica e facilitou o comércio bilateral.
Além disso, o Paquistão desempenhou papel crucial na aproximação entre China e EUA nos anos 1970, servindo de canal para os contatos que levaram à visita de Richard Nixon a Pequim em 1972.
A colaboração militar aprofundou-se durante a Guerra Fria, com a China tornando-se o principal fornecedor de armas ao Paquistão. Projetos conjuntos, como o caça JF-17 Thunder, destacam essa sinergia. Na década de 1990, a China apoiou o programa nuclear paquistanês, crucial para o desenvolvimento de seu arsenal atômico, apesar de controvérsias internacionais.
O lançamento do Corredor Econômico China-Paquistão (CPEC), em 2015, como parte da Iniciativa Cinturão e Rota (Nova Rota da Seda), elevou a parceria a novos patamares. Com investimentos de US$ 62 bilhões em energia, portos (como Gwadar) e infraestrutura, o CPEC visa integrar a China ao Oceano Índico, reduzindo sua dependência do Estreito de Malaca. Para o Paquistão, o projeto prometeu impulsionar a economia, embora enfrente críticas por dívidas e impactos socioambientais.
Apesar de também ser um parcerio estratégico dos EUA, o Paquistão é um íntimo e confiável parceiro de Pequim, que investe e desenvolve o país do subcontinente indiano, uma ponte estratégica da China com os outros países do mundo islâmico e com o Oceano Índico.