O Brasil e a China iniciaram, nesta segunda-feira (11), uma nova etapa de parceria com foco em desenvolvimento regional, prevenção de desastres e integração comercial, especialmente voltada à Amazônia.
A agenda integra a missão oficial a Pequim liderada pelo ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), Waldez Góes, que divulgou nas redes sociais um resumo do primeiro dia de atividades na China.
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Assinatura de acordos e foco na Amazônia
Logo pela manhã, o MIDR e a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma da China (NDRC, da sigla em inglês) assinaram um Memorando de Entendimentos para ampliar o intercâmbio de políticas de desenvolvimento regional.
O documento reforça o compromisso assumido em 2024 pelos presidentes Lula e Xi Jinping de construir uma Comunidade de Futuro Compartilhado, voltada para a justiça social e a sustentabilidade.
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Na mesma reunião, autoridades chinesas apresentaram ao governo brasileiro experiências de saneamento e gestão de resíduos sólidos, áreas consideradas estratégicas para melhorar a infraestrutura na Amazônia.
Cooperação em prevenção de desastres
À tarde, a delegação brasileira participou da 1ª Reunião do Mecanismo de Diálogo Ministerial com o Ministério de Gestão de Emergências da China, dando sequência ao memorando assinado em maio, em Brasília. Esse acordo abriu caminho para um plano de ação conjunto inspirado na experiência chinesa em prevenção e resposta a desastres.
O ministro Waldez Góes também se reuniu com Li Guoying, ministro de Recursos Hídricos da China, para discutir medidas conjuntas contra enchentes e outros eventos extremos relacionados à água.
Parcerias estratégicas em infraestrutura e comércio
Além da pauta ambiental e de gestão de riscos, Brasil e China mantêm cooperação em grandes projetos de infraestrutura. Em novembro de 2024, os dois países fecharam um acordo para estudar a criação de um corredor ferroviário ligando os oceanos Atlântico e Pacífico.
O projeto integra ferrovias brasileiras — Fiol, Fico e Norte-Sul — ao recém-inaugurado Porto de Chancay, no Peru, reduzindo custos e tempo de transporte.
Outro avanço foi a inauguração de uma rota marítima direta entre a Grande Baía Guangdong–Hong Kong–Macau e o Porto de Santana (AP). Essa conexão encurta prazos em relação às rotas tradicionais e posiciona Santana como hub estratégico para importar biofertilizantes e exportar produtos agrícolas brasileiros para o mercado chinês.
Comitiva brasileira
A missão oficial conta com a participação dos secretários nacionais de Fundos e Instrumentos Financeiros, Eduardo Tavares, de Proteção e Defesa Civil, Wolnei Wolff, e de Desenvolvimento Regional, Daniel Fortunato; do embaixador do Brasil na China, Marcos Bezerra Abbott Galvão, e do deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), que compartilhou seu relato sobre a atividade nas redes sociais.
Brasil–China: parceria estratégica em tempos de atrito com os EUA
A missão liderada por Waldez Góes ocorre em um momento de aproximação crescente entre Brasil e China, especialmente no governo Lula, e de tensões diplomáticas e comerciais com Washington.
A China é hoje o maior parceiro comercial do Brasil, principal destino de commodities como soja, minério de ferro, petróleo e carne, além de fornecer bens industriais e tecnologia.
A cooperação entre os dois países também se expande para áreas como infraestrutura, energia, tecnologia, meio ambiente e prevenção de desastres, com projetos estratégicos como o corredor ferroviário e a nova rota marítima via Amapá.
No campo diplomático, Brasil e China atuam juntos em blocos como os BRICS, defendendo reformas na governança global, maior protagonismo do Sul Global e a redução da dependência do dólar.
A crescente aproximação é acompanhada com cautela por Washington, que vê o movimento coincidir com divergências em temas como políticas climáticas, sanções internacionais, tarifas comerciais e posições em conflitos globais.
Para a China, o cenário é uma oportunidade de ampliar sua presença na América Latina; para o Brasil, é uma forma de diversificar parcerias e reduzir vulnerabilidades diante da pressão norte-americana.
Em meio à disputa geopolítica entre EUA e China, o Brasil tenta equilibrar sua diplomacia, mas o avanço dos laços com Pequim sinaliza uma mudança gradual de eixo, reforçando uma política externa voltada para interesses multipolares e integração Sul–Sul.