Em meio a um cenário global de incertezas econômicas e tensões geopolíticas, o Brasil se consolidou em 2024 como um dos principais destinos de capital chinês no mundo. Segundo relatório do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), os aportes confirmados da China no país somaram US$ 4,18 bilhões, um crescimento de 113% em relação a 2023 — desempenho que colocou o Brasil como o terceiro maior receptor global de investimentos produtivos do gigante asiático, atrás apenas do Reino Unido e da Hungria.
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Recorde histórico em número de projetos
Além do salto no valor, 2024 também registrou um recorde de 39 projetos confirmados, um avanço de 34% em relação ao ano anterior. Essa expansão foi muito mais expressiva do que a média dos investimentos estrangeiros no Brasil em geral, que cresceram apenas 13,8% no mesmo período .
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O perfil desses investimentos mudou: os grandes megaprojetos de infraestrutura energética e petróleo deram lugar a um volume maior de empreendimentos de menor porte, mas estratégicos, em áreas como eletricidade renovável, manufatura e mineração.
Energia no centro da estratégia
O setor de eletricidade liderou os aportes chineses no Brasil em 2024, respondendo por 34% do total (US$ 1,43 bilhão) — alta de 115% em comparação ao ano anterior. A maior parte dos projetos esteve ligada à geração de energia limpa, com destaque para parques solares e eólicos.
O setor de petróleo veio em seguida, com 25% dos investimentos (cerca de US$ 1 bilhão), mostrando que, apesar do foco crescente na transição energética, os combustíveis fósseis ainda despertam interesse.
Outros setores relevantes foram automotivo (14%), com destaque para a expansão de montadoras chinesas como BYD e GWM; mineração (13%), voltada à exploração de minerais estratégicos como lítio, nióbio e tântalo; e transporte ferroviário (12%), com a entrada da CRRC no projeto do trem São Paulo–Campinas .
Reindustrialização e convergência com a política brasileira
O documento mostra que os investimentos chineses dialogam diretamente com a agenda da Nova Indústria Brasil (NIB), lançada em 2024 pelo governo federal. A política prioriza setores como mobilidade sustentável, transformação digital, segurança energética e descarbonização — todos já contemplados por investimentos chineses.
Na indústria manufatureira, os aportes chegaram a US$ 637 milhões em 2024, espalhados por oito projetos, o maior número já registrado. Esse movimento contribui para modernizar o parque industrial, gerar empregos e integrar o Brasil às cadeias globais de valor em setores de ponta .
Expansão territorial
Historicamente concentrados no Sudeste, os investimentos chineses têm se espalhado por outras regiões. Em 2024, empresas da China aplicaram recursos em 14 estados brasileiros, o maior número desde 2019. Embora São Paulo ainda lidere (com 31% dos projetos), estados como Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul ganharam destaque. Essa descentralização indica maior capilaridade e diversificação regional .
Estoque acumulado desde 2007
Entre 2007 e 2024, o estoque de investimentos chineses no Brasil alcançou US$ 77,5 bilhões, distribuídos em 303 projetos. A maior parte do valor foi destinada à eletricidade (45%) e ao petróleo (29%). Mas, quando se analisa o número de projetos, a manufatura assume o segundo lugar, com 22% do total — sinal de que o país está se tornando cada vez mais atrativo para setores industriais diversificados .
O Brasil no mapa global da China
Globalmente, a China foi o terceiro maior investidor estrangeiro em 2024, com US$ 143,9 bilhões aplicados fora do país. No recorte latino-americano, o Brasil se destacou: enquanto os investimentos chineses na região caíram 8,4% quando se exclui o Brasil, os aportes aqui mais que dobraram. Isso reforça a posição estratégica do país nas relações sino-latino-americanas .
O estudo do CEBC mostra que os investimentos chineses no Brasil não só bateram recordes em 2024 como também se alinham às prioridades nacionais de reindustrialização e transição energética. A presença chinesa no país está cada vez mais diversificada — tanto em setores quanto em regiões — e reforça o Brasil como um dos destinos centrais da estratégia global de Pequim.
Parceria sino-brasileira
Desde janeiro de 2023, o presidente Lula recolocou a China no centro da política externa brasileira, com foco em comércio, investimentos e cooperação tecnológica. Em abril daquele ano, esteve em Xangai e Pequim, participou da posse de Dilma Rousseff no comando do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) e firmou com Xi Jinping acordos estratégicos em áreas como energia e inovação.
Em novembro de 2024, foi a vez de Xi Jinping visitar Brasília em uma visita de Estado que resultou na assinatura de novos compromissos bilaterais, consolidando ainda mais a parceria estratégica global entre os dois países.
No ano seguinte, em maio de 2025, Lula retornou a Pequim para mais uma visita de Estado. O encontro produziu novos pactos e uma declaração conjunta sobre questões internacionais, incluindo a guerra na Ucrânia e a defesa de uma ordem mundial multipolar.
Esses movimentos diplomáticos reforçam o Brasil como parceiro estratégico da China na América Latina e projetam os dois países como protagonistas do Sul Global, atuando juntos pela construção de uma ordem internacional mais equilibrada.