A pedido do presidente Lula, que exerce a presidência rotativa do BRICS em 2025, os chefes de Estado e representantes do grupo — formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, além dos novos integrantes Egito, Indonésia, Irã, Emirados Árabes Unidos e Etiópia — participaram nesta segunda-feira (8) de uma cúpula virtual.
Xi Jinping pede defesa do multilateralismo
Em sua fala, Xi Jinping conclamou os países a defenderem conjuntamente o multilateralismo e o sistema multilateral de comércio, que, segundo ele, estão sob forte ameaça diante do avanço do unilateralismo e do protecionismo.
Te podría interesar
“Neste momento crítico, os países do BRICS, que estão na linha de frente do Sul Global, devem agir com base no Espírito do BRICS — de abertura, inclusão e cooperação de ganhos mútuos —, defender conjuntamente o multilateralismo e o sistema multilateral de comércio, ampliar a cooperação do bloco e construir uma comunidade com futuro compartilhado para a humanidade”, afirmou Xi.
O líder chinês destacou três eixos centrais em sua fala. O primeiro foi a defesa do multilateralismo, apontado como instrumento essencial para assegurar justiça e equidade internacionais diante do crescimento do unilateralismo e do protecionismo.
Te podría interesar
O segundo ponto ressaltou a importância da abertura e da cooperação de ganhos mútuos, como forma de preservar a ordem econômica e comercial global. Por fim, Xi enfatizou a necessidade de solidariedade e coordenação entre os países do BRICS, de modo a gerar sinergias capazes de impulsionar o desenvolvimento comum.
Cooperação na prática
A China vem desempenhando um papel central no fortalecimento do BRICS. Foi Pequim que lançou o modelo “BRICS Plus”, ampliando a cooperação para outros países do Sul Global, e que apoiou a criação do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), voltado ao financiamento de projetos de infraestrutura e sustentabilidade.
Essa atuação reflete-se em iniciativas práticas, que demonstram que o bloco não se limita ao discurso. No campo da energia limpa, o BRICS apoia a instalação de parques eólicos no Brasil, usinas solares na África do Sul e outras iniciativas de baixo carbono financiadas pelo NBD.
Na área de tecnologia, destacam-se a criação do Centro China-BRICS de Inteligência Artificial e da Rede Digital do BRICS, projetos que têm como objetivo democratizar o acesso à inovação e reduzir desigualdades tecnológicas.
Já no setor de saúde pública, o foco tem sido o fortalecimento dos sistemas nacionais, em especial após os desafios expostos pela pandemia.
Esses exemplos mostram como o BRICS procura se consolidar como um contraponto às crises globais, oferecendo alternativas solidárias e cooperativas, em vez de alimentar disputas comerciais e geopolíticas.
Pequim projeta BRICS como contrapeso ao unilateralismo
Horas antes da cúpula virtual do BRICS, durante coletiva de imprensa do Ministério das Relações Exteriores da China, o porta-voz Lin Jian ressaltou que o grupo se firmou como uma plataforma essencial de solidariedade entre mercados emergentes e países em desenvolvimento.
“Diante do aumento do unilateralismo e do protecionismo, os países do BRICS defendem conjuntamente o multilateralismo, a equidade e a justiça, promovem o desenvolvimento comum e se tornam uma força positiva e estável nos assuntos internacionais”, afirmou.
Lin acrescentou que a China está disposta a trabalhar lado a lado com os demais membros para fortalecer o espírito do BRICS — baseado em abertura, inclusão e cooperação de ganhos mútuos. O objetivo, segundo ele, é impulsionar um desenvolvimento de alta qualidade na cooperação ampliada do bloco e contribuir para a construção de um sistema de governança global mais justo, equilibrado e representativo.
Diversidade como força
Embora reúna países com realidades distintas, o BRICS aposta na diversidade como um dos pilares de sua legitimidade. Essa pluralidade permite unir esforços em áreas estratégicas, como clima, finanças e cultura, sem exigir uniformidade política ou ideológica.
A recente expansão do grupo reforça essa visão. Novos integrantes passaram a fazer parte não por alinhamento ideológico, mas pelo objetivo comum de desenvolvimento e dignidade.
O discurso de Lula
Na reunião, que durou cerca de 1h30, Lula também fez um discurso duro contra medidas unilaterais de grandes potências. Criticou especialmente o tarifaço de Donald Trump sobre exportações brasileiras e condenou o genocídio em curso na Palestina, cobrando o fim imediato da ofensiva israelense em Gaza.
LEIA TAMBÉM: Do genocídio em Gaza ao tarifaço de Trump: Lula endurece contra EUA e Israel em cúpula do BRICS
O presidente brasileiro destacou que o BRICS tem condições de liderar a refundação do sistema multilateral de comércio, lembrando que o bloco já reúne 40% do PIB mundial, 26% do comércio internacional e quase metade da população do planeta.
O encontro também serviu para alinhar posições em relação à 80ª Assembleia Geral da ONU (23 de setembro, em Nova York), à COP-30 (6 de novembro, em Belém) e à Cúpula do G20 (22 e 23 de novembro, sob presidência da África do Sul).
Quem participou da cúpula
- Xi Jinping, presidente da China
- Lula, presidente do Brasil
- Vladimir Putin, presidente da Rússia
- Cyril Ramaphosa, presidente da África do Sul
- Subrahmanyam Jaishankar, chanceler da Índia (representando Narendra Modi)
- Abdel Fattah al-Sisi, presidente do Egito
- Masoud Pezeshkian, presidente do Irã
- Prabowo Subianto, presidente da Indonésia
- Hamdan bin Mohammed bin Rashid Al Maktoum, príncipe herdeiro dos Emirados Árabes Unidos
- Demeke Mekonnen, vice-primeiro-ministro e ministro das Relações Exteriores da Etiópia