Cidade turca vira modelo contra a xenofobia e cresce ao receber meio milhão de imigrantes

A população de Gaziantep cresceu 30% após a chegada dos imigrantes que fugiram através da fronteira com a síria, tornando-se modelo de tolerância e pragmatismo para a Europa.

Equipe da Organização Internacional de Migrações (OIM) visita centro comunitário para refugiados, em Gaziantepe (Foto: Twitter OIM)
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Até 2011, a cidade de Gaziantepe, no sudeste da Turquia, era somente um município de tamanho médio, cerca de 1.5 milhão de habitantes, famosa por sua indústria têxtil e sua gastronomia (em seu país, é conhecida como “a terra do pistache”). Porém, ao estar a apenas 60 quilômetros de Alepo, uma das regiões sírias mais atingidas pela guerra, também se transformou, nos últimos anos, em um refúgio buscado por centenas de milhares de imigrantes. Inscreva-se no nosso Canal do YouTube, ative o sininho e passe a assistir ao nosso conteúdo exclusivo Desde o início da Guerra da Síria, no começo desta década, se estima que mais de 2 milhões de pessoas que viviam nesse país fugiram em direção ao território turco, e cerca de um quarto desse contingente, cerca de meio milhão de pessoas, encontrou abrigo em Gaziantepe. Em uma ocasião, a cidade chegou a receber até 200 mil pessoas em um período de 24 horas, segundo reportagem do diário britânico The Guardian. Como costuma acontecer nesses casos, os novos habitantes colocaram uma enorme pressão sobre os recursos da cidade: habitação, água, transportes públicos, vagas nas escolas, cuidados de saúde... tudo começou a ficar mais escasso. Além disso, os empresários da zona aproveitaram o súbito aumento da força de trabalho para reduzir os salários oferecidos à mão-de-obra, que passou a ser abundante. As coisas começaram a mudar quanto a prefeita Fatma Sahin mudou o sentido das políticas públicas para os imigrantes, e adotou uma abordagem baseada na integração. Assim, os programas sociais em Gaziantepe passaram a ser norteados pela garantia de que tanto os turcos quanto os imigrantes receberiam tratamento e benefícios iguais, independente de qual fosse o problema. Entre as principais medidas impulsadas por Sahin estão a negociação com o governo nacional da Turquia para canalizar recursos hídricos que estavam a quase 100 quilômetros de distância, o que resolveu a demanda por água. Também iniciou um plano para construir 50 mil novas moradias, além de novos hospitais e outros estabelecimentos de serviços públicos, como escolas e creches. Todos esses serviços passaram a “atender turcos e imigrantes por igual”, como dizia seu slogan. Em 2016, quando a União Europeia já sentir menos efeitos da crise econômica de 2008, a Turquia recebeu a promessa de um investimento de 6 bilhões de euros, para ajudar no acolhimento dos imigrantes sírios, e impedir que eles se espalhassem pelo resto do continente. Contudo, somente metade desses recursos chegaram ao país. A diferença neste caso é que Gaziantepe não esperou a ajuda estrangeira, e atuou rápido para enfrentar a realidade dos migrantes que já estavam lá para ficar, e decidiu que quanto mais cedo eles fossem integrados, melhor. O ativista Yakzan Shishakly, da ONG Fundação Maran, faz uma análise menos otimista sobre o futuro de Gaziantepe, mas reconhece o bom trabalho feito até agora: “a cidade realmente soube aproveitar a chegada dos imigrantes para criar condições de impulso ao crescimento, e merece os frutos que vem colhendo. Porém, quando a economia desacelere, é possível que haja conflito, e não sei se saberão enfrentá-lo ”, comenta, em entrevista ao The Guardian. Mesmo assim, a cidade passou a ser um modelo de tolerância e pragmatismo para a Europa. Lanna Walsh, Organização Internacional de Migrações (OIM, ligada à ONU), afirma que o exemplo Gaziantepe serve para outras cidades europeias, mesmo as que, quando oferecem alguma ajuda, o fazem de forma limitada. “Mais países europeus precisam se posicionar sobre esta problemática mundial, e concordar em aceitar mais. Acolher os refugiados não precisa ser um problema. A migração sempre foi uma coisa boa e um impulso para o desenvolvimento”. Com informações do The Guardian.