Diretora da Anistia Internacional do Chile denuncia ter sido ameaçada de morte

A intimidação contra a representante chilena da entidade internacional ocorreu depois da apresentação de um informe que acusa o governo de Piñera de promover “violações generalizadas e excessivas aos Direitos Humanos” e da resposta governista incitando o ódio contra a organização

Ana Piquer, da Anistia Internacional no Chile (Reprodução)
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Direto do Chile, Especial para a Fórum A advogada Ana Piquer, diretora-executiva da Anistia Internacional no Chile, denunciou nesta segunda-feira (25) que recebeu ameaças de morte anônimas durante o fim de semana, através do seu email. Segundo ela, uma das mensagens recebidas dizia que “se você continuar fazendo o que está fazendo, vai terminar em um ataúde”. E o que Piquer está fazendo? Na última quinta-feira (21), como diretora da Anistia Internacional no Chile, ela encabeçou o evento de apresentação do informe no qual a entidade apontou que o governo de Sebastián Piñera cometeu “violações generalizadas, desnecessárias e excessivas aos Direitos Humanos, a partir da explosão social do dia 18 de outubro, e especialmente durante o período entre 20 e 27 de outubro, em que durou o Estado de Exceção decretado pelo presidente, no qual se permitiu que as Forças Armadas pudessem intervir na segurança pública do país”. Junto com essa afirmação, o informe apresentou números de crimes cometidos pelas forças de segurança (policiais e militares) nas últimas semanas: 24 mortos, 66 estupros, 223 casos de lesões oculares graves (perda parcial ou total da visão, de um ou dos dois olhos), 377 casos de tortura, mais de mil casos de ferimentos graves e mais de 26 mil detenções, entre as quais ao menos 5 mil consideradas ilegais – tudo isso segundo informação recolhida pelo INDH (Instituto Nacional de Direitos Humanos do Chile) e pelo Ministério Público, as organizações sociais registram números muito maiores em todos esses quesitos. As ameaças a Piquer também aconteceram depois da reação ao informe por parte do governo chileno, que o considerou como “um documento irresponsável que repudiamos categoricamente”, segundo a subsecretaria de Direitos Humanos do país, Lorena Recabarren. A funcionária de Piñera também afirmou que o governo não havia sido consultado pela Anistia Internacional, o que, pouco depois se revelou ser falso – graças a um documento apresentado por Piquer com um carimbo do Executivo –, e a obrigou a ter que se retratar publicamente. Além de Recabarren, as Forças Armadas chilenas também emitiram um comunicado rechaçando as afirmações do informe da Anistia Internacional, um dia antes de Piquer começar a receber as ameaças de morte. Vale destacar que a organização Anistia Internacional, que agora é criticada e ameaçada, sempre foi citada pela direita chilena (setor político ao qual pertence Sebastián Piñera) graças aos seus informes sobre Cuba, Venezuela e Nicarágua, entre outros países.