Doleiros se disfarçam de entregadores para vender dólares de forma ilegal em Buenos Aires

Restrições para a compra da moeda estadunidense, adotadas tanto por Alberto Fernández quanto por Mauricio Macri, fazem aumentar procura pelo câmbio negro, e a pandemia mudou as estratégias dos vendedores

Foto: Vía País
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Uma reportagem da versão em espanhol do site russo RT, publicada nesta terça-feira (29), mostrou o cotidiano de J.T., um jovem argentino de 22 anos que passeia pela cidade de Buenos Aires com sua motocicleta, e com as mochilas e jaquetas oficiais da Pedidos Ya, aplicativo de entregas entre os mais conhecidos de países latino-americanos, como Chile, Argentina, Uruguai, México, entre outros.

Mas o que isso tem de mais? A resposta está naquilo que o garoto esconde. No seu caso, os acessórios são só um disfarce para ocultar sua verdadeira atividade, que não é a de entregador de aplicativo: J.T. vende dólares no mercado negro. Viaja de um lado a outro da cidade, carregando milhares de dólares, em um compartimento onde se pensa que está levando alguma pizza, sanduíche ou compras de supermercado.

E não é só isso. Segundo a reportagem, há vários jovens trabalhando como ele, em um país onde a crise econômica – herdada do governo de Mauricio Macri e ainda não solucionada por Alberto Fernández, que ainda por cima encara uma pandemia – tem como uma de suas consequências a fuga de dólares, o acesso à moeda estadunidense tem sido restrito há alguns meses.

Aos que chamem essa política de “comunista”, vale lembrar que o neoliberal Macri a adotou em 2019, e que o peronista e progressista Fernández chegou a abandoná-la no começo deste ano, mas se viu obrigado a reativá-la em meados deste ano, quando o número de contágios começou a crescer no país. Isso faz com que a procura pelo câmbio negro aumente, e junto com ela, em um contexto de pandemia, apareceu a oportunidade para a entrega de dólares a domicílio através de doleiros disfarçados de motoboys.

Segundo J.T., ele chega a transportar até 3 mil dólares em dinheiro vivo, algumas vezes. O valor é equivalente a cerca de 25 salários mínimos na Argentina.

Em junho, o governo de Fernández recolocou o limite máximo para aquisição de dólares: cada pessoas pode comprar um máximo de 200 dólares por mês, medida que havia sido criada por Macri em 2019. Porém, o atual presidente incluiu uma medida adicional em sua política, que a torna diferente da política macrista. Cada operação de compra de dólares deve cobrar um imposto de 75% sobre o preço oficial.

 “Não é um trabalho tão difícil, mas não garante a vida de ninguém. Mesmo que você possa trabalhar desde a manhã até o começo da noite, pode ganhar o suficiente para viver bem, mas não muito mais que um salário mínimo. A não ser que tenha um golpe de sorte, de aparecer alguém querendo trocar 10 mil dólares, de onde se pode tirar uma comissão importante”, contou J.T. ao repórter do site russo.