Enquanto Bolsonaro tenta se reaproximar dos EUA, Fernández avança em alianças com China e Rússia

Presidente da Argentina negocia com Xi Jinping para ser o primeiro cliente da terceira vacina chinesa a ser lançada no mercado, e aceitou convite de Vladimir Putin para visitar Moscou neste primeiro semestre de 2021

Vladimir Putin, Alberto Fernández e Xi Jinping (foto: reprodução)
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A derrota de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos também significou a derrota da estratégia de política exterior do Brasil de Jair Bolsonaro.

O governo brasileiro apostou todas as suas fichas no magnata estadunidense, mas com a chegada de Joe Biden à Casa Branca, o Palácio do Planalto se vê obrigado a improvisar para buscar seu novo lugar no mapa geopolítico.

As novas diretrizes do Itamaraty para este ano se baseiam em uma postura mais amigável com as novas autoridades de Washington, tentando apagar a imagem de Bolsonaro defendendo a candidatura de Trump várias vezes em plena campanha. O mesmo acontece com relação a Rússia e China, países com os quais o Brasil, para agradar o antigo aliado, vinha mostrando hostilidade, especialmente através do chanceler Ernesto Araújo e dos filhos do presidente.

Quem pode servir de inspiração a Bolsonaro, ao menos na segunda das tarefas mencionadas acima, é o governo de um dos seus desafetos mais notórios na região: o argentino Alberto Fernández.

A pandemia tem servido à Casa Rosada como oportunidade para se aproximar de novos aliados estratégicos no mundo. A começar pela Rússia, com quem Fernández iniciou uma aproximação em meados de 2020, com a compra de 300 mil doses da vacina Sputnik V. A Argentina foi o primeiro país do continente americano a comprar o imunizante russo, e já está em conversações sobre a possibilidade de produzir o medicamento em seu país.

O que começou com um acordo sobre vacinas avançou em muitos outros níveis. Segundo o portal russo RT, as relações comerciais entre a Argentina e a Rússia ganharam novos capítulos no final do ano passado, com acordos sobre alimentos e produção de energia.

Esse crescente intercâmbio levou o presidente russo Vladimir Putin a convidar Alberto Fernández para uma visita a Moscou. A Casa Rosada confirmou o recebimento da proposta, e deu a entender que ela será aceitada, e que aconteceria no primeiro semestre de 2021 – mas ainda sem uma data específica.

Mas a Rússia não é o único aliado estratégico que Buenos Aires busca no momento. A China também está no horizonte da política internacional de Alberto Fernández, e os primeiros passos comerciais dessa relação estão sendo dados pela mesma via que deu certo com os russos.

Segundo o jornal argentino Página/12, o governo de Fernández está em avançadas negociações para adquirir ao menos 1 milhão de doses da vacina do laboratório Sinopharm. Se trata do terceiro projeto de vacina que os chineses pretendem lançar em breve no mercado – depois da CoronaVac, do laboratório Sinovac, e da vacina desenvolvida pelo laboratório CanSino. Caso o acordo se concretize, a Argentina seria o primeiro comprador internacional da nova vacina chinesa.

Porém, a relação entre o país sul-americano e o asiático não depende só das vacinas. Na primeira semana de janeiro de 2021, Alberto Fernández e Xi Jinping trocaram cartas que abordaram a importância de uma aproximação entre os dois países. Na ocasião, o presidente chinês declarou que pretende reforçar a conexão da Argentina com o projeto da Nova Rota da Seda.