Estudante brasileira é morta a tiros na Nicarágua

A principal hipótese é de que o disparo tenha vindo de paramilitares que passaram a fazer a segurança da região habitada por altos funcionários do governo

Raynéia Gabrielle Lima. Foto: Reprodução Redes Sociais
Escrito en GLOBAL el
A brasileira Raynéia Gabrielle Lima, 31, foi morta a tiros na noite desta segunda-feira (23), em Manágua. O assassinato, divulgado pela imprensa local, foi confirmado pela Embaixada do Brasil na Nicarágua. Estudante de medicina da Universidade Americana (UAM), Lima teria sido metralhada. Raynéia foi atingida com um tiro de grosso calibre no peito por volta das 23h, quando voltava para casa, segundo disse à Folha o reitor da UAM, Ernesto Medina. Ela estava sozinha no carro, mas seu namorado vinha no veículo de trás. Ela foi levada pelo namorado ao Hospital Miliar, mas morreu duas horas mais tarde. O seu carro teria recebido vários disparos. Medina diz que o bairro onde ela morreu, Lomas de Montserrat, é habitado por altos funcionários do governo. A principal hipótese é de que o disparo tenha vindo de paramilitares que passaram a fazer a segurança da região. "É uma morte incompreensível”, diz o reitor, um dos representantes da sociedade civil na mesa de negociação com o governo de Daniel Ortega, suspensa no final de junho. “Espero que o governo brasileiro reaja e faça o que tenha de fazer." Entidade estudantil soltou nota A Coordenadoria Universitária pela Democracia e a Justiça, movimento estudantil que envolve alunos de diferentes universidades nicaraguenses, soltou uma nota pelo Instagram lamentando profundamente “o assassinato da Dra. Raynéia Lima, originária do Brasil. Ela regressava para a sua casa de noite, perto do Colégio Americano, e seu carro foi atacado por paramilitares que ainda ocupam a UNAN-Manágua (Universidade Nacional Autónoma de Nicarágua)”. Nota do Itamaraty Em nota, o Itamaraty informou que pediu ao governo da Nicarágua esclarecimentos sobre as circunstâncias da morte de Raynéia, e cobrou de Manágua que identifique os responsáveis pelo crime: "O governo brasileiro recebeu com profunda indignação e condena a trágica morte ontem, 23 de julho, da cidadã brasileira Raynéia Gabrielle Lima, estudante de Medicina na Universidade Americana em Manágua, atingida por disparos em circunstâncias sobre as quais está buscando esclarecimentos junto ao governo nicaraguense", disse o comunicado. "O governo brasileiro exorta as autoridades nicaraguenses a envidarem todos os esforços necessários para identificar e punir os responsáveis pelo ato criminoso". “Ela estava terminando a residência”, diz o pai O pai de Raynéia, o motorista Ridevando Lima, disse que ela se mudou há seis anos para a Nicarágua junto com o marido, cuja família, brasileira, já havia morado no país. “Ela estava terminando a residência”, disse Lima à Folha, por telefone. “Estava pronta para vir pro Brasil.” O pai a descreveu como uma pessoa caseira e estudiosa. “Ela não entrava nisso de manifestação, era muito tranquila." “Ela não protestava, mas esteve nos hospitais apoiando os feridos [nos protestos] como médica, assim como muitos de seus companheiros da universidade”, disse uma amiga, também universitária, que pediu o anonimato para evitar represálias. Era uma menina muito alegre, sempre sorridente e disposta a ajudar”, disse. Onda de protestos A onda de protestos iniciada em abril se transformou numa rebelião contra o governo de Ortega e já deixou pelo menos 290 mortos. Além da repressão da força policial, grupos paramilitares têm tentado causar terror na população. Ainda que o presidente negue ligação com tais grupos, esses militantes alegam que estão a serviço da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), partido de Ortega. No dia 23 de junho, forças do governo lançaram uma ofensiva contra manifestantes refugiados na Universidade Nacional Autônoma da Nicarágua (UNAN). No dia 30, milhares de nicaraguenses marcharam para exigir a renúncia do presidente. Mas Ortega, em 7 de julho, descartou a antecipação das eleições presidenciais e chamou os opositores de "golpistas". Em 13 de julho, o país foi paralisado mais uma vez por uma greve geral, depois de uma enorme marcha pedindo a saída de Ortega. Estudantes da UNAN foram duramente reprimidos e se refugiaram numa igreja próxima. Dois jovens morrem após 20 horas de cerco armado. Com informações do Globo e da Folha