Exclusivo: Espião dos EUA preso na Venezuela portava até um lança-rojão

Ex-militar norte-americano que espionava refinaria venezuelana tinha armas de alto calibre, como submetralhadora, explosivos e grande quantidade de dólares em dinheiro

Armas encontradas com o norte-americano (Foto: Divulgação)
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CARACAS - Um ex-militar dos Estados Unidos, preso na semana passada na Venezuela, foi identificado como Matthew Jhon Heath, segundo informação fornecida pelo procurador-geral do Ministério Público da Venezuela, Tarek William Saab. Junto ao cidadão dos Estados Unidos foi encontrado armamento de alto calibre de uso exclusivamente militar. Entre as armas havia um lança-rojão modelo AT4 de 84 mm e uma submetralhadora modelo UZI de 9 mm (um tipo de pistola-metralhadora compacta de origem israelense). Também foram encontrados pacotes suspeitos de conter material explosivo tipo C4 (ainda sob perícia), um telefone de comunicação via satélite e uma bolsa de dólares em dinheiro vivo. “O cidadão dos Estados Unidos não portava passaporte, ou seja, entrou de maneira ilegal na Venezuela (pela fronteira da Colômbia). Tinha apenas uma cópia do documento escondida na sola do seu sapato. Junto com ele encontramos ainda fotos de nossas instalações petroleiras nos estados venezuelanos de Zulia e Falcón”, sinalizou o procurador-geral. As investigações apontam ainda que Matthew Jhon Heath atuou como operador de comunicações em bases secretas da CIA no Iraque, entre 2006 a 2016, onde permanecia cerca de três meses por ano. Segundo Saab, o estadunidense também consta em registros de operações da empresa de segurança privada MVM, com sede em Ashburn, Virginia (EUA), e que tem como principal cliente o governo dos Estados Unidos. Atualmente a MVM mantém contratos com o Departamento de Justiça, Imigração e Fiscalização Alfandegária (ICE), o Departamento de Estado, o Serviço de Polícia dos Estados Unidos e o FBI. O fundador da MVM é o ex-agente do Serviço Secreto dos Estados Unidos, Dario O. Marquez Jr. Em outras épocas essa empresa chegou a ter contrato para operar a segurança de todas as embaixadas norte-americanas no mundo. [caption id="attachment_271935" align="aligncenter" width="700"] Sem passaporte, foram encontrados dólares e identidade (Divulgação)[/caption] Como foi desmontada a operação? A identificação dos suspeitos foi feita na rodovia Carreta Nacional Troncal 3, que liga Zulia a Falcón. Zulia faz fronteira com a Colômbia, por onde provavelmente entrou o ex-militar dos EUA. O plano era atacar justamente uma das duas refinarias de petróleo em operação neste momento na Venezuela, que é o Complexo Refinador de Amuay, na cidade litorânea de Punto Fijo (Falcón), para se dirigia o espião. Junto com o norte-americano foram presos três venezuelanos: o motorista Daeven Enrique Rodríguez Argueta (condutor), Marco Antonio Garcés Carapaica e o sargento venezuelano Darwin Urdaneta, que vestia uniforme militar no momento da prisão. A presença do militar venezuelano no carro tinha como objetivo burlar os pontos de controle durante o trajeto que iriam percorrer.  A confiança entre colegas militares permitiria passar sem revista nos pontos de controles ao longo da rodovia. Essa é uma via bastante vigiada justamente porque faz ligação com a fronteira da Colômbia e, portanto, uma rota para o narcotráfico, contrabando e suspeitos de ações desestabilizadoras como essa. No estado de Zulia foram presos outros quatro venezuelanos que faziam parte da equipe de logística nessa operação de transporte do norte-americano. Dentre os presos estava Asterio José González García, quem teria sido contratado por uma pessoa identificada apenas como Juan, supostamente residente da Colômbia. Juan contratou os serviços dos demais suspeitos através de García. Suspeita é de ataque terrorista “O cidadão dos Estados Unidos encontrava-se realizando atividade de espionagem com o apoio de militares e de civis venezuelanos. Estavam armados até os dentes, com artilharia para matar e causar muitos danos”, afirmou William Saab. [caption id="attachment_271936" align="aligncenter" width="696"] Procurador-geral Tarek William Saab: “Poderia ser um dos piores atentados contra a Venezuela”[/caption] De acordo com a esposa do sargento preso, em depoimento ao MP, o militar teria sido contratado para levar o norte-americano até Ponto Fijo, mas o destino final do espião seria a ilha caribenha de Aruba, para onde iria depois da missão. As investigações apontam ainda que além da indústria petroleira, a intenção era produzir ataques contra o serviço elétrico nacional. “Poderia ser um dos piores atentados contra a Venezuela”, informou o procurador-geral. Além disso, o grupo pretendia realizar atividades de tráfico de drogas, entre Venezuela e Aruba, para depois responsabilizar o governo venezuelano, para desmoralizar a gestão do presidente Nicolás Maduro e justificar ações militares estrangeiras em um futuro próximo. Guerra não-convencional contra Venezuela Essa é a segunda operação desse porte desmontada na Venezuela que envolve ações planejadas no exterior e com participação de ex-militares norte-americanos com histórico de operações em empresas contratadas pelo governo dos EUA. A primeira delas foi a Operação Gedeón, executada em maio deste ano. Foi planejada pelo ex-boina verde Jordan Goudreau, ex-membro das tropas de Operações Especiais dos EUA. Na Venezuela foram presos dois ex-militares estadunidenses e mais de 60 venezuelanos. Esse tipo de operação, envolvendo empresas de seguranças privadas, faz da estratégia da nova doutrina militar dos EUA, segundo o assessor do Conselho de Defesa da Presidência da República da Venezuela, Juan Eduardo Romero, cientista político e doutor em História. “Em 2010 os EUA mudaram sua doutrina militar. Isso ocorreu quando publicaram um documento chamado Manual de Treinamento das Forças Especiais para Guerras não Convencionais. Esse documento aponta uma nova matriz que renunciava a intervenções militares diretas e passaram a apostar em ações encobertas.” Para Juan Eduardo Romero essas ações planejadas contra a Venezuela já possuem características parecidas, ademais estão descritas nesse documento militar dos EUA. “Tanto a Operação Gedeón quanto essa operação para atacar a Refinaria de Amuay encaixam-se perfeitamente nessa nova estratégia militar norte-americana. Esse é o maior centro de refino de petróleo da Venezuela e nesse momento é o epicentro de um trabalho conjunto com o governo do Irã para recuperar a capacidade instalada da indústria de refino de petróleo no país”, diz Romero. As investigações não estabeleceram uma ligação direta entre os planos que são denunciados hoje pelo procurador-geral e a Operação Gedeón, mas o assessor do Conselho de Defesa da Venezuela assegura que existe um padrão estabelecido entre as duas. “O tipo de material encontrado é o mesmo, como armas, dinheiro vivo, fotos de instalações industriais, contatos e colaborações com militares e a Refinaria de Amuay. É preciso lembrar ainda que em 2012 aconteceu uma explosão nessa refinaria já com características de uma operação encoberta.” É importante destacar também que a maquinaria e a tecnologia utilizada nessa refinaria são de patentes norte-americanas, inglesas, francesas e alemãs. Portanto, qualquer técnico especializado e treinado para manipular ou atacar pontos estratégicos da fábrica poderia causar danos gigantescos em um complexo industrial desse porte.

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