Facebook: "temos um problema de vício maciço", diz pioneiro da Internet

Para ele, algumas companhias monopolistas teriam tomado o controle da rede e a arruinaram, colocando as redes sociais como Facebook e Twitter a serviço de terceiros

(Foto: Reprodução/ Youtube
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Precursor da realidade virtual e um dos pioneiros da Internet, o cientista da computação, filósofo e músico estadunidense Jaron Lanier afirmou em entrevista ao El País, nesta terça-feira (18), que o Facebook "integra técnicas behavioristas para criar um vício, muito similar à expansão dos cigarros". "Vou ser bem claro: temos um problema de vício maciço. É muito parecido com o que aconteceu com o cigarro. Ou quando as pessoas dirigiam bêbadas. Nos dois casos havia grandes interesses corporativos nesse vício maciço". Lanier diz que ainda acredita na internet. Porém, para ele, algumas companhias monopolistas teriam tomado o controle da rede e a arruinaram, colocando as redes sociais como Facebook e Twitter a serviço de terceiros que querem manipular a opinião pública em razão de interesses privados. "Usando as capacidades normais da Internet, como fazer um site ou mandar um e-mail, você não precisa dessas empresas. As pessoas chegaram à conclusão de que as necessitam, mas não é verdade. Ao que me oponho é esse controle por parte de monopólios gigantes, em que qualquer conexão entre pessoas só pode ser financiada se houver uma terceira pessoa que quer manipular essas duas pessoas". Manipulação para a compra ou o voto Segundo ele, as técnicas behavoristas - relacionadas aos estudos do comportamento humano feitos pela Psicologia a partir do século XIX - utilizadas pelas redes sociais buscam correlacionar aspectos comuns às pessoas. "E gradualmente, por estatística, você percebe que pode mudar a pessoa através de mudanças no feed. E o objetivo número um é torná-las viciadas, de forma que continuem a usar, que sintam que têm que estar lá o tempo todo. O objetivo número dois é satisfazer os verdadeiros clientes, que são os que pagam para manipular e mudar as pessoas, talvez para que comprem algo, ou para que se desencantem e não votem", diz. Lanier acredita, no entanto, que é possível mudar esse prospecto nas redes a partir de dois pontos. "Um deles é reformar o modelo econômico. Mudar as redes sociais de forma que o verdadeiro cliente seja o usuário, em vez dessa misteriosa terceira pessoa que está tentando manipular o usuário. Isso tiraria o incentivo perverso que amplifica toda a loucura, a aspereza, a paranoia, a tensão e a negatividade". Outro ponto seria reforçar as instituições intermediárias que disseminam conteúdo nas redes. "uando o Facebook começou, tinha um lema que era “mova-se rápido e quebre as coisas”. Concretamente, o que se quebrou foram as organizações intermediárias, como os jornais. Foram fragilizadas. E o fato é que essas organizações forneciam um recurso que era absolutamente necessário", diz Lanier. Conteúdo de qualidade Lanier afirma que ainda é preciso inventar um modelo que dê mais credibilidade às redes sociais e que empresas como a Netflix veio para provar isso, vendendo um serviço em que as pessoas pagam porque gostam. "Acho que, da mesma maneira, hoje acreditamos que o Facebook é o único possível, porque muita gente cresceu com ele. Se houvesse uma maneira de pagar, haveria mais acesso a informação de qualidade e mais jornalistas. Ninguém sabe exatamente como seria. Ninguém sabia como seria a Netflix. Mas assumir que não se pode fazer é ridículo". Segundo ele, é preciso se perguntar porque as pessoas pagavem pelos jornais. "Quando um jornal cria uma fama de confiável, isso é parte do seu valor. As pessoas que procuravam qualidade tinham onde encontrá-la. Esse foi um grande erro da primeira filosofia da Internet, que todos os intermediários deviam desaparecer. Isso o que fez foi dar todo o poder a um monopólio central".