Faculdade de Direito de Buenos Aires anuncia palestra com Sérgio Moro e é alvo de repúdio generalizado

O repúdio à atividade, prevista para 10 de junho, é enorme e chega até ao primeiro escalão do governo de Alberto Fernández, que é professor da Faculdade.

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Por Rogério Tomaz Jr.

A Faculdade de Direito da Universidade de Buenos Aires, uma das mais antigas das Américas e alma mater de 15 presidentes da República Argentina e um vencedor do Prêmio Nobel, anunciou nesta quarta-feira (27) um debate virtual que terá o ex-juiz Sérgio Moro como expositor. O repúdio à atividade, prevista para 10 de junho, é enorme e chega até ao primeiro escalão do governo de Alberto Fernández, que é professor da Faculdade.

O ex-presidente Lula, principal vítima da atuação fora da lei de Moro, possui título de Doutor Honoris Causa da Universidade de Buenos Aires.

Eli Gomez Alkorta, ministra das Mulheres, Gênero e Diversidade, disse no Twitter que compartilhava o repúdio “a esta atividade, numa faculdade pública na qual se deve formar para a defesa do Estado de Direito e das garantias constitucionais”. A ministra também é docente da instituição, que se refere a Moro no anúncio como “Juiz da República Federativa do Brasil”.

https://twitter.com/EliGAlcorta/status/1265749341999939586

Outra professora da Faculdade, Marisa Herrera, perguntou se o anúncio era “brincadeira” e manifestou o seu “total e absoluto repúdio” a uma atividade que ouvirá “um dos personagens mais nefastos e obscuros que tem o Brasil hoje!”.

https://twitter.com/herreramarisa12/status/1265736994757509123

Alicia Castro, escolhida por Alberto Fernández para o cargo de Embaixadora da Argentina na Rússia, se somou aos protestos. Castro chamou Sérgio Moro de “emblema da corrupção e manipulação da Justiça com fins partidários” e mencionou o lawfare que promoveu “sem provas o julgamento e o sequestro eleitoral” de Lula.

O Sindicato dos Docentes da UBA (FEDUBA) emitiu nota de repúdio ao convite para Moro e o qualificou como “um dos principais promotores do lawfare na região”. Além disso, a entidade pede a adesão a um abaixo-assinado contra a participação de Moro na atividade.

Muitos estudantes criticaram duramente o evento. “Sou aluna da Faculdade e me parece uma vergonha que deem lugar a este corrupto e manipulador que converteu a Justiça brasileira em um circo”, escreveu Valéria Paula no microblog.

https://twitter.com/valeriapaula_/status/1265766396560117762

Não faltaram piadas nas respostas à publicação que anuncia o debate. Um usuário sugeriu que a próxima jornada da Faculdade de Direito seja com o presidente Maurício Macri e aborde o tema “Desendividamento dos países emergentes e pobreza zero”. Durante a gestão de Macri, a Argentina foi o país que mais se endividou no muito e a nação que mais aumentou a pobreza na América Latina.

https://twitter.com/RufusEstorba/status/1265764958089994240

Brasil

O rechaço ao anúncio da Faculdade de Direito não se restringiu ao público argentino. O jurista brasileiro Rubens Casara, integrante da Associação Juízes para a Democracia (AJD), respondeu em espanhol ao tweet da Faculdade de Direito. “Triste. É o mesmo que convidar um general assassino para falar de Justiça Transicional ou um nazista para defender o respeito à diferença”, escreveu o juiz e autor dos livros “Sociedade sem lei” e “Estado pós-democrático”.

https://twitter.com/RCasara/status/1265762503834898435

A Associação de Juristas pela Democracia, que já entrou com representação contra Sérgio Moro junto ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), informou à reportagem que vai enviar à Faculdade uma carta de repúdio em razão do convite a um ex-juiz que não respeita o Estado Democrático de Direito e que contribuiu diretamente para a atual situação que vive o Brasil.