Falência do sistema faz o Islam crescer no Brasil

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Histeria fascista quanto a uma suposta “islamização” no país serve apenas para escamotear a crise moral, ética, política e econômica imposta pelo sistema capitalista Hajj Mangolin* Nos últimos dias, uma “marolinha” fascista agitou as redes sociais e parte da mídia corporativa quanto a um suposto risco ao país após a aprovação da Lei da Migração. Eu, descendente de imigrantes italianos que aportaram aqui fugindo da miséria e de conflitos armados, cheguei a achar irônico, mas, na verdade, a situação pode converter-se em algo trágico, caso a sociedade organizada, comprometida com a democracia e com a solidariedade internacional, não se posicione. O grupelho fascista que marchou na Paulista, protagonizando uma cena na qual afirma ter sido alvo de um “ataque terrorista” onde ninguém sofreu um arranhão sequer (exceto os descendentes de árabes que foram espancados pelos próprios fascistas e presos pela PM), brada que o Brasil está vivendo um processo de “islamização”, financiado e apoiado por grupos terroristas que “querem acabar com a paz vivida aqui, impondo a violência e a opressão oriunda de seus países”. A coisa é séria! Eles, de fato, acreditam nisso. A farsa da “violência islâmica” O argumento desse grupo e de outros que pedem, por exemplo, o banimento do Islam no Brasil, a proibição de construção de mesquitas e do uso do hijab (véu utilizado pelas mulheres), além da deportação dos muçulmanos, é de que “a cultura e a paz dos brasileiros estão em risco por causa da islamização”. A pergunta que fica é: qual paz? Para eles, o Brasil é um lar cheio de amor, baseado em princípios que tem a família (branca, cristã e conservadora) e a propriedade (dos meios de produção, da terra e da mídia) como prioridades. Na verdade, infelizmente, este é o país que, em números absolutos, mais mata no mundo! Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública - FBSP, entre 2011 e 2015, a violência no Brasil matou mais pessoas que a Guerra da Síria. Entre janeiro de 2011 e dezembro de 2015, o Brasil teve um total de 278.839 assassinatos. Já na Síria, no mesmo período, a guerra causou 256.124 mortes, segundo estimativa da Agência da Organização das Nações Unidas para os Refugiados. Um país em guerra, que vive um dos piores conflitos dos últimos tempos, matou menos gente que o pacífico Brasil! Já o SIM - Sistema de Informação de Mortalidade, IBGE, afirma que entre 1980 e 2016 morreram 967.851 brasileiros vítimas de armas de fogo. 94% eram homens, dos quais, 58% jovens entre 15 e 29 anos, faixa etária que representa apenas 26% da população. Quanto à etnia, 69,6% foram identificados pelo Mapa da Violência 2016 como “pretos ou pardos”. Quem está cometendo esse genocídio contra jovens, negros e pobres no Brasil? Os terroristas islâmicos? O Brasil tem uma taxa de 20,7 homicídios por 100 mil habitantes, fazendo com que ocupe o 10º lugar no mundo, proporcionalmente, e o 1º lugar em números absolutos. Entre os 30 países que mais matam no mundo, NENHUM É DE MAIORIA MUÇULMANA! A Jordânia, primeiro a aparecer nessa lista, ocupa a 34º posição, com apenas 1,4 homicídios por 100 mil habitantes. “Ah! Mas nosso modelo é o americano”, dirá a direita fascista Quando confrontados com os números da violência no Brasil, os defensores do estilo de vida da tradicional família brasileira afirmam que o que eles querem e defendem, na verdade, é o modelo estadunidense, que, segundo eles, também é uma pobre vítima do terrorismo islâmico. Então, antes que me chamem de comunista maldito e me mandem para Cuba, vamos aos dados do próprio governo dos EUA. Segundo o Departamento de Justiça e o Conselho de Relações Exteriores, o país teve, entre 2001 e 2011, 130.347 pessoas mortas em incidentes envolvendo armas de fogo. No mesmo período, houve 3 mil mortes relacionadas a atos de terrorismo (sendo 2.689 delas nos atentados de 11 de Setembro). O primeiro número é mais de 40 vezes maior que o segundo. Se excluirmos o 11 de setembro, teremos 311 vítimas do terrorismo. Menos de 130 mil dos demais assassinatos por armas de fogo! Entre janeiro de 2013 e outubro de 2015, ocorreram 994 massacres com armas de fogo no país  (episódios em que quatro ou mais pessoas são mortas ou feridas) promovidos, principalmente, em escolas e faculdades nos EUA. Nenhum deles foi cometido por muçulmanos! Segundo dados do Congresso dos Estados Unidos, o custo humano e financeiro da “Guerra ao Terror”, estabelecida após o 11 de setembro, é o seguinte: morte de 5.300 soldados americanos, de outros 50.000 feridos e do montante de cerca de US$ 1,6 trilhão gasto no Iraque e no Afeganistão entre 2001 e 2014. Para a pesquisadora americana Amy Greene, da Sciences-Po Paris, “a resposta militar não é boa, porque o terrorismo não representa uma ameaça existencial para os EUA”. Na verdade, tantas pessoas morrem a cada ano nos EUA em incidentes com armas de fogo que a contagem de mortes entre 1968 e 2011 é maior do que a de mortes em todas as guerras das quais o país já participou. De acordo com uma pesquisa do Politifact, projeto de checagem de dados do jornal Tampa Bay Times, houve cerca de 1,4 milhão de mortes por armas de fogo nesse período, em comparação com 1,2 milhão de mortes em todos os conflitos de sua história, desde a guerra da Independência (1775-1783) até a guerra do Iraque. Aqui, abro parênteses para comparar com os números do Brasil: em todas as guerras nas quais envolveram-se desde a sua independência, morreram 1,2 milhão de estadunidenses. No Brasil, entre 1980 e 2016, quase 1 milhão! O que é a América idolatrada pela direita brasileira? Um império islâmico que mata mais de 11 mil cidadãos por ano? A farsa do financiamento da “islamização” no Brasil Ao contrário do que dizem os fascistas, não há processo organizado de “islamização” no Brasil e, mais que isso, não há financiamento algum aos que lutam pelo direito de opção religiosa que não seja a “deles”. O Islam é a religião que mais cresce no mundo e, obviamente, também está crescendo no Brasil, não em virtude de uma capacidade de divulgação eficaz das entidades islâmicas, mas pela falência do modelo neoliberal que nos é imposto por um imperialismo que persegue e mata os pobres, os negros, os indígenas e todos aqueles que ousam pensar fora do que é determinado pelo sistema, inclusive quando o assunto é religião! Eu, por exemplo, conheci o Islam logo depois dos atentados de 11 de setembro. A primeira vez que pisei em uma mesquita foi enquanto assessor de comunicação de uma entidade que compunha o Fórum Contra a Guerra do Iraque, em 2002. A paz e a simplicidade que percebi ali me levaram a estudar o Islam e, em 2008, a fazer a minha profissão de fé, tornando-me muçulmano. Não precisei de orientação ou de estímulo de qualquer grupo terrorista (até porque nunca conheci alguém ligado a grupos terroristas). Como muçulmano, me completei e alcancei um equilíbrio que, cada vez mais, busco aprimorar. Isso se dá porque o Islam não é apenas uma religião, mas um sistema de vida completo, que regula nossas ações em todos os aspectos, individuais, familiares, sociais, políticos, econômicos. A origem do aprofundamento do ódio O imperialismo precisava de um novo inimigo depois da Guerra Fria e elegeu o Islam. Isso permite que se mantenham as estruturas de uma guerra contínua, gerando exorbitantes lucros à indústria bélica. O que não se esperava era que todos os ataques através da mídia e da indústria cinematográfica, as perseguições, a criação planejada de “grupos terroristas” e as invasões de países de maioria muçulmana, não fossem capazes de impedir a conversão de cada vez mais pessoas em toda a Terra! Aqui no Brasil não será diferente, especialmente quando o povo souber que o Islam impede a imposição da religião e garante a liberdade de culto, proíbe a discriminação racial, defende a participação da comunidade nas decisões políticas e na escolha de seus representantes, afirma que a propriedade deve ter caráter social e que a terra deve ser produtiva, que muitas das pautas feministas já eram atendidas no tempo do Profeta Muhammad (Que a Paz e as Bênçãos de Deus estejam sobre ele) e que a cobrança de juros é pecado! Imaginem o povo brasileiro tomando consciência de que quase a metade de toda a riqueza produzida pela classe trabalhadora é entregue de bandeja aos especuladores rentistas através do pagamento de juros e que para os muçulmanos isso é proibido! Por isso, insisto que a histeria fascista de uma suposta “islamização” do Brasil não passa de tática para escamotear a falência do sistema. A maior propaganda para o crescimento do Islam no Brasil é, justamente, o fracasso do modelo atual. Querem barrar o crescimento do Islam? É simples: vivam e apliquem os verdadeiros ensinamentos de Jesus (Que as Bênçãos de Deus estejam sobre ele), abandonem a intolerância, a xenofobia, o racismo e o machismo, construam uma sociedade de amor e igualdade. Nós, muçulmanos e muçulmanas, ao lado de cristãos que verdadeiramente vivem o Evangelho, espíritas, adeptos do candomblé, budistas, seremos muito felizes por poder viver num país assim, mesmo que sejamos a menor das minorias. *Membro do Coletivo Muçulmanas e Muçulmanos Contra o Golpe Foto: Reprodução Facebook Direita São Paulo