Governo brasileiro causa tensão na ONU por defender exclusão do termo "gênero"

A cruzada da diplomacia de Ernesto Araújo contra uma suposta "ideologia de gênero" gerou surpresa e risos entre diplomatas na ONU

Foto: Cleia Viana/Câmara dos Deputados
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Seguindo orientação dada pelo governo Bolsonaro, os representantes do Brasil na Organização das Nações Unidas (ONU) implementaram nesta quinta-feira (27) uma patrulha contra o termo "gênero" nas resoluções da organização. O fato chocou diversos países, que se opuseram radicalmente à nova postura da diplomacia brasileira. Segundo o jornalista Jamil Chade, do UOL, a diplomacia brasileira travou um debate inédito solicitando a retirada do termo gênero das resoluções de reunião convocada para debater os direitos humanos de pessoas deslocadas - seja por conflitos armados ou questões ambientais. Muitos países consideram que as mulheres são as mais afetadas por essas questões. A diplomacia olavista de Ernesto Araújo, no entanto, condenou o uso de qualquer referência que ao termo, argumentando que é uma construção social e o que deve ser levado em conta é o sexo natural da pessoa. Para solucionar, o Brasil pediu a utilização de "igualdade entre homens e mulheres". A sugestão, que teve apoio integral da Arábia Saudita, surpreendeu os presentes e gerou total rechaço de países europeus, como Noruega, França, Finlândia, Dinamarca e Suíça. Qualquer mudança defendida pelo Brasil nesse sentido era prontamente rebatida pelo grupo. Em outra reunião, proposta pelo México, que tinha como objetivo tratar da eliminação de descriminação contra mulher, o Brasil voltou com seu arsenal contra a ideologia de gênero, causando, inclusive, risos entre os representantes presentes. A diplomacia de Araújo exigiu, entre outras mudanças, a troca de "treinamento com base em gênero" para "o treinamento que leve em conta temas de mulheres". Quase todos os países presentes, incluindo aliados como Chile, Israel e Argentina, criticaram duramente as posições tomadas pelo Brasil na reunião. Segundo o Uruguai, o Brasil buscava eliminar o "centro da resolução".