Imprensa internacional vincula escolha de Moro à prisão de Lula

Veículos tradicionais como Le Monde, El País, Financial Times, BBC, entre outros, criticam o fato de Sérgio Moro ter aceitado o ministério de Bolsonaro, destacando que o juiz foi o responsável pela prisão do ex-presidente

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Não poderia ser pior a repercussão internacional da escolha de Sérgio Moro para ser o ministro da Justiça de Jair Bolsonaro. Alguns dos principais veículos espalhados pelo mundo veicularam em seus portais que o juiz só foi convidado para o caro, e com amplos poderes, porque prendeu o ex-presidente Lula e, com isso, facilitou a vitória do militar. O francês Le Monde, já antes da confirmação, publicou: “Será que foi por ter emprisionado o líder da esquerda brasileira que o magistrado será recompensado por Jair Bolsonaro?”. O título do texto era: “No Brasil, as ambiguidades do juiz anticorrupção Sergio Moro com a extrema direita”. Com a ratificação de Moro, o Le Monde ironizou as escolhas de Bolsonaro para sua equipe de ministros: “Brasil: militar, juiz anticorrupção, astronauta... os futuros ministros do governo Bolsonaro”, se referindo ao general Augusto Heleno (ministro da Defesa), o astronauta Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia) e Sergio Moro. O jornal chama Bolsonaro de “extrema direita” e ressalta que Moro condenou Lula. O El País, da Espanha, colocou em sua manchete: “O juiz que encarcerou Lula da Silva aceita ser Ministro da Justiça de Bolsonaro” e chama o militar de “herói do antipetismo”. No Financial Times, da Grã-Bretanha, o título da reportagem foi: “Bolsonaro nomeia juiz que ajudou a prender Lula”. Da mesma forma, também do Reino Unido, o The Times afirmou em sua manchete: “Bolsonaro promete emprego sênior para o juiz que prendeu o seu rival”. O autor da matéria, Stephen Gibbs, por meio de sua conta no Twitter, disse: “No fim da nossa conversa com o juiz Moro, ele falou que não se candidataria para a presidência do Brasil, como muitos tinham-no encorajado a fazer, e que isso atrapalharia a lei. Contudo, ele acaba de aceitar um cargo no governo Bolsonaro como ministro da Justiça”. O portal da BBC destaca que o “maior escalpo” obtido por Moro foi do “esquerdista Luiz Inácio Lula da Silva, o líder nas eleições antes de sua condenação a 12 anos de prisão por corrupção em abril passado”. “Grande erro” Michael Reid, editor da tradicional revista britânica The Economist, definiu a escolha de Moro para o ministério como “um grande erro. Agora a prisão do Lula parece um ato político”. Já o texto da agência notícias AP, dos Estados Unidos, afirma que “Moro condenou políticos de diversos espectros políticos. Mas tomou decisões que muitos interpretam como enviesadas. Para Moro pessoalmente, que agora vai se tornar um político parte de um governo, e para o futuro da Lava Jato, a decisão traz grandes riscos”. Outra agência de notícias, a Bloomberg, especializada em economia, a indicação menciona os “benefícios para Bolsonaro, que são óbvios: escolher um herói da lei e ordem é uma aposta segura para aumentar o apoio da sua base conservadora”. Na Itália, por sua vez, onde a Lava Jato sempre é comparada à Operação Mãos Limpas, o site da rede de TVs e rádios RAI veiculou uma reportagem tentando explicar a questão brasileira. “Desde que a Lava Jato começou em 2014, caíram políticos de todos os lados, mas Moro é acusado de ser particularmente impiedoso com a esquerda, especialmente com o ex-presidente Lula”.
O Digital Journal, do Canadá, ressalta que Moro vai liderar um “superministério”, que vai combinar Justiça e Segurança Pública, alimentando acusações de que a "Operação Lava Jato foi politicamente motivada e visou, desproporcionalmente, políticos de esquerda no Brasil". O portal de um dos jornais de maior circulação da Argentina, o Clarín, destacou a atuação de Moro na Lava Jato, mas também o citou como fator de interferência e influência nas eleições presidenciais brasileiras. O jornal relembrou a divulgação da delação premiada de Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda, que foi autorizada pelo juiz, poucos dias antes da votação do primeiro turno. “A decisão de Moro o tornou novamente um protagonista controvertido”, diz a publicação.