PEDRA CANTADA

Ataque de Israel fortaleceu linha dura que quer o Irã com a bomba atômica

Novo conflito é uma questão de tempo?

Objetivo.Cartaz no Irã diz que a luta contra Israel é "batalha sagrada".Créditos: Luiz Carlos Azenha
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Depois do inesperado ataque militar de Israel, com apoio dos Estados Unidos, o Irã deu um leve passo em direção à possibilidade de desenvolver a bomba atômica.

O Parlamento do país suspendeu sua relação com a Agência Internacional de Energia Atômica, que retirou todos os seus inspetores de território iraniano -- eles estavam lá enquanto Israel e EUA atacavam.

O Irã acusa a AIEA de ter "endossado" o ataque de Israel.

No dia 12 de junho, por 19 votos a 3 e 11 abstenções, o conselho diretor da AIEA aprovou uma resolução de censura ao Irã. 

China e Rússia votaram contra e o Brasil se absteve.

O diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, afirmou então:

Infelizmente, o Irã repetidamente não respondeu ou não forneceu respostas tecnicamente confiáveis às perguntas da agência. Também buscou higienizar os locais, o que impediu as atividades de verificação da Agência.

Ele se referia à presença de partículas de urânio em instalações de Varamin, Marivan e Turquzabad.

Israel atacou o Irã um dia depois do voto de "censura" da AIEA.

O Irã não rompeu com a AIEA, nem se retirou do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares.

Pela decisão do Parlamento:

A instalação de câmeras de vigilância, as inspeções e os relatórios à agência serão interrompidos a menos que a segurança futura das instalações nucleares do Irã seja garantida.

No Parlamento foram feitos pedidos para que o diretor-geral da AIEA seja investigado por mentir em seus relatórios e trabalhar para a inteligência de Israel, o Mossad.

Onde está o urânio enriquecido?

O diretor-geral da AEIA sustenta que o Irã tem ao menos 400 quilos de urânio enriquecido a 60%, um grau pouco abaixo do necessário para produzir bombas atômicas.

O país teria feito isso depois que os Estados Unidos se retiraram de forma unilateral do acordo nuclear que limitava o grau de enriquecimento de urânio, em 2018.

A ausência de inspetores da AIEA em solo significa não apenas que o destino deste urânio continuará sendo um mistério, mas que o grau de destruição das instalações nucleares do Irã seguirá sendo duvidoso.

Donald Trump diz que elas foram "obliteradas", mas avaliações do próprio governo estadunidense colocaram isso em dúvida.

O Irã admite que as instalações foram "gravemente danificadas", embora não haja registro oficial de vazamentos de radiação.

Debate interno

Farhad Ibragimov, cientista político especialista em Irã, baseado em Moscou, sustenta que o próximo aiatolá do Irã, sucessor de Ali Khamenei, hoje com 86 anos de idade, terá a bomba atômica.

Segundo ele, o debate interno no Irã coloca de um lado a poderosa linha dura da Guarda Revolucionária e os moderados que ainda apostam em algum tipo de arranjo com o Ocidente.

A linha dura estaria em ascensão por conta dos danos e das 935 mortes causadas pela ofensiva de Israel. Se ela se impuser, o Irã fará a bomba.

Diferentemente do que esperava Tel Aviv, o regime dos aiatolás ficou fortalecido depois da Guerra dos 12 Dias.

Até os comunistas do Tudeh, partido banido no Irã, repeliram os ataques de Israel e dos Estados Unidos em nota:

O Partido Tudeh do Irã, ao longo de sua frutífera história, sempre foi e será um defensor da integridade territorial da pátria. Apesar de nossa oposição à República Islâmica, nos opomos categoricamente a qualquer ação agressiva para dividir o Irã e impor forças como monarquistas, mujahedins ou qualquer grupo que não surja da vontade do povo e opere dentro da estrutura dos interesses de potências estrangeiras, como os Estados Unidos.

Ibragimov sustenta que o Irã perdeu totalmente a confiança em Donald Trump, está lambendo as feridas do ataque e se preparando para o próximo:

O foco agora está no fortalecimento da resiliência interna: fortalecer a economia, modernizar as forças armadas e se preparar para o que muitos acreditam ser uma próxima rodada inevitável de confrontos. Crucialmente, o público iraniano não entrou em pânico. Analistas ocidentais avaliaram mal o clima nacional. A longa memória do Irã, sua identidade de 3.000 anos e seu patriotismo profundamente enraizado criaram uma espécie de imunidade coletiva à pressão externa. A República Islâmica não é apenas um regime – ela é vista por muitos como um veículo para a preservação da soberania nacional.

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