“IT WAS A COMPLETE DISASTER”

Trump com aliados da Arábia Saudita (Arquivo)
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Como foi a primeira viagem internacional de Donald Trump? Quais foram os países visitados? Quais são as novidades? Quais são os reflexos imediatos? Por Vinicius Sartorato*, colaborador da Rede Fórum Depois de fazer uma campanha eleitoral polêmica, reconhecida por muitos como populista e até racista - muitas vezes enquadrando mexicanos e árabes como alvos preferenciais, de forma generalizada - Donald Trump abriu sua primeira rodada de viagens internacionais como presidente, tendo eleito a Arábia Saudita como seu primeiro destino. Preocupado com a “polidez saudita”, o mandatário mediu os olhares, os toques, as palavras e até dançou a "Dança das Espadas" ao lado de integrantes da família real. Fatos que surpreenderam o mundo. Procurando mostrar desenvoltura, firmou acordos volumosos no país, que se aproximam a US$400 bilhões, sendo que só no acordo armamentício foram US$100 bilhões. Tal acordo imediatamente despertou a preocupação dos governos da região, em especial, dos iranianos e dos aliados israelenses, que não possuem relações com os sauditas e mostraram-se surpresos. Para os israelenses não existe nenhuma garantia sobre o comportamento dos sauditas. Para que fique claro ao leitor, os aliados dos norte-americanos na região não são necessariamente aliados entre si. Provocando sempre os iranianos, com foco sobre o seu programa de mísseis e a respectiva atuação, direta e indireta, em ações militares e financiamento de células terroristas na região, Trump chegou a Israel. Na teocracia judaica, Trump foi o mais diplomático possível com os anfitriões, demonstrou compromisso com o governo Netanhyahu, sem tocar em questões polêmicas, novamente evitando o tema dos Direitos Humanos e dos assentamentos judaicos na Cisjordânia. Em seu breve encontro com Abbas, o líder da Autoridade Palestina, limitou-se a dizer que ajudaria no processo de paz, evitando qualquer compromisso com a chamada solução de “Dois Estados”, defendida pelos palestinos. Até aí, não houve mudanças profundas na linha política histórica de Washington para região. Já na Europa, o executivo teve um encontro “leve” no Vaticano com o Papa Francisco - encontro que em nada refletiu o seu festival de polêmicas em Bruxelas (na Cúpula da OTAN) e na Itália (no Encontro do G7). Como se tivesse mudado “da água para o vinho”, Trump foi agressivo com seus aliados europeus. Na inauguração da nova sede da OTAN, cobrou maiores investimentos de seus parceiros, chamou-os de “injustos”, chegando até ao ponto de empurrar o Presidente de Montenegro. No Encontro do G7, entrou em confronto com os alemães – algo nunca visto desde o fim da 2ª Guerra Mundial. Isso gerou uma série de declarações públicas entre ele, Merkel e seus ministros. Em síntese, para o Oriente-Médio, Trump demonstrou o retorno da política tradicional de seu país para região, sinalizando maior alinhamento com os sauditas e israelenses, contrastando com a política de Obama e dos europeus de maior aproximação com o Irâ e os palestinos. Já no continente europeu, abriu uma perspectiva futura de conflitos diplomáticos, em especial sobre sua postura com os mercados globais e aspectos comportamentais, sendo o rompimento do Acordo Climático de Paris apenas a “gota d’água”. Em uma simples conclusão, a viagem de Trump “foi um completo desastre” para paz, para autodeterminação dos povos, para os direitos humanos e para o meio-ambiente. *Vinicius Sartorato é Sociólogo, Mestre em Políticas de Trabalho e Globalização, pela Universidade de Kassel (Alemanha) Foto: The National