Médico italiano, sobre combate ao coronavírus: “como na guerra, temos que escolher a quem tratar e a quem não”

Christian Salaroli, que trabalha em um hospital militar de Milão, recomendou que a melhor forma de evitar o contágio é não saindo de casa. “Vocês não podem imaginar o que está acontecendo”, afirmou

Foto: agência ANSA
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“O que estamos vivendo é assustador, vocês não podem imaginar o que está acontecendo aqui”. Essas foram as palavras do médico Christian Salaroli, que trabalha no hospital militar de Milão, na Lombardia, a região da Itália mais afetada pela epidemia do coronavírus.

Em entrevista publicada nesta segunda-feira (9) pelo jornal Corriere della Sera, Salaroli fez uma analogia sobre a crise de saúde no país devido ao coronavírus. “Como na guerra, devemos escolher quem tratar e quem não, de acordo com a idade e as condições de saúde”.

O médico conta que ele e seus colegas devem selecionar entre os pacientes mais graves, os que podem ou não utilizar os equipamentos de ventilação mecânica, necessários para tratar de alguns casos mais graves.

“Somos obrigados a escolher no máximo dois dias para cada paciente. A ventilação é apenas uma fase, o primeiro passo. Como, infelizmente, há uma desproporção entre recursos hospitalares, leitos de reanimação e pacientes críticos, nem todos podem usar esse recurso”, lamentou Salaroli.

O médico também afirmou que os casos de pacientes com mais de 80 costumam ser os de menor prioridade. “Se uma pessoa entre 80 e 95 anos apresentar insuficiência respiratória grave, é provável que não utilizemos (ventilação mecânica)”, explica, Salaroli

Na entrevista, o médico também reclama que ele e seus colegas estão sofrendo “uma pressão emocional excessiva”. Em seu relato, ele conta que “vi enfermeiras com 30 anos de experiência chorando nos corredores, eu sou um médico jovem, mas até para os mais veteranos, a decisão sobre o destino de um ser humano é um peso muito grande”.

A Itália é o terceiro país com maior número de casos de coronavírus, com pouco mais de 9 mil casos. Porém, a taxa de mortalidade do vírus no país, é de 5,8%, superando inclusive a da China, que chegou a 3,9% em fevereiro, mas que vem diminuindo nas últimas semanas. Por essa razão, o governo do país decretou alerta vermelho, colocando mais de 15 milhões de pessoas em quarentena.