O que está acontecendo em Cuba com as novas manifestações contra o governo

Nas redes, protestos parecem maiores do que são, mas nem todas as demandas são ilegítimas, conforme aponta o próprio presidente

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No final de semana, explodiram vídeos e fotos nas redes sociais sobre as manifestações que surgiram em Cuba contra a situação que o país comunista enfrenta. Para além da real mobilização que ocorreu, muitas imagens replicadas nas redes vinham de outros países, em uma tentativa de aumentar a dimensão do protesto. Isso fez com que o presidente Miguel Diaz-Canel convocasse a militância a defender o regime.

A razão das manifestações em Cuba

Informe elaborado pelo Centro Latino-Americano de Geopolítica (Celag) aponta que a razão dos protestos está centrada nos cortes elétricos ocorridos no últimos dias e na escassez de alimentos e medicamentos. Segundo o instituto, as manifestações realizadas em Cuba seguem em pequenas dimensões, apesar da ampla difusão nas redes.

Influenciadores digitais turbinaram hashtags sobre os atos e, com o auxílio de informações falsas (principalmente imagens descontextualizadas), criaram um outro sentido para as mobilizações nas redes. A Celag aponta, inclusive, que os atos não tinham como ponto central o fim do regime.

Embargos contra Cuba

Há uma relação direta dos embargos econômicos que Cuba sofre com a situação que levou alguns grupos às ruas. O ministro de Minas e Energia, Liván Arronte, apontou nesta segunda-feira (12) que as falhas no sistema elétrico se devem ao bloqueio, afinal os Estados Unidos limitam o acesso a créditos, financiamento, peças sobressalentes e tecnologias. Mesmo assim, Arronte garantiu estabilização.

O presidente Díaz-Canel também cobrou o fim do embargo contra Cuba- demanda que voltou a ter respaldo na Organização das Nações Unidas. “Se querem fazer um gesto, se querem realmente preocupar-se com o povo, se querem resolver os problemas de Cuba: acabem com o bloqueio. Por que não o fazem? Por que não têm coragem de levantar o bloqueio? Que fundamento legal e moral sustenta que um governo estrangeiro possa aplicar essa política a um país pequeno e em meio a situações tão adversas? Isso não é genocídio?”, disse Diaz-Canel no domingo, mirando os EUA.

O mandatário convocou a população às ruas em respostas ao que configurou como “contrarrevolucionários”. A resposta veio, mas as tensões ainda pairam no ar.

Cuba x Trump e Biden

O presidente dos EUA, Joe Biden, se manifestou publicamente sobre os protestos dizendo que o país está “ao lado do povo cubano”. O mandatário “conclamou” o governo da ilha “a ouvir seu povo e a servir suas necessidades neste momento vital, em vez de enriquecer”.

Biden mantém a rígida política anti-Cuba que foi impulsionada pelo antecessor, Donald Trump, que chegou a incluir Cuba na lista de países patrocinadores do terrorismo. Durante a pandemia de Covid-19, as novas sanções impostas pelo republicano dificultaram ainda mais a situação do país, que foi referência no combate ao Sars-Cov-2.

Conforme apontou Francisco Dominguez, da REDH, em entrevista ao Globalistas, da TV 247, "a situação de Cuba piorou significativamente com as sanções que aplicou Trump". "Os principais alvos do governo Trump foram o turismo e as remessas que os cubanos enviavam a familiares no país, o que financiava pequenos empreendedores", declarou aos jornalistas Nathália Urban e Brian Mier.

A pandemia provocou um novo corte no setor turístico, o que também impactou fortemente na economia.

Problemas em Cuba

O governo de Cuba, no entanto, não jogou toda a responsabilidade sobre a ação de estrangeiros e reconheceu a legitimidade de algumas demandas levantadas pelos grupos insurgentes nas manifestações em Matanzas e Ciego de Ávila.

"Temos sido honestos, temos sido transparentes, temos sido claros e em todos os momentos temos explicado ao nosso povo a complexidade dos momentos atuais", afirmou Canel.

O presidente sinalizou que está aberto ao diálogo com a população, mas condenou a ação de "aqueles que sempre apoiaram o bloqueio, os que serviram como mercenários, lacaios do império ianque", que estariam se aproveitando das tensões.

Vacinas e rebrote

Após uma resposta sanitária que foi referência no mundo, a ilha comunista tem sofrido abalos no início deste segundo semestre de 2021. Essa situação está entre as pautas dos manifestantes de Matanzas, que se aproxima de um colapso no sistema de saúde.

Mesmo com a autorização da primeira vacina totalmente produzida na América Latina, novas medidas de controle sanitário estão sendo adotadas para impedir o avanço do Sars-Cov-2. O governo não quer mais que nennhum infectado permaneça em casa sem tratamento. Com 92% de eficácia, a Abdala vai começar a ser aplicada em massa.

Cuba e Colômbia

Enquanto a mídia internacional se preocupa com as manifestações em Cuba, a situação gravíssima da Colômbia parece que saiu do radar. A repressão do governo fascista de Iván Duque à greve geral deixou ao menos 74 mortos, segundo a ONGs de direitos humanos, e forçou uma visita da Corte Interamericana de Direito Humanos (CIDH). Além disso, já são 50 massacres em 2021, com 189 vítimas. Em 2020, foram 91 episódios do tipo.

Isso, no entanto, parece não ter a mesma importância que atos em Cuba. Biden, inclusive, nunca condenou essa repressão.

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