O voto latino da Flórida deve decidir o próximo presidente dos EUA, por Heloisa Villela

Os democratas desistiram do voto dos cubanos radicados no estado e se voltaram para os porto-riquenhos

Joe Biden e Donald Trump (Montagem)
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O resultado da briga pelo voto latino da Flórida pode decidir quem vai morar na Casa Branca a partir do ano que vem. E os democratas deixaram claro, essa semana, que apostam em uma nova estratégia. Desistiram dos cubanos radicados no estado e se voltaram para os porto-riquenhos. Ao invés de fazer campanha no sul da Flórida, na área em torno de Miami, eles buscam votos na região central do estado que tem Orlando como âncora.

Faz mais de um mês que uma gafe dessas inesquecíveis de Joe Biden sugeriu a mudança de rota. Ele disse que os latinos não formam um bloco coeso. Ao contrário dos africanos, eles vêm de diversos países... Oh Joe Biden. A África é o continente que tem mais países no mundo. São ao todo 54. Mas a gafe só indicou que a campanha do democrata estava de olho nessa diversidade e credita ser possível vencer na Flórida sem o apoio do grupo mais conhecido e que posa como definidor da tendência política dos latinos do estado: os cubanos.

No segundo mandato de Barack Obama, quando Biden era vice, os Estados Unidos deram início a uma reaproximação com Cuba, secretamente facilitada pelo Papa Francisco. Obama se encontrou com Raul Castro em julho de 2015 e foi o primeiro presidente dos Estados Unidos a visitar a ilha desde 1928. Ele desembarcou em Havana em março de 2016. As restrições nas trocar comerciais entre os dois países foram afrouxadas mas voltaram à estaca zero depois da posse de Donald Trump.

O que importa é que naquele momento o partido democrata, comandado por Obama, decidiu que os cubanos da Flórida já não eram, ou não deveriam ser, uma força dominante na política interna dos Estados Unidos. Uma aposta que será testada agora, nas urnas, no dia 3 de novembro. E os democratas latinos da Flórida começam a se animar com a perspectiva de ajudar a selar a vitória de Biden.

A Flórida tem 29 votos no Colégio Eleitoral, como Nova York. Mais do que eles, só a Califórnia (55) e o Texas (38). Desde 1924, todo presidente eleito no país venceu na Flórida. Na convenção do partido republicano, logo na primeira noite, Trump escalou um cubano-americano para discursar. Foi aquela conversa de sempre. O perigo vermelho, etc. Como se estivéssemos ainda nos tempos da Guerra fria.

Esta semana Joe Biden fez campanha na Flórida. Mas não foi a Miami. Ele visitou Kissimmee, cidade que fica a três horas e meia de Miami, de carro, e de Orlando, só trinta minutos. Ali fica o coração do voto porto-riquenho do estado. Um eleitorado já rompido com Trump, que não socorreu a ilha depois da devastação provocada pelo furacão Maria, em 2017.

Agora Biden aposta na força desse voto para capitanear um bloco mais expressivo de latinos da Flórida em novembro. Um grupo que tem mais afinidade com a maioria dos latinos do país. Se levar a Flórida sem os cubanos, será um feito e tanto. Vai entrar para a história eleitoral como o ano em que os cubanos anticastristas finalmente perderam a hegemonia eleitoral nos Estados Unidos. Seria a consagração de uma estratégia democrata que começou a se desenhar no governo Obama. Com certeza, com base em pesquisas detalhadas que já apontavam essa possibilidade. A resposta vem em novembro. E como qualquer eleição, é impossível prever qual será o resultado.