Quase a totalidade das reportagens que citam o Brasil no exterior foram negativas, diz estudo

O documento, feito pela consultoria Curado & Associados, especializada em gestão de imagem e reputação, aponta que o Brasil vive uma "crise de reputação"

Jair Bolsonaro - Foto: Reprodução
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“Quase a totalidade das 1.179 matérias que citaram o Brasil ao longo de 2020 foi negativa – 92%”. Esta é a primeira frase do estudo feito pela consultoria Curado & Associados, especializada em gestão de imagem e reputação.

O documento aponta que o Brasil vive uma "crise de reputação" e prossegue:

“A imagem do governo que prevaleceu ao longo do ano foi de incompetente e vulnerável, qualidades analisadas na gestão. No aspecto ético, o atributo irresponsável manteve média de 20% de participação ao longo de todo o ano.”

O estudo analisou textos de 7 veículos internacionais de reconhecida relevância e com pluralidade de linha editorial: The New York Times e The Washington Post (Estados Unidos), The Guardian e The Economist (Inglaterra), El Pais (Espanha), Le Monde (França), e Der Spiegel (Alemanha).

Das 1.179 matérias publicadas, foram 1.088 negativas (92%) e 91 positivas (8%). Entre as negativas, 52% de gestão da pandemia. No tema “outros”, destaque especial a matérias sobre a crise econômica do Brasil sem o contexto da pandemia e de violação a direitos humanos.

O estudo aponta que o país registrou seus piores índices de imagem entre abril e junho, auge da primeira onda de Covid19 no Brasil. A imagem voltou a patamares mais críticos a partir de setembro, com cobertura bastante desfavorável sobre a política ambiental do governo federal (Amazônia e Pantanal).

A análise das publicações feita pela consultoria chegou a um índice de imagem - chamado de índice de Valor, Gestão e Relacionamento (iVGR) - de -3,38, numa escala que vai de -5 a +5. Pela metodologia do índice, criado em parceria com estatísticos da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), as crises de imagem começam quando o indicador está abaixo de -2.

O patamar negativo foi mantido nos 12 meses do ano, o que pode ser visto como indicativo de crise, segundo a fundadora da consultoria, Olga Curado.

Para o professor Anthony Pereira, do Brazil Institute e do Department of International Development do King's College de Londres, a imagem negativa do governo brasileiro lá fora se deve não apenas por causa dos dados. "Os discursos também contribuem para isso, como o de que as ONGs incentivam a queima da floresta e o de que os dados sobre do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe) são uma mentira. Esse discurso negacionista e o desmantelamento da infraestrutura de combate a incêndios geraram essa imagem. Fora as falas nas áreas de direitos humanos e política externa", afirmou Pereira.